• New Page 1

    RSSFacebookYouTubeInstagramTwitterYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTube  

Como o crime organizado usa os recursos da segurança pública

Os 480 militares do Arsenal foram aquartelados quando a ausência das armas foi notadaReprodução: Flipar

O furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri (SP), no dia 10 de outubro, foi o maior deste tipo na história recente. Até o momento, 17 armas foram recuperadas e a principal linha de investigação é que elas iriam para o crime organizado.

As 13 metralhadoras .50 e as 8 metralhadoras 7,62, nas ruas, tem a capacidade de disparar 600 tiros por minuto e derrubar um helicóptero, por isso, foi visto com preocupação pelas forças de segurança e por especialistas na área, a possibilidade delas chegarem nas mãos das organizações criminosas. 

O caso ajuda a chamar atenção para o problema do desvio de armas e munições e o uso da segurança pública como recurso de abastecimento do crime organizado. 

Durante a fase de transição de governos em 2022, o grupo de trabalho da atual gestão divulgou o dado de que, segundo o Exército, 112 armas legais por mês são desviadas para as mãos de terceiros.

Neste mês de outubro, o Instituto Sou da Paz, em conjunto com o governo do Espiríto Santo, concluiu que  5.394 unidades de munições legais foram roubadas, furtadas ou extraviadas para o mercado ilegal do estado em 4 anos, mais especificamente, no período que abrange os anos de 2018 a junho de 2022.

Cooptação das forças de segurança

Para o especialista Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, existem diversos exemplos que mostram  a falta de controle e responsabilidade do que está ao redor da segurança pública e o desvio de armas é mais um deles.

“São armas compradas com dinheiro público para serem usadas na defesa nacional e promoção da segurança sendo desviadas para o crime organizado.” 

No caso de Barueri, chamou atenção armas que chegam a pesar 60kg serem retiradas do paiol onde eram guardadas sem serem vistas, o que leva a suspeita de cooptação de oficiais do exército para fazerem esse trabalho.

“A cooptação pode acontecer com o poder financeiro, onde o crime organizado oferece o valor de 3 anos de salários. E se não funciona, a próxima etapa é a ameaça. É importante lembrar que vários oficiais de baixa patente vivem em comunidades e áreas muito pobres dominadas pelo crime organizado e que todo mundo sabe onde eles trabalham”, explica Bruno. 

Mas o especialista do Sou da Paz faz uma ressalva, dizendo que é um erro atribuir a corrupção de forças de segurança apenas a remuneração. Ele lembra que diversas pesquisas apontam para a falta de punição. 

“Estamos falando de organizações que se submetem muito pouco ao controle social. É por conta disso que muitas vezes temos situações até bizarras. Já houve casos no Rio de Janeiro de suspeita de empréstimo de blindado para facção criminosa.” 

Armas desviadas são brasileiras

Enquanto há uma narrativa de que as armas que chegam ao crime organizado vem do exterior, dados obtidos pelo The Intercept em julho de 2023 via Lei de Acesso à Informação e reunidos pelo comando-geral do Exército, mostram que desde janeiro de 2018 a maio de 2022, 2.893 armas legais de CACs e clubes de tiro foram roubadas ou extraviadas no Brasil.

“Tem uma grande parcela de apreensões que vem do mercado legal. Sabemos que especialmente para munições de calibres de maiores, as forças armadas são uma fonte importante de fornecimento para o crime.”

Bruno enxerga uma somatória de questões para essa problemática e fala em um “pacto de silêncio” entre governo, forças de segurança e indústria armamentista, porque encarar o problema é complexo e interrompe uma fonte de renda de quem lucra com isso e volta a falar de Barueri.

“Nunca tivemos um desvio tão grande de metralhadoras Antes desse caso não tinha 10 armas dessas com o crime organizado e de repente tem 21 armas dessas desviadas por conta de uma falha grave do exército brasileiro.”

Adicionar aos favoritos o Link permanente.