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Confira produções que lançam o foco sobre os povos originários brasileiros

Em filme: neste 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, o Culturadoria lista produções que tratam de temas urgentes

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Desde 2022, o 19 de abril passou a ser conhecido como o Dia dos Povos Indígenas, em substituição ao Dia do Índio – data criada pelo presidente Getúlio Vargas em 1943, por meio de um decreto-lei. A mudança se justifica no sentido de o novo termo abarcar a diversidade dos povos indígenas que habitam o Brasil, bem como deixar para trás o tom pejorativo que o termo “índio” era empregado desde lá atrás, quando passou a ser empregado pelos colonizadores.

Fato é que, hoje, de acordo com dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 1,7 milhão de indígenas autodeclarados. São cidadãos de 305 etnias, e que, no todo, representam 0,83% do total de habitantes do país.

Narrativas audiovisuais

Na verdade, a cada 19 de abril, ou nos 364 (5) dias restantes do ano, a constatação óbvia é que ainda falta muito para que os povos originários possam de fato festejar o dia a eles dedicado. De todo modo, a luta vem cada vez mais ganhando visibilidade, inclusive por meio da arte que se debruça sobre ela. Nos últimos anos, os povos originários têm finalmente tido a oportunidade de contar a própria história, seja em produções audiovisuais ou no mercado editorial, por meio de excelentes escritas, como as de Ailton Krenak e Davi Kopenawa Yanomami .

No caso do cinema, para balizar o 19 de abril, selecionamos, aqui, alguns filmes que podem ser interessantes para quem quer se aprofundar mais na história dos povos tradicionais do Brasil. Tal qual, lembramos outros três que vão entrar em circuito ainda este ano. Vale dizer que nem todos levam, na direção, a assinatura de indígenas. Há, entre eles, outros feitos por cineastas já consagrados, como Jorge Bodanzky. No entanto, todos profundamente interessados na causa e, tal qual, estudiosos, empenhados na luta. Confira!

“Amazônia, a nova Minamata?” 

Este documentário, dirigido por Jorge Bodanzky, acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em um território ancestral. Do mesmo modo, revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça hoje os habitantes da Amazônia.

O título faz alusão à cidade japonesa de Minamata, na qual uma empresa de produtos químicos e plásticos despejou, por um longo período (1932 – 1968), na baía, rejeitos que incluíam esse metal. Desse modo, provocou a intoxicação da população local através do consumo de alimentos da pesca. Um filme importantíssimo, portanto, considerando-se a alta concentração de mercúrio detectada na Terra Indígena (TI) Yanomami (RR). Tal contaminação foi aferida pelo estudo – desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz – “Impacto do Mercúrio em Áreas Protegidas e Povos da Floresta na Amazônia Oriental: Uma abordagem integrada Saúde-Ambiente”.

“Ex-Pajé”

Em cena, um pajé passa a questionar sua fé depois de seu primeiro contato com os brancos, que alegam que a religião do povo dele é demoníaca. A missão evangelizadora, comandada por um pastor intolerante, é questionada quando a morte passa a rondar a aldeia. Assim, a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta se mostra indispensável. Direção de Luiz Bolognesi. “Ex-Pajé” pode ser visto na Netflix. O catálogo da Netflix também traz “A Última Floresta” e “Frontera Verde”.

Abdzé wede’õ – O Vírus tem Cura?

Obra dirigida por Divino Tserewahú em 2021, o filme faz um recorte da pandemia de Covid-19 e como a doença atingiu essas populações, em especial a nação Xavante, do Mato Grosso. Assim, registra a batalha deste povo para lidar com a emergência sanitária. Desse modo, o diretor faz um retorno ao passado e descreve como o contato com o branco deixou traumas e sequelas. Divino Tserewahú nasceu em 1974 na aldeia Sangradouro, no estado de Mato Grosso. Ele começou a fazer filmes no ano de 1989, depois que o irmão lhe deu sua câmera velha. O filme está disponível gratuitamente, na plataforma Itaú Cultural Play. Basta fazer a inscrição.

“Krenak”

A história e a luta do povo indígena Krenak pela sobrevivência e demarcação de suas terras no interior de Minas Gerais. Da perseguição de Dom João VI no século XIX à tragédia de Mariana, em 2015, o filme percorre o trajeto de resistência dos Krenak diante da campanha genocida do homem branco. Participação: Maria Rita Kehl. Direção: Rogério Corrêa. Pode ser visto no Itaú Cultural Play.

“Adeus, Capitão”

O documentário “Adeus, Capitão”, dirigido por Vincent Carelli e Tita em 2022, conta a história do “capitão” Krohokrenhum, líder dos indígenas Gavião Parkatêjê, do sudeste do Pará. Morto em 2016, aos 90 anos, ele esteve à frente de seu povo desde os primeiros contatos com o “kopen”, ou homem branco, até a recuperação da cultura e população de seu povo, que, devido a doenças e conflitos internos, quase foi extinta. Também está no streaming Itaú Cultural.

