Smart Sampa não reduziu criminalidade em São Paulo, aponta estudo

Lançado em 2024, o programa Smart Sampa, que utiliza até 31 mil câmeras e reconhecimento facial na capital paulista, não demonstrou impacto na redução dos principais indicadores de criminalidade, segundo a pesquisa “Smart Sampa vigia, mas não protege”, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). O estudo analisou dados de março de 2024 a abril de 2025, após mais de um ano de operação, e concluiu que as taxas de furtos, roubos ou homicídios não sofreram queda significativa que possa ser atribuída ao sistema.

O CESeC utilizou a metodologia estatística Diferença em Diferenças (DiD), comparando São Paulo com cidades do interior do estado (grupo de controle) que não implementaram o sistema. A análise mostrou que a taxa de furtos aumentou levemente, mas sem significância estatística. As taxas de homicídios e assaltos permaneceram estáveis. Não houve aumento relevante na produtividade policial, medida por prisões em flagrante ou cumprimento de mandados judiciais.

A coordenadora da pesquisa, Thallita Lima, afirmou que o monitoramento visual em larga escala não substitui uma política pública de segurança efetiva e opera como um “mecanismo de controle simbólico” que projeta a ideia de ação pública sem resultados concretos.

Contagem de prisões

A Prefeitura de São Paulo, que investe cerca de R$ 10 milhões por mês no programa, contesta a metodologia do estudo, alegando que ele utiliza “comparações inadequadas” (comparando a capital com cidades do interior) e ignora os resultados absolutos da operação.

Segundo a Administração municipal, 2.965 criminosos foram presos em flagrante, 1.558 foragidos da Justiça foram capturados (homicidas, estupradores, traficantes, entre outros) e 79 pessoas desaparecidas foram localizadas. A prefeitura também apontou que o sistema tem sido fundamental para o trabalho de investigação da Polícia Civil, com o compartilhamento de imagens de 275 ocorrências de novembro a maio.

No entanto, o CESeC rebate, alegando que listar números absolutos de prisões não mensura o impacto na redução criminal e que as prisões divulgadas refletem a continuidade da atuação policial, e não uma mudança causada pela tecnologia.

Aumento de homicídios

Um balanço da Secretaria da Segurança Pública (SSP) corrobora parte da tese do CESeC, mostrando um aumento nas ocorrências no primeiro semestre de 2025 em comparação com 2024.

  • Homicídios Dolosos: aumento de 12,2%, passando de 221 para 248 registros.
  • Furtos: aumento de 3,8%, passando de 119.112 para 123.734 ocorrências.
  • Roubos: queda de 13,8%, passando de 58.474 para 50.358 ocorrências.

A pesquisa do CESeC também enfatizou o potencial de viés racial do sistema de reconhecimento facial, citando um estudo do MIT de 2018 que mostrou que algoritmos erravam em até 34% ao identificar mulheres negras, mas apenas 1% com homens brancos. A prefeitura nega o viés, afirmando que o Smart Sampa é um sistema avançado que “não utiliza cor da pele como critério, trabalhando apenas com pontos biométricos faciais” e que todos os alertas são validados por agentes humanos, garantindo uma assertividade de 99,5%.

No entanto, um relatório da própria prefeitura de junho detalhou erros de condução para averiguação, incluindo 53 pessoas liberadas por ausência de baixa de mandados no banco de dados e 6 pessoas liberadas por inconsistências cadastrais.

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