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Segurança digital e eleições. Por Elias Edenis

Por Elias Edenis

Esta semana, ainda, um amigo querido revelou-me que pretendia candidatar-se a vereador e pediu dicas sobre como utilizar de forma mais atrativa as redes sociais.

Sinceramente, não sou especialista em marketing online. Meu ramo é segurança digital; atuo investigando crimes cibernéticos. No entanto, o caso do amigo pareceu-me interessante, então sentei para conversar. Não sobre marketing digital, mas sobre segurança. Ele não tinha a mínima consciência de suas vulnerabilidades e dos riscos que corria online e eu sabia disso.

Com uma rápida avaliação da vida digital do colega, encontramos diversos pontos vulneráveis que o tornariam presa fácil para criminosos ou adversários roubarem sua identidade digital e, além de acabarem com sua futura campanha, trazerem uma baita dor de cabeça.

Desde que iniciei minha trajetória na investigação de crimes de informática, tenho me deparado com casos de políticos e empresários sendo vítimas de ameaças, extorsões e campanhas de publicidade negativa.

Em alguns casos, stalking e espionagem, onde os criminosos sabiam de vários detalhes da vida profissional e pessoal de seus alvos. E durante as campanhas políticas, tudo isso ganha uma dimensão excepcional, porque a grande maioria das pessoas não estão cientes de seus pontos vulneráveis.

Não é de hoje que opositores maliciosos usam de todos os meios para atingir a campanha e a reputação de adversários. Mas atualmente, a dependência que temos da tecnologia faz com que quase todos os aspectos de nosso dia-a-dia estejam digitalizados e a mão de obra especializada em ataques digitais aumente a cada dia.

Há um número gigantemente maior de cursos online ensinando técnicas hackers do que ensinando a se defender destas técnicas. Qualquer um com tempo e recursos encontra facilmente materiais online sobre como espionar; “investigar”; invadir redes; raspar informações sensíveis na internet, ingenuamente
disponibilizada pelos internautas, além de uma infinidade de outras técnicas.

Encontramos na atividade policial especializada jovens infratores saindo da adolescência com conhecimento de ataques cibernéticos que nos assustam. Eles estão deixando o mundo do hacking por diversão para se embrenharem no mundo do mercenarismo hacker, muito lucrativo.

E falta cultura digital na sociedade digital, para as pessoas se manterem seguras com tudo isso. Comportamentos simples como manter atualizados todos os softwares que usamos; instalarmos um antivírus e firewall em todos os nossos dispositivos – smartphones também precisam – ; aprender a reconhecer links maliciosos; não nos conectarmos em qualquer rede que encontramos, e quando não
houver outra opção, termos um software de VPN para evitar que alguém nessas redes nos espione, são alguns dos hábitos que devem fazer parte de um protocolo de segurança digital que todos devem ter.

Meu colega fará, se realmente se candidatar, uma campanha simples, para vereança de município do interior. Cuidados sem grande complexidade farão parte das preocupações dele com a segurança digital, como impedir que suas redes sociais caiam nas mãos de terceiros. Mas no caso de uma campanha maior, muitos cuidados devem ser tomados.

Campanhas políticas são por natureza transitórias e as pessoas envolvidas se reúnem de forma abrupta, cada uma com um nível de consciência em relação à segurança digital. Muitas usarão seus próprios equipamentos, que podem estar vulneráveis a ataques, se já não comprometidos.

Neste cenário, um criminoso pode realizar um sequestro de dados, obter credenciais para acesso a redes sociais, comunicadores instantâneos, como Whatsapp e Telegram, endereços de email e armazenamento em nuvem ligados à campanha.

Numa rede social comprometida, a publicação de material com deep fake com uso de inteligência artificial, por exemplo, um vídeo falso com o candidato realizando uma declaração polêmica, pode trazer prejuízos cuja remediação seria trabalhosa.

E ainda há sempre a possibilidade de campanhas de publicidade negativa, com distorções de informações obtidas em vigilâncias digitais, o stalking, por parte de mercenários digitais contratados por opositores.

Se, embora todos os cuidados sejam tomados, houver algum incidente de segurança cibernética, o apoio jurídico especializado é sempre recomendado. Por vezes nos deparamos com casos que poderiam ser muito mais rapidamente solucionados se desde o início os envolvidos tivessem tido a orientação adequada de um profissional especializado.

Por fim, devemos afirmar o óbvio: não é novidade que o mundo mudou; a segurança física já não basta. Segurança digital deve ser uma preocupação presente no planejamento de qualquer empreendimento.


Elias Edenis é policial civil, especialista em Investigação de Crimes Cibernéticos e professor da Academia de Polícia Civil de Santa Catarina na Disciplina de Investigação de Crimes Cibernéticos.

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