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Quem faz a manchete (por André Gustavo Stumpf)

A hidrelétrica de Tucuruí foi construída no Rio Tocantins, a cerca de 300 km ao sul de Belém, no estado do Pará, com uma capacidade geradora instalada de 8.370 MW. Em termos de potência, Tucuruí é uma das maiores do mundo e a segunda maior usina hidroelétrica 100% brasileira, ficando apenas atrás da usina de Belo Monte. Seu vertedouro, com capacidade para 110.000 m³/s, é o segundo maior do mundo. A construção foi iniciada em 24 de novembro de 1974.

A usina foi inaugurada em 22 de novembro de 1984 pelo presidente João Figueiredo com capacidade de 4.000 MW, ampliados em meados de 2010 para 8.370 MW. A Eletronorte, responsável pela construção da usina, a primeira hidrelétrica em ambiente equatorial, providenciou todos os equipamentos necessários para uma grande cobertura de imprensa no momento da inauguração. Uma sala dedicada aos jornalistas foi instalada no meio da selva com vários aparelhos de telex, o equipamento mais moderno na época. Foi criado um pequeno hotel para os repórteres e fotógrafos, além do restaurante para matar a fome da rapaziada.

O assessor de imprensa, Maurício Coelho, um dos profissionais mais qualificados que conheci nesta área, se esmerou. Preparou tudo para o grande momento da inauguração de Tucuruí, que além do desafio da engenharia, esteve no meio de um debate profundo com os ambientalistas. O pessoal que era contra a construção da barragem dizia que ela iria inverter o fluxo da água no Rio Tocantins, que Belém ficaria sem água potável e seus habitantes seriam obrigados a beber água salgada. Além dos prejuízos que possivelmente seriam causados aos povos da floresta.

A discussão foi superada pela operação da usina, que se revelou um sucesso, gerou a energia necessária para abastecer todo o país e especialmente os estados do nordeste que, sem ela, enfrentariam momentos de escassez e longos períodos de racionamento. A inauguração de Tucuruí é, contudo, um exemplo para o desastre da política de comunicação do governo. O presidente Lula deveria se debruçar sobre o caso e pedir a seus ministros que estudem o ocorrido.

No ano de 1984, a política em Brasília estava efervescente por causa da rejeição da emenda do deputado Dante de Oliveira, deputado de Mato Grosso, que restabelecia a eleição direta para presidência da República. A emenda recebeu 298 votos favoráveis, mas necessitava de 320 para ser aprovada. O governo conseguiu retirar do plenário 112 deputados. O governo ganhou, mas não levou porque seu candidato, Paulo Maluf era rejeitado por boa parte de seus próprios correligionários. A divisão era visível e a partir daquele momento, a luta pelo poder passou a ser intensa.

O presidente Figueiredo chegou a Tucuruí no dia acertado e durante a visita às instalações e deu de cara um grupo de repórteres. Um deles avançou e perguntou: “Presidente, o que o senhor faria se estivesse em Brasília no momento de votação de emenda Dante de Oliveira?”

A resposta foi simples e objetiva: “Votaria a favor. Sou favorável a eleição direta do presidente da República”.

No dia seguinte, as manchetes de todos os jornais eram no sentido de que Figueiredo apoiava as eleições diretas para presidência da República. Vários políticos repercutiram a surpreendente manifestação do general que comandava o país naquela época. Páginas e   páginas foram dedicadas à sua inesperada versão democrática. A inauguração de Tucuruí foi mencionada em apenas três ou quatro linhas no final das reportagens. Nenhuma palavra sobre a superação das dificuldades de construir uma hidrelétrica em área tropical. A questão política escondeu a realização da engenharia.

Quem redigiu aquela manchete foi o presidente da República, não foram os jornalistas. O assunto principal era que o presidente, oficial general de quatro estrelas, se mostrou favorável à eleição direta para presidente da República. Quando o presidente Lula se recusou a declarar apoio à Ucrânia na guerra contra o Rússia, ele escreveu a manchete dos jornais. Também quando ele diz que na Venezuela há eleições livres, ele auxilia o redator que vai montar a primeira página. A manchete é inescapável.

É claro que há um elevado grau de incompetência na comunicação do governo, porque ele dispõe de múltiplos níveis de comunicação e não raro um aponta para um lado e outro para o caminho reverso. O governo Lula lança um projeto por semana que usualmente é mal explicado e não alcança o público desejado. Ele não volta ao assunto e o prometido há alguns meses desaparece do noticiário. A política de comunicação é muito deficiente, sobretudo na área da saúde, mas a ação do chefe do governo por vezes provoca dificuldades quase insuperáveis. E escreve a principal manchete do dia.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])

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