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OrnitoMulheres rompe barreiras de gênero e muda cenário da ornitologia brasileira


Grupo foi criado em 2021 como rede de apoio para observadoras de aves e hoje conta com quase 400 integrantes do Brasil todo. Palestra no Avistar 2023.
Fernanda Machado
Os desafios das mulheres na sociedade são muitos. A busca por direitos iguais, oportunidades, visibilidade, respeito e dignidade são alguns exemplos, mas a lista é grande e não para por aí. No mundo da ornitologia e da observação de aves, profissionais da área também encontram dificuldades para ocupar espaços de discussão e decisão, seja dentro da academia ou em grandes eventos. É diante desse cenário que surgiu o OrnitoMulheres em 2021, ainda durante a pandemia.
Uma das idealizadoras do grupo, a bióloga Shirliane Araújo, conta que tudo começou com a própria história de vida dela, quando ainda era estudante de graduação. “Quando eu frequentava os Congressos Brasileiros de Ornitologia eu não me sentia representada dentro da minha área. Quase não via mulheres inseridas na programação, dando palestras e cursos, e quando tinha eram poucas. Conforme eu ia participando dos eventos e conhecendo outras mulheres, fui percebendo que os discursos e as dificuldades delas coincidiam com a minha própria história. Essa falta de representatividade era um dilema de todas. Então um problema que eu pensava que fosse pessoal, na verdade era um problema global”, explica Shirliane.
Professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Shirliane conta que a socialização com outras mulheres e a exposição dos problemas encontrados contribuiu para a criação da rede de apoio OrnitoMulheres. “Nós conseguimos entender a origem de cada um desses problemas e propor alternativas para resolvê-los. Não basta só identificar, precisar ir mais a fundo. Hoje nós conhecemos mulheres do Brasil inteiro que são ornitólogas ou que apenas gostam de observar aves, sabemos de onde elas são, o que elas fazem, a história delas. Isso traz visibilidade para o trabalho delas e preenche de certa forma a lacuna que encontramos dentro da ornitologia relacionada ao gênero”, conta.
Também fundadora do grupo, a bióloga Daniella França lembra que a pandemia foi um período difícil para as mães ornitólogas. “Nos vimos em um labirinto, precisávamos cuidar dos filhos, dos entes queridos e de nós mesmas, além de produzir cientificamente e contribuir com a academia. Muitas mulheres estavam abandonando suas carreiras, deixando de observar aves. Muitas até desistiram de ingressar na ornitologia porque achavam que aquilo não era para elas”, aponta. Especialista no estudo de répteis, anfíbios e aves, Daniella explica que a criação do OrnitoMulheres foi fundamental enquanto rede de apoio e incentivo. “Começamos a nos mobilizar pelo WhatsApp e hoje o grupo já tem quase 400 mulheres.
COMO FAZER PARTE
Como tudo começou.
Fernanda Machado
Se você é ornitóloga ou se apenas gosta de observar aves, já basta para participar da rede OrnitoMulheres. De acordo com Daniella França, que é ativista pelo direito das mulheres na ciência, o processo de inscrição pode ser feito via formulário que está na bio do instagram (@ornitomulheres) ou através de uma mensagem no direct. “É para qualquer mulher que goste de passarinho e que queira participar com a gente”, pontua.
O FUTURO
Criado com o objetivo de combater a disparidade de gênero e ao mesmo tempo angariar apoio para divulgar e incentivar as mulheres da ornitologia, o grupo OrnitoMulheres tem como meta agora criar um Comitê de Diversidade. “Temos criado um banco de dados de mulheres ornitólogas no Brasil para deixar disponível quando tiver um evento como o Avistar. É uma forma de fazer com que as pessoas conheçam essas mulheres para que elas sejam procuradas e estejam envolvidas na programação, ”. No Avistar 2023, que ocorreu entre os dias 19 e 21 de maio no campus da USP, em São Paulo, quatro integrantes puderam apresentar cinco palestras.
Mulheres e natureza: união de muita força!
Fernanda Machado
• Conhecendo a Rede OrnitoMulheres – Daniella França
• Machismo estrutural na ornitologia – Daniella França
• Quem são e onde estão as OrnitoMulheres – Viviane Kupriyanov
• Maternidade e trabalho entre as OrnitoMulheres – Flávia Martins
• Assédios na carreira das ornitólogas – Flávia Vieira
“É como uma rede de apoio e afeto. A gente precisa se abraçar, se gostar, compreender a dificuldade da outra e estender a mão quando outra mulher precisar de ajuda. A dificuldade não é isolada, é coletiva”, destaca Shirliane.
Para Daniella França, levar essa temática para o Avistar foi muito desafiador e emocionante. “Os organizadores do evento nos incentivaram muito a falar do OrnitoMulheres. Foi lindo porque pudemos nos abraçar pela primeira vez e conhecer mulheres com trabalhos fantásticos. Nunca esse tema havia sido abordado de forma tão detalhada em eventos de ornitologia. Gostaria de agradecer o apoio de todas que fazem o grupo acontecer”, diz.
Em agosto de 2021, o grupo marcou presença no XXVII Congresso Brasileiro de Ornitologia, realizado em Gramado (RS) com a apresentação do estudo intitulado “Onde estão as ornitólogas e observadoras de aves do Brasil? Uma análise preliminar sobre a representatividade feminina”. O trabalho foi apresentado pela pesquisadora Clarissa Santos, mas foi assinado por 24 ornitólogas e observadoras de aves. Este feito, somado com a oportunidade de levar a rede OrnitoMulheres para o maior encontro de observadores de aves do Brasil, certamente é uma grande conquista. Mas é como elas mesmas dizem: “Nosso bando chegou! Decidimos que era preciso ‘atravessar grades’ e ‘voar alto’ para conquistas espaços físicos e o inconsciente coletivo, que nos foram negados durante toda a história”.
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