• New Page 1

    RSSFacebookYouTubeInstagramTwitterYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTube  

    AGÊNCIA JF | Social - Repositório

A difícil relação de Lula com os militares golpistas (Por Juan Arias)

As investigações sobre o fracassado golpe de 8 de janeiro, recém-iniciadas pelo governo Lula , deixam cada dia mais claro que tudo foi preparado para que, se Bolsonaro perdesse as eleições, os militares impedissem Lula de governar.

Ainda é difícil saber a amplitude dos três corpos do Exército envolvidos no fracassado golpe militar que o bolsonarismo preparava. Não há dúvida, porém, de que tudo já estava organizado para anular as eleições e impedir que Lula tomasse as rédeas do país.

Por isso, com toda certeza, Bolsonaro está às vésperas de ser punido com a inabilitação por oito anos para disputar eleições, caso um juiz não tente prendê-lo por um dos mais de 20 crimes que lhe são atribuídos.

Em meio a evidências crescentes de que Bolsonaro tinha certeza de que os militares o seguiriam em sua tentativa de anular as eleições e impor um governo militar, Lula se vê um tanto preso entre a cruz e a espada com o Exército. Como escreveu Daniel Pereira na revista Veja : “Lula se equilibra entre a sede de vingança e a cautela dos militares”, pois sabe muito bem que eles “não morrem de amores por ele”.

O que Lula talvez não consiga evitar é que os comandantes militares dos quais não há dúvidas de que eram a favor do golpe, sejam punidos com a lei para não dar impressão de fraqueza e medo diante do Exército.

É um equilíbrio difícil e delicado porque, de um lado, Lula venceu as eleições jurando que tentaria reconciliar um país à beira de uma guerra civil, mas sem saber a real força que, uma vez no poder, o extremo golpismo poderia continuar a ter. E qual seria a reação do chamado bolsonarismo de raiz em estreita conivência com uma parte do Exército.

Ao que tudo indica, Lula gostaria de chegar ao difícil equilíbrio de punir duramente os militares que estariam alimentando a ideia do golpe, ao mesmo tempo em que mantém relações cordiais com o restante do Exército, garantindo-lhes que não retirará as regalias que o governo Bolsonaro lhe, e que não foram poucos.

O que não será tão fácil para Lula será retirar do Governo e das instituições do Estado os mais de seis mil militares que foram incorporados por Bolsonaro, a maior parte do tempo com suculentos privilégios  e mantendo seus salários como militares.

Tudo isso vai depender da capacidade de Lula impor sua autoridade e prestígio dentro e fora do país, enfraquecendo um Exército que se sentiu órfão com a derrota do capitão Bolsonaro que de alguma forma, após a ditadura militar, havia colocado as Forças Armadas de volta no poder.

Talvez uma das obsessões de Lula em sua ânsia de estreitar relações com o mundo exterior multiplicando suas viagens aos quatro continentes, se deva, em parte, ao reforço de sua autoridade não só dentro, mas também fora do país.

Tudo isso, porém, conscientemente, por parte da esquerda, principalmente do PT, partido de Lula, jamais será visto com bons olhos pelo Exército em geral, que por instinto e coração continua vendo o velho sindicalista como parte do demônio que deve ser combatido.

O difícil para Lula na posição que assume com os militares claramente golpistas é que ele sabe muito bem que mesmo sendo inelegível, Bolsonaro continuará criando discórdia e unindo a direita contra o espectro do comunismo.

Se, por um lado, a vitória de Lula com a ajuda de um centro democrático enfraqueceu as tramas golpistas das Forças Armadas incitadas pelo derrotado Bolsonaro, por outro, ele se vê na necessidade de pacificar o ainda dilacerado país. Para tanto, terá que vencer a batalha econômica, conquistar a classe empresarial, mais inclinada à direita, e pôr ao seu lado, como sua melhor tropa, o mundo dos mais desamparados, que, no final, , constituem seu verdadeiro Exército.

Em sua frenética atuação no exterior nestes primeiros meses de mandato, Lula deve levar em conta que os militares seguirão seus passos. Daí o fato de que certas atitudes suas na política externa são por vezes vistas com cautela e preocupação, como sua aberta simpatia e até defesa de governantes de países autoritários e até ditatoriais de esquerda .

Sua defesa, por exemplo, do governo venezuelano, negando que seja ditatorial, ou seu apoio aberto a Putin na guerra contra a Ucrânia, ou sua crítica aberta ou encoberta à OTAN e à atitude da Europa em relação ao novo conflito mundial, certamente não será a melhor forma de manter esse difícil equilíbrio de diálogo com as Forças Armadas ou com a direita não bolsonarista que continuará forte e quer voltar ao poder.

Lula, além de ser e se apresentar como um líder mundial, deve ao mesmo tempo entender que o que os brasileiros querem, acima de tudo aqueles que sempre pagaram o preço do abandono por parte de seus governantes, é que ele e seu governo se voltem para a pacificação de um país dilacerado. E que promova uma melhor e mais justa distribuição da riqueza.

(Transcrito do El País)

Adicionar aos favoritos o Link permanente.