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‘Conseguimos fazer uma obra que faz sentido para todo mundo’, acredita Tico Santa Cruz, do Detonautas

Detonautas
Turnê acústica comemora os 20 anos do lançamento do primeiro trabalho do Detonautas (Foto: João Portugal/ Divulgação)

O formato acústico do Detonautas fez a cabeça dos fãs lá em 2009, quando eles lançaram “Detonautas Acústico”, no YouTube. Apesar do alvoroço e das vontades, eles não saíram em turnê na época. Essa versão acústica da banda ficou resumida à internet – meio esse que eles souberem, desde sempre, como “nadar”. Esse desejo de apresentar essa versão nos shows ficou reservado até o lançamento do DVD “20 anos – Acústico”, em 2023. Já no começo deste ano, eles anunciaram que era o momento: Detonautas sairia em turnê em formato acústico.

A banda, formada por Tico Santa Cruz (vocal), Renato Rocha (guitarra), Fábio Brasil (baterista), Phil Machado (guitarra) e André Macca (baixo), chega a Juiz de Fora nesta sexta-feira (3), a partir das 21h, para um show no Cine-Theatro Central. Já no sábado (4), eles se apresentam em Belo Horizonte, para um show no Palácio das Artes. Os ingressos podem ser adquiridos no site oficial da banda.

Na entrevista abaixo, Tico Santa Cruz, o líder do Detonautas, fala sobre esses anos todos da banda, como foi conseguir estourar, mesmo dentro do underground, e, ainda, como se adaptar às novas imposições da internet. Sobre os shows, garante: “A sensação que eu tenho é que cada vez que a gente entra no palco com esse show, vai ganhando um tamanho maior. É como se estivesse mexendo em uma massa de bolo que vai ganhando forma, tamanho, volume e consistência, e isso é bacana porque, quando lá na frente a gente retornar aos lugares que já foi, é possível que quando a gente volte já é outra turnê e outro show”.

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Tribuna: Tico, a gente tem falado em nostalgia, sobretudo, quando pensa nessa turnê. Mas você é uma pessoa nostálgica?
Tico Santa Cruz: Em relação à música, sim, bastante. É porque nostalgia é uma palavra que muitas vezes foi remetida a um significado não tão bom. Quando fala que é uma pessoa nostálgica, quer dizer que ela vive no passado. Mas eu acho que não é necessariamente nesse sentido. É você viver os melhores momentos de algo que marcou sua vida. E a música tem essa capacidade de te transportar para esses lugares. Então eu escuto coisas novas, procuro ouvir dicas de pessoas que estão conhecendo e indicando artistas. Mas quando toca uma música daquelas que marcou alguma coisa do seu passado, aí leva total para um momento especial.

Você falou que os shows estão sendo uma experiência atemporal, como “máquina do tempo”. Como é fazer uma música atemporal e ao mesmo tempo ter a cabeça no futuro?
Quando a gente começa a compor, a gente não imagina que vai ser uma coisa atemporal. Eu não imaginava isso, que as pessoas 20 anos depois estariam cantando “Olhos certos”, que é uma música que eu vejo crianças cantando e pessoas mais velhas também. E eu acho que o maior desafio de um artista é conseguir transpor o tempo. Porque você pega um artista de um estilo que está fazendo muito sucesso, por exemplo. Eles falam de coisas que são muito do cotidiano atual da pessoa, a linguagem, as palavras, coisas que são da tecnologia atual. Quando eu escrevo em “Quando o sol se for” “o seu retrato só me mostra o que eu quero esquecer”, realmente você ainda pode tirar um retrato, mas no sentido da palavra era aquele retrato, que tinha na mão. E, hoje, quando os artistas falam de Instagram, WhatsApp, são tecnologias que podem ser que elas hoje fazem sentido, mas daqui a 10 anos já não façam mais. Eu acho que você construir coisas atemporais é quando você consegue juntar palavras e significados que, daqui a 50 anos, mesmo que as tecnologias mudem, continuem fazendo sentido, do ponto de vista do universo que está te cercando. E eu acho que tem artista que consegue fazer isso e outros ficam muito datados e não conseguem passar isso adiante. Eu nunca pensei nisso por esse ponto de vista, e ver hoje o Detonautas cantando músicas que se tornaram atemporais é uma forma de pensar que conseguimos fazer uma obra que faz sentido para todo mundo, não só para quem nasceu na nossa geração.

E muitas das músicas que fazem sucesso ainda hoje estão no primeiro trabalho do Detonautas. Naquele momento, vocês imaginavam que teria esse sucesso?
Não. A gente tinha na cabeça que a gente queria fazer sucesso e que aquilo desse oportunidade, para a gente, de viver um sonho: tocar no Brasil inteiro, para o grande público, ultrapassar as barreiras do underground, que eram difíceis naquele momento, fazer uma turnê, viajar pelo Brasil todo, tocando na rádio e na TV. Mas, hoje, o álbum ainda faz mais sucesso que fazia naquela época.

