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‘Senna era universal’, diz cineasta inglês que dirigiu filme premiado sobre piloto


Diretor do documentário, inglês Asif Kapadia diz vê-lo com frequência e que sempre se emociona com a primeira vitória de Ayrton em casa, no GP do Brasil de 1991. Cartaz de filme inglês sobre Ayrton Senna e Asif Kapadia, cineasta autor da obra
Divulgação
Na semana em que a morte de Ayrton Senna completou 30 anos, o Bom Dia SP conversou com o diretor do aclamado filme “Senna”, vencedor em 2012 de dois prêmios Bafta – o Oscar da Inglaterra. O inglês Asif Kapadia, de 52 anos, dirigiu o documentário, produzido inteiramente com imagens da época, coletadas de diferentes veículos de comunicação e do acervo pessoal da família do piloto.
Asif ganhou o Oscar de melhor documentário com outro filme: “Amy”, de 2015, em que contou a vida da cantora Amy Winehousea. “A verdade talvez seja que ‘Amy’ foi um filme mais bem-sucedido em bilheteria, ganhou mais prêmios. ‘Amy’ ganhou o Oscar, mas a maioria das pessoas pensa que ‘Senna’ ganhou o Oscar. E então eu diria que, o quer que aconteça, o filme que pessoalmente mudou minha vida foi ‘Senna’”, afirmou.
O diretor conta que assistia com o pai ao GP de San Marino, na Itália, naquele fatídico domingo de 1º de maio de 1994, mas que só foi conhecer o Senna que todo brasileiro conheceu mais de uma década depois, ao começar as pesquisas para o documentário.
Ele diz ver o filme com frequência e que sempre se emociona com a primeira vitória de Ayrton em casa, no GP do Brasil de 1991.
“Você quer um personagem como Senna, que é brilhante, apaixonado, bonito, emocional e espiritual, mas também é mais inteligente que todos os outros. E é isso que eu amo nele”, concluiu.
Confira abaixo trechos da entrevista:
Quem é Senna
“Há o Senna piloto de corrida e o homem. O que ele representava e o que ele significava para os brasileiros e para os fãs da Fórmula 1. Para mim, há uma jornada diferente, que sou eu fazendo um filme sobre ele e passando muito tempo estudando e meio que o conhecendo sem nunca tê-lo conhecido. E conhecendo muitas pessoas ao redor dele ou pessoas que o amavam, ou que eram seus rivais também. Foi este o processo de fazer o filme e, através dele, honestamente, foi como se eu me apaixonasse pelo homem, pelo que ele representava, pelo que ele era, seu cérebro e sua inteligência.”
“Eu o vi correr na televisão em Londres e eu estava assistindo em 1º de Maio à corrida de Ímola. Eu estava assistindo à TV com meu pai, então me lembro muito claramente. Mas o que eu diria é que, de certa forma, mesmo que eu viva longe, ainda me sinto muito perto dele, do que ele representa e também do Brasil por causa dele. De fato, agora mesmo antes desta conversa, eu conversei com Antonio Pinto, que foi o compositor do filme. Continuamos a trabalhar juntos e que, por causa de Senna, se tornou um amigo muito próximo e temos uma relação e trabalhamos em todos os filmes juntos. Começamos em ‘Senna’.”
‘Senna era universal’
“A maioria das pessoas de fora assumiria que [o maior representante dos brasileiros nas últimas décadas] seria um jogador de futebol, mas talvez haja algo sobre ser um piloto de Fórmula 1, que é um universo muito diferente de fazer parte de um time de futebol. E Senna morreu jovem. Ele veio também em um momento particular na história do Brasil, nas lutas que vocês estavam lidando na época. Quando você gosta de futebol, você pode gostar deste time, mas não gostar daquele time ou gostar desse técnico mas não desse outro. Senna era univesal. A maioria das pessoas tem um amor particular por ele, jovens e velhos, negros e brancos, ricos e pobres. Ele elevou o Brasil de certa forma e acho que é porque ele era genuíno. Ele tinha o sonho dele e tinha seus objetivos, mesmo em inglês ele conseguia se expressar de uma maneira que eu acho que muitas pessoas não conseguem. Ele era simplesmente incrível.”
