Nos Estados Unidos, uma avaliação dos custos de mão de obra observada de perto revelou que o crescimento da remuneração acelerou muito mais rápido do que o esperado durante os primeiros três meses do ano, fornecendo um ponto de dados indesejável para as autoridades do Federal Reserve (Fed, banco central americano) que buscam aliviar as pressões inflacionárias.
O Índice de Custo do Emprego (ECI, da sigla em inglês) aumentou 1,2% no último trimestre, ajustado sazonalmente, um crescimento mais rápido do que o aumento de 0,9% no trimestre anterior, segundo os dados do Bureau of Labor Statistics divulgados nesta terça-feira (30).
“Isso não vai acalmar os nervos do Fed”, disse Scott Anderson, economista-chefe da BMO Capital Markets, em uma entrevista à CNN.
As autoridades do banco central dos EUA estão monitorando de perto a trajetória dos ganhos salariais, ao haver uma preocupação de que o crescimento acelerado da remuneração possa servir como uma pressão inflacionária.
Os custos mais altos dos benefícios ajudaram a levar o índice ao seu maior aumento trimestral em um ano: Esses aumentaram para 1,1% em relação a um ganho de 0,7% no trimestre anterior, enquanto o crescimento de salários e ordenados ficou inalterado em 1,1%.
Em uma base anual, o índice que mede as mudanças nos salários e benefícios manteve-se estável em 4,2% no ano encerrado em março. Os maiores ganhos salariais estão ocorrendo no setor público, onde os trabalhadores estão vendo a remuneração crescer 4,8% nos 12 meses encerrados em março.
Ajustados pela inflação, os salários e benefícios tiveram um aumento anual de apenas 0,8%, um pouco abaixo do ganho de 0,9%.
Os economistas esperavam que o crescimento trimestral ficasse em 0,9% e que os ganhos anuais diminuíssem para 4%, de acordo com as estimativas de consenso da FactSet.
As ações dos EUA caíram com a notícia, com os futuros do Dow caindo cerca de 185 pontos, ou 0,5%, nas negociações do pré-mercado nesta terça-feira. Os futuros estavam em baixa de 0,43% no S&P 500 e de 0,46% no Nasdaq Composite.
Ainda muito quente para o gosto do Fed
O Fed prefere o ECI a outros rastreadores de salários, porque ele fornece uma medida mais abrangente da remuneração e inclui não apenas os salários, mas também os custos dos benefícios oferecidos aos trabalhadores.
O índice também inclui controles para mudanças na composição do emprego, medindo essencialmente os custos salariais para os mesmos empregos ao longo do tempo.
A remuneração dos trabalhadores aumentou durante a recuperação econômica do país após a pandemia, pois a demanda dos consumidores superou a oferta de trabalhadores disponíveis.
Os ganhos anuais do custo da mão de obra atingiram o máximo de 5,1% no segundo trimestre de 2022, época em que a inflação disparou para máximos de 40 anos.
Desde então, os ganhos salariais desaceleraram, mas ainda permanecem acima das médias históricas (na faixa de 2% a 3% antes da pandemia) e também acima do que o Fed deseja ver: As autoridades do banco central indicaram que um ritmo de 3,5% é mais consistente com sua meta de inflação de 2%.
O Fed está realizando sua última reunião de formulação de políticas esta semana e espera-se que anuncie na quarta-feira que as taxas de juros permanecerão inalteradas.
Dado o lote de dados de inflação mais quentes do que o esperado para o início do ano — e, agora, ganhos salariais mais altos do que o previsto — os economistas não estão esperando um corte nas taxas do Fed em um futuro próximo.
“Agora, o Fed precisaria ver uma mudança espetacular nas folhas de pagamento em maio e junho e números de inflação igualmente espetaculares para cortar as taxas em junho”, escreveu Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, em uma nota emitida nesta terça-feira.
“Isso é possível, mas o ECI elevou o nível de flexibilização a ponto de agora termos de esperar o primeiro movimento em setembro”, acrescentou.
Quando boas notícias são más notícias
Embora a inflação, e agora os salários, estejam se movendo na direção oposta ao que o Fed quer ver, o relatório ECI desta terça-feira é mais um lembrete da pura resistência do mercado de trabalho dos EUA.
“Essa é realmente uma boa notícia para a economia em geral e para a resiliência e força do crescimento econômico”, disse Anderson.
Ele acrescentou que “isso manterá o crescimento do salário real na coluna positiva para muitos trabalhadores e colocará um piso sob os gastos do consumidor e manterá os gastos do consumidor resilientes pelo menos nos próximos trimestres”.
Uma nova leva de dados do mercado de trabalho dos EUA será divulgada nesta semana, incluindo o relatório mensal de empregos, na sexta-feira (3). Os economistas esperam que a economia dos EUA tenha criado 230.000 postos de trabalho, de acordo com a FactSet.
Embora alguns dos maiores ganhos mensais tenham ocorrido em grandes setores, como saúde, lazer e hotelaria, e governo, o crescimento do emprego permaneceu amplo e as demissões permaneceram baixas.
A força do mercado de trabalho e o crescimento salarial ainda alto (embora em desaceleração) auxiliaram os trabalhadores a ver ganhos reais de remuneração e a continuar seus gastos que impulsionam a economia.
No entanto, embora a inflação não tenha impedido os consumidores de gastar, os americanos não estão gostando de ter que suportar mais de três anos de aumentos de preços acima do normal.
Um relatório separado, divulgado nesta terça-feira pelo Conference Board, mostrou que a confiança do consumidor recuou em abril, pois foi prejudicada pelo aumento dos preços dos alimentos e da gasolina, bem como pelas preocupações com a piora do mercado de trabalho.
O índice de confiança do consumidor da companhia caiu para 97,0 em abril, ante 103,1 revisado para baixo no mês anterior, e atingiu seu nível mais baixo desde julho de 2022.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Salários nos EUA aumentam mais rápido do que o esperado neste ano no site CNN Brasil.
