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Nova espécie de louva-a-deus é descoberta no Mato Grosso


‘Microphotina cristalino’ recebeu esse nome em homenagem ao principal rio da região e remete ainda à característica translúcida do corpo. Nova espécie de louva-a-deus é descoberta no Mato Grosso
Projeto Mantis
“A gente ainda desconhece a maior parte dos insetos e um animal, uma planta, só podem ser protegidos a partir do momento em que eles são conhecidos. E a descrição científica é uma forma de tornar esse ser conhecido. Conseguir descrever uma nova espécie é muito gratificante, mas também é um trabalho muito complexo que envolve diversas pesquisas e comprovações, o que às vezes pode demorar anos”, explica o pesquisador Leo Lanna.
Foi atrás de desbravar novas áreas e conhecer uma biodiversidade muito pouco explorada que o biólogo, acompanhado do o designer Lucas Fiat, fizeram uma expedição de dois meses em 2021 no norte do Mato Grosso, na Amazônia da RPPN do Cristalina, que ficou conhecida como “Austral: Mantis da Amazônia”. A viagem foi tanto para a realização de um trabalho de mestrado como também do trabalho contínuo que a equipe realiza no Projeto Mantis desde 2015 com pesquisa, conservação e documentação de vida selvagem das espécies de louva-a-deus.
“A gente escolheu esse local, porque praticamente não havia pesquisas com esses insetos por lá e imaginávamos o potencial da área. Dito e feito, acho que nunca encontramos tantas espécies de louva-a-deus em um único lugar, foram 30. A Amazônia do Mato Grosso sem dúvidas foi a mais rica em diversidade que já vimos”, relembra Lana que conta que também avistou antas, queixadas e mamíferos grandes que são cada vez mais raros ou escassos.
Biólogo encontra louva-a-deus-unicórnio no quintal; registro é incomum
O Brasil tem a maior diversidade de louva-a-deus do mundo
Projeto Mantis
O Brasil tem a maior diversidade de louva-a-deus do mundo, mais de 250 espécies, mas cientistas acreditam que o número real deva ser de até 700 espécies.
Entre tantas, uma em especial chamou a atenção. “Eram cinco horas da manhã e estávamos voltando da floresta quando avistamos a espécie na nossa armadilha de luz não-letal no alojamento. Era verde, com antenas e olhos vermelhos. A gente logo reconheceu que era do gênero Microphotina e nunca tínhamos visto nenhuma espécie desse gênero por isso ficamos super felizes”, conta o biólogo.
Ainda de acordo com ele, depois que conseguiram internet e começaram a pesquisar, já imaginaram que poderia ser uma nova espécie sim. “Vimos que não existia registro dessa linhagem de louva-a-deus para o Sul da Amazônia, apenas para o Norte. No Brasil, inclusive, só havia registro por lado do Pará. Como tinha esse grande vazio de distribuição, tinha um potencial para ser uma espécie nova”.
Cerca de dois anos depois após muitas pesquisas e comparações, a publicação do artigo na European Journal of Taxonomy oficializou a descrição da nova espécie: Microphotina cristalino, batizada em homenagem à reserva e ao principal rio da região. O nome também remete à característica translúcida do corpo do inseto.
Espécie vive na copa das árvores
Projeto Mantis
A nova espécie se tornou uma entre as cinco do gênero Microphotina. Esses louva-a-deus são animais que provavelmente vivem nas copas das árvores. “Todos os registros que temos de décadas de pesquisa desse gênero são de insetos encontrados nas armadilhas de luz e nunca na busca pela floresta. Isso faz a gente ter quase certeza que esses louva-a-deus estão sempre nas copas, onde nossos olhos não conseguem enxergar”, explica Lanna, que acredita que a maior diversidade de espécies vivam justamente no topo das árvores, área considerada por muitos como ‘o oitavo continente’.
Além disso, não se conhece nenhuma fêmea, jovem ou os ovos do gênero Microphotina, o que só certifica ainda mais a hipótese. “Entre todas as espécies que conhecemos de louva-a-deus sabemos que em 90% ou mais apenas os machos voam, por isso que encontramos somente eles nas armadilhas. Lembrando que os jovens não possuem asas”, esclarece Lanna.
Exatamente por viver nas partes altas e depender da floresta, o artigo da descrição da espécie, que contou com a colaboração dos especialistas em louva-a-deus João Herculano e Júlio Rivera, e o herpetólogo Pedro Peloso, traz a tona a importância da conservação desse louva-a-deus que é ameaçado por um projeto de lei que pretende retirar o Mato Grosso da Amazônia Legal.
Só é conhecido o macho da nova espécie descrita
Projeto Mantis
“Infelizmente, a região faz parte do infame Arco do Desmatamento, onde a devastação mais avança. O ecótono Cerrado-Amazônia, essa região de contato e troca entre os dois biomas, concentra uma biodiversidade riquíssima e única, porém já perdeu 40% de sua cobertura original. Caso o Estado seja retirado da Amazônia Legal, a previsão é que milhões de hectares sejam desmatados, agravando o cenário”, diz Lanna.
A Amazônia da região do Cristalino possui uma configuração um pouco diferente, com a seca bem demarcada, com alguns meses que praticamente não chove. A descoberta da espécie adaptada a esse clima (diferente das outras regiões da espécie do mesmo gênero) levantou a hipótese de que esse tipo de louva-a-deus também pudesse ser encontrado na Mata Atlântica ou até mesmo em zonas naturais de florestas mais altas do Cerrado e da Caatinga.
A ciência só conhece cinco espécies do gênero Microphotina
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“Essa hipótese se confirmou, porque em Dezembro do ano passado, antes mesmo do artigo sair, encontramos um único exemplar de louva-a-deus semelhante aos Microphotina na coleção na Universidade Federal de Viçosa do museu entomológico, oriundo da Mata Atlântica mineira. Com o achado, estamos iniciando uma parceria com pesquisadores da UFV para desvendar a fauna de louva-a-deus local”, diz.
Além do louva-a-deus cristalino, a equipe já identificou ao menos duas outras novas espécies de louva-a-deus na mesma área, que estão em processo de descrição.
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