“Quando os yãmiy vêm dançar conosco” 

Filme dirigido por Isael Maxakali, Sueli Maxakali e Renata Otto. O filme retrata o amanhecer e a chegada dos povos-espírito na Aldeia Verde, em Ladainha, na região de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. A chegada deles mobiliza os pajés e as mulheres, na recepção com comidas, cantos e danças no pátio da aldeia e à casa-de-religião. Por várias noites as mulheres-espírito virão dançar, conta o pajé Mamey. Vimeo.

“A Febre” (2019)

Justino, um indígena de 45 anos, trabalha como vigilante em um porto de cargas e vive em uma casa modesta na periferia de Manaus. Desde a morte da esposa, a única companhia tem sido a filha, Vanessa, mas ela está de partida para estudar medicina em Brasília. Sob o sol escaldante e as chuvas tropicais, Justino esforça-­se para manter-­se concentrado no trabalho. Com o passar dos dias, no entanto, é acometido por uma forte febre. Assim, nos sonhos que tem, uma criatura vagueia perdida pela floresta. Na televisão, o noticiário fala de um animal selvagem que ronda o bairro. Justino acredita que está sendo seguido, mas não sabe se quem o persegue é um animal ou um homem. Direção: Maya Da-Rin. Filme disponível na Globoplay.

 “A Transformação de Canuto”

Filme que encerrou a 27ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, este ano. Dirigido por Ariel Ortega e Ernesto de Carvalho, o filme centra o foco em uma pequena comunidade Mbyá-Guarani, entre o Brasil e a Argentina. Canuto é um homem que, anos atrás, sofreu a temida transformação em uma onça e depois morreu tragicamente. Assim, o filme conta essa história e mostra a discussão de quem na aldeia deveria interpretar o papel dele. Líder Mbyá-Guarani, Ariel Ortega é considerado um cineasta indígena pioneiro.

O nome dele está por trás de filmes como “Duas Aldeias, Uma Caminhada” (2008) e “Bicicletas de Nhanderú” (2010), juntamente com outros cineastas Guarani, por meio dos workshops do projeto Vídeo nas Aldeias. Ariel também dirigiu “Desterro Guarani” (2011) e “Tava, A Casa de Pedra” (2012) em colaboração com Ernesto de Carvalho, Patrícia Yxapy Ferreira e Vincent Carelli. Ele é membro do Coletivo de Cinema Mbyá-Guarani (Brasil) e do Coletivo de Cinema Ara Pyau (Argentina). Além disso, dirigiu o curta “Nossos Espíritos Seguem Chegando” (2021), com Bruno Huyer e Patrícia Yxapy Ferreira.

“A Transformação de Canuto” segue o percurso dos festivais, por ora.

Em breve

A distribuidora Embaúba Filmes anunciou, recentemente, o lançamento de três longas que chegam aos cinemas ainda neste 2024. São eles: “O Estranho”, “A Flor do Buriti” e “A Invenção do Outro”. De acordo com a distribuidora, são filmes que trazem perspectivas diferentes. De acordo com o material enviado à imprensa, cada um tenta fugir ao senso comum dos documentários clássicos sobre os povos indígenas. Assim, as produções prometem colocar em destaque os modos de viver e pensar de povos originários com respeito e proximidade.

“O Estranho”

O filme de Flora Dias e Juruna Mallon traz o Aeroporto de Guarulhos como protagonista da trama. É que o local foi construído em um território indígena, e, desse modo, tem uma história que se entrelaça com a dos trabalhadores e das pessoas que vivem e circulam por lá. Assim, a produção evoca a ancestralidade do território e dos sujeitos que ocupam seus espaços na atualidade.

“A Flor do Buriti”

Longa de João Salaviza e Renée Nader Messora, é uma ficção de uma história ‘real’ da comunidade Krahô, situada no Tocantins. Com indígenas como atores – aliás, já é o segundo filme da dupla de diretores feito dessa maneira. A obra apresenta uma história de resistência do povo Krahô. Assim, teve a a première no Festival de Cannes de 2023. Foi premiado com o Prix d’ensemble (Melhor Equipe) da sessão Un Certain Regard (Um Certo Olhar) no Festival.

A Invenção do Outro” (Previsão de estreia no segundo semestre de 2024)

Filme de Bruno Jorge. A produção captura momentos de uma expedição da Funai para tentar contato com indígenas da etnia Korubo, no Vale do Javari. O longa mostra o contato de indígenas com não-indígenas, pensando nas formas de representação que o cinema pode oferecer de “um outro”. A produção teve sua estreia no Festival de Brasília em 2022, ganhando cinco prêmios, dentre eles o de melhor filme pelo júri oficial.

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