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‘O avesso da pele’: editora denuncia censura de livro em escolas do RS e governo volta atrás

A Companhia das Letras publicou uma nota de repúdio à censura do livro “O avesso da pele”, do autor Jeferson Tenório, na rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul. A Seduc (Secretaria da Educação) afirmou em nota que não orientou a retirada dos exemplares das escolas.

A Companhia das Letras repudiou a censura do livro O avesso da pele nas redes sociais

A Companhia das Letras repudiou a censura nas redes sociais no sábado (3) – Foto: Instagram/Reprodução/ND

A polêmica começou com um vídeo publicado nas redes sociais por Janaina Venzon, diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, na cidade de Santa Cruz do Sul. Ela condena o conteúdo sexual e o uso de palavras de obscenas na obra.

“É lamentável um governo federal mandar esse tipo de linguagem para ser trabalhado com adolescentes dentro de uma instituição de ensino”, recrimina a diretora no vídeo.

“Vindo ainda de um governo federal, é muito nojento. Que país é este?”.

“O avesso da pele”, vencedor Prêmio Jabuti 2021, está incluso no PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático) para alunos do ensino médio. O livro alvo de censura foi escolhido pela própria escola estadual para compor o catálogo literário em 2023, com aval da diretora.

Troféu do Prêmio Jabuti

A obra “O avesso da pele” ganhou o Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário em 2021 – Foto: Divulgação/ND

Com a repercussão do vídeo, a 6ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação), ligada à Seduc, mandou as escolas retirarem os exemplares das bibliotecas até que o MEC (Ministério da Educação) se manifestasse.

Autor e editora denunciam censura

A Companhia das Letras repudiou a censura: “A retirada de exemplares de um livro, baseada em uma interpretação distorcida e descontextualizada de trechos isolados, é um ato que viola os princípios fundamentais da educação e da democracia, empobrece o debate cultural e mina a capacidade dos estudantes de desenvolverem pensamento crítico e reflexivo”.

A editora ainda salientou que o livro foi aprovado n0 PNLD para ser trabalhado no ensino médio por uma banca de educadores, especialistas e mestres em literatura e língua portuguesa juntamente com outros 530 títulos.

 O escritor, professor e pesquisador Jeferson Tenório

Jeferson Tenório é escritor, professor e pesquisador, radicado em Porto Alegre – Foto: Carlos Macedo/Reprodução/ND

O escritor Jeferson Tenório também se manifestou nas redes sociais. “As distorções e fake news são estratégias de uma extrema-direita que promove a desinformação.

O mais curioso é que as palavras de “baixo calão” e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”, escreveu.

A Seduc afirmou no domingo (3) que não orientou a retirada do livro de bibliotecas da rede estadual de ensino. A 6ª CRE, que havia instruído a censura, suspenderá a recomendação e seguir as orientações da secretaria.

Sobre o caso, o MEC informou que “as escolas podem escolher de forma democrática os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica, tendo como diretriz o respeito ao pluralismo de concepções pedagógicas”.

Imagem de uma página de livro amassada

Diretora da escola que viralizou em vídeo havia aprovado o livro no catálogo de ensino – Foto: Michael Dziedzic/Unsplash/Reprodução/ND

O avesso da obra

Publicado em 2020 pela Companhia das Letras, “O avesso da pele” conta a história de Pedro, filho de um professor de literatura assassinado em uma abordagem policial. O personagem sai em busca de resgatar o passado da família em Porto Alegre, nos anos 80.

A narrativa aborda relações sociais, identidade, racismo, violência e negritude. A obra levou o Prêmio Jabuti em 2021 na categoria “Romance Literário”.

Em entrevista à Carta Capital, o escritor Jeferson Tenório apontou que a diretora distorceu o tema do livro na censura.

Aluno de ensino médio em biblioteca

Livro censurado discute racismo, identidade, violência e negritude – Foto: Redd F/Unsplash/Reprodução/ND

“O livro não é sobre sexo, não é sobre sexualidade e, ainda que fosse, creio que ela perdeu a oportunidade de discutir com os professores e com os próprios alunos questões sensíveis como essa”, esclareceu.

O autor completou: “É um livro sobre a paternidade, sobre pais e filhos, a difícil relação entre pais e filhos. Há também uma crítica à precariedade do ensino no Brasil. É um livro que tratará da sala de aula, do dia a dia dos professores, dos alunos. Por fim, também tratará do racismo estrutural e, consequentemente, da violência policial”.

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