Por quê?
Acho que é porque juntou o fato de que naquela época o recurso que a gente tinha estava muito conectado à rádio e à TV, que eram os veículos de comunicação que passavam essas informações musicais para as pessoas. E hoje somado à rádio e à TV, tem internet, redes sociais, que vão se multiplicando para várias pessoas. Eu mesmo comecei a fazer uma experiência no TikTok, ouvindo música só. Eu nunca consegui entender muito bem de que maneira eu poderia dialogar com o TikTok. Eu fiquei bem perdido, e fiquei pensando como poderia conseguir de alguma maneira dialogar, porque é importante fazer isso com todas. E eu comecei a colocar uma música antiga e só fico ouvindo. Não falo nada. Só boto a música e fico reagindo. E começou a dar muita visualização. E eu mostro músicas que eu ouvia quando era mais novo. Tenho feito todo dia, quase, porque é fácil de gravar. Acho que essa coisa de multiplicar a música através da rede social, principalmente com o TikTok, que é quase como se fosse a MTV daquela época, que dita tendência, vai bater nesse lugar, que é o lugar da multiplicação das pessoas que vão ouvir e conhecer seu som, através de um perfil mais antigo, ou de uma pessoa mais velha, e vai passando para pessoas mais jovens, e criando uma corrente gigantesca. O sucesso do primeiro álbum, hoje, é maior que na época, e eu acho que é por conta do aumento das tecnologias a nosso favor.

E vocês nasceram na internet e aprenderam a lidar com ela, né?
É. A gente nunca deixou de usar nenhum recurso que a internet ofereceu. A gente passou por todos, desde o começo dos anos 1990. Saber usar as ferramentas é uma maneira de atualizar sua linguagem e se manter vivo também.

Isso muda a forma de compor e pensar um trabalho?
Não muda. A gente mantém nossa percepção de que ainda dá para fazer música com a liberdade de você construir o tempo que quiser. Tem gente que, se adaptando ao TikTok, está fazendo música de um minuto a um minuto e meio. É quase um jingle. E funciona. Mas eu acho que sempre vai ter a galera que quer ouvir a música mesmo. Não dá para cristalizar formato de música. Eu acho que dá para se adaptar se necessário for a uma ou outra ferramenta e manter seu conteúdo da maneira mais honesta ao seu trabalho. E eu acho que o Detonautas manteve o padrão de qualidade da música, não mudamos muito, mas não deixa de entender as linguagens e usá-las como for necessário.

Ouça o “20 anos – Acústico”, do Detonautas:

O que, há 20 anos, foi importante para que o Detonautas chegasse onde está hoje?

Eu posso dizer que poderia ter mudado a minha forma como líder do Detonautas, de agir com determinadas coisas que poderiam ter colocado o Detonautas em lugares ainda maiores, por conta da forma como eu me comuniquei em alguns momentos, que talvez extrapolaram alguns limites. Por outro lado, eu acho que o Detonautas também se manteve no imaginário das pessoas. Mesmo que, em alguns momentos, não da forma mais indicada. E não tem como fazer o “efeito borboleta”, voltar para trás e mudar sua história e saber qual vai ser o lugar lá na frente. E eu não faria diferente porque onde eu estou agora eu tenho percebido que tenho colhido coisas, até com o amadurecimento, pelos meus erros. Mas eu acho que o Detonautas fez muitos movimentos que conseguiram dar ao Detonautas uma credibilidade. No sentido de: falem bem ou mal do Detonautas, a galera tem uma posição em relação a tudo: musical, conceito, etc, e que foi construído aos trancos e barrancos na medida em que a gente foi aprendendo a lidar com a fama e com as coisas públicas. Então, eu diria que, dentro dessa história toda, de mais de 20 anos, a gente hoje, falando de agora, está entrando em um momento e em um lugar de consolidação do Detonautas como artista nacional que está marcado e está na história do rock e da música brasileira, às custas de muita luta. E, dentro do panorama todo do contexto, no final das contas, a gente está conseguindo avançar. Ninguém pega uma biografia só para falar de coisa legal. Vai ter bons e maus momentos. E filmes com bons e maus momentos é que prendem a atenção das pessoas.

Vocês deram nome a muitos sentimentos, através das músicas, logo quando Detonautas surgiu. Tem uma responsabilidade nisso, né?

Isso foi uma coisa muito característica nossa. A gente foi, sim, lidando com essas responsabilidades, e até de forma exagerada, principalmente depois que o (Rodrigo) Netto morreu, que ficou tudo pesado, do ponto de vista do significado das coisas que estavam acontecendo no Brasil, nas nossas vidas, de não olhar só para a arte só como forma de ganhar dinheiro e fama. A gente começou a pensar em outras coisas que são importantes, e acho que isso, como sou muito intenso e acabo conduzindo o estilo da banda, eu levei para um lugar que ficou muito denso em alguns momentos. Mas é isso. De certa forma, a gente foi posicionando cada coisa em seu lugar e foi equilibrando cada vez melhor. Os álbuns dos Detonautas todos têm essas questões: rebeldia, amor, romance, existencialismo, questões relacionadas a comportamentos e formas de se enxergar a vida, e eu acho que talvez seja essa função de um artista que consegue dialogar tanto com a pessoa adolescente quanto adulta.

Como trazer a dimensão explosiva do Detonautas a um teatro?
Acho que o acústico privilegia muito a música, e lugares que você tem contato direto com a banda, não tem distração. Quando está em um festival ou show, tem movimentação, conecta, mas é outra frequência. A do teatro é uma que te conecta ainda mais com a música. E eu acho que é diferente. Por isso eu tenho a impressão de quando as pessoas chegarem lá para assistir ao show elas vão sair transformadas dessa experiência. Tudo o que elas viveram com o Detonautas em Juiz de Fora está em uma outra frequência. É uma nova frequência que a gente está apresentando agora. A gente vai chegar em Juiz de Fora bem mais maduro.

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