Relação com Prost
No documentário, alguém pergunta a Senna quem é o maior rival dele como piloto. Em vez de uma resposta óbvia citando o francês Alain Prost, ele responde que era Fullerton, da época do kart, de 1978.
“Em primeiro lugar, todos esperam que ele diga uma coisa, ele diz outra. Mas acho que é mais do que isso. É por isso que eu amo Senna. Como ele era inteligente. Ele poderia te dar a resposta óbvia, mas não. Ele te leva a algum lugar e te conta uma história genuína porque ele não queria ser tão simples. ‘Quem é seu grande rival?’ ‘É essa pessoa. Eu gosto disso aqui.’ É como se houvesse uma razão. ‘Porque era outro período da minha vida, e era um momento particular, quando eu era jovem.’ Amei a resposta. ‘Não é sobre dinheiro. Não é sobre política. Era corrida pura e simples.’ Você fica emocionado só de pensar no que ele diz”, conta Kapadia.
Perfil de Ayrton
“Meu trabalho como cineasta é contar uma história. Então, ele também veio com uma resposta e uma boa história, é satisfatório. É a resposta certa. Mas também é surpreendente. Você quer um personagem como Senna, que é brilhante, apaixonado, bonito, emocional e espiritual, mas também mais inteligente que todos os outros. E é isso que eu amo nele. O documentário ‘Senna’, meio que mudou os documentários. Depois de ‘Senna’, todo mundo decidiu que temos que fazer filmes sobre biografias como este, usando arquivos. Todos copiaram o cartaz. Todos copiaram os gráficos. Se você já conheceu qualquer um dos diretores desses filmes, todos eles dizem que ‘Senna’ foi a referência. Senna foi capaz de ser uma estrela de cinema, a pessoa real é muito mais interessante do que qualquer ator que finja ser Ayrton Senna. Não importa quem interprete. Eles nunca vão ser ele. Eles nunca vão pilotar como ele. Eles nunca vão ser tão inteligentes e nunca vão ser tão bonitos e nunca vão ter o carisma.”
Funeral
“Eu não estava lá, mas experimentei [a sensação] ouvindo as pessoas, lendo livros, inicialmente, e depois indo olhar as filmagens e o material. A Fórmula 1 é um esporte muito rico, mas também era assistido por pessoas que não tinham nada. Muitas pessoas acordavam no meio da noite para assistir às corridas do outro lado do mundo. Isso mostra a escala de quanto as pessoas o amavam e o quanto estavam emocionadas sobre o que aconteceu, porque foi um grande choque. Ele se foi cedo demais. O que tentamos fazer no filme, e o que eu acho que as pessoas me disseram que funcionou, foi que os que conheciam Ayrton Senna foram realmente tocados. E os que nunca tinham ouvido falar de Ayrton Senna nos Estados Unidos se apaixonaram por esse cara e adoraram tudo o que ele representava, e ficaram realmente chocados quando viram aquela sequência do funeral.”
“Quando começamos o filme, a verdade era que muitas pessoas no Brasil pensaram ‘o que alguns ingleses poderiam saber sobre Ayrton Senna?’. ‘Como vocês podem nos dizer alguma coisa? Nós estávamos lá. Nós o vimos. Nós vivemos lá.’ Eles pensavam que nós todos seríamos fãs de Nigel Mansell. Então, para mim, o maior desafio foi fazer um filme que parecesse autêntico e real, como se fôssemos brasileiros. Nós fomos. Nós estávamos sentindo o que aquela multidão sentia no funeral. Todo mundo que está lá no funeral, o pai, a mãe, tornaram tudo muito emocionante. E também a quantidade de pessoas que estavam em São Paulo quando o avião chega. E então, quando o caixão viaja pela cidade, o número de pessoas que foram tocar o caixão foi muito, muito emocionante.”
Episódio mais marcante
“Uma das minhas partes favoritas do filme, quando assisto, é quando ele vence em Interlagos, quando ele vence no Brasil e não consegue sair do carro, quando ele fica preso. E então, quando ele sai, diz para o pai tocá-lo suavemente, com cuidado, para não machucar. Então ele levanta a bