O governo Lula (PT) passou a omitir os temas das pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto para captar a opinião da população sobre políticas públicas e outros assuntos. Até setembro de 2024, ainda era possível localizar os tópicos das sondagens nos documentos de pagamento disponíveis no site da Secom (Secretaria de Comunicação Social). Desde então, os registros passaram a indicar apenas se a pesquisa foi feita por telefone ou presencialmente e em qual região ocorreu, sem detalhar os assuntos abordados.
Questionada, a Secom, sob comando de Sidônio Palmeira, não respondeu à reportagem. Em processos administrativos, a pasta alega que os levantamentos são documentos preparatórios e, por isso, não devem ser divulgados.
Em agosto de 2023, a Folha havia revelado que o governo investigou a opinião pública sobre o conflito no Oriente Médio, o Novo PAC, ações federais em enchentes no Rio Grande do Sul e até a Operação Sequaz da Polícia Federal, sobre plano do PCC contra autoridades como o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Após essa divulgação, a Secom deixou de registrar os temas nos documentos de pagamento e também evitou detalhá-los em respostas via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Desde setembro, foram contabilizadas 41 pesquisas pagas pela Secom, sendo ao menos cinco presenciais e o restante por telefone. O governo fundamenta a negativa de transparência em parecer da Controladoria-Geral da União (CGU), que classifica as pesquisas como documentos preparatórios, com risco de distorção caso divulgados antes da implementação das políticas públicas. A CGU sugere que os relatórios só sejam divulgados ao fim do mandato presidencial ou após a execução das ações.
Apesar disso, especialistas afirmam que a posição da CGU não impede a divulgação dos temas e roteiros. A Folha voltou a solicitar os dados, argumentando que qualquer pessoa entrevistada tem acesso às perguntas feitas. A Secom reafirmou a negativa, mantendo o sigilo.
As pesquisas são realizadas pela Nexus, empresa da FSB Holding, que venceu licitação em 2022 ainda sob o nome de IPRI. O contrato, no valor de R$ 11,9 milhões anuais, já recebeu quatro aditivos e vale até março de 2026.
Sob Jair Bolsonaro (PL), as pesquisas foram liberadas via LAI. Entre os temas abordados estavam o Auxílio Brasil, conjuntura nacional e juventude. Um levantamento feito em julho de 2022, três meses antes das eleições, mostrou que 33% dos entrevistados responsabilizavam Bolsonaro pela inflação, seguido da pandemia (22%) e dos governadores (18%). Na ocasião, 2.002 pessoas foram ouvidas em todas as regiões do país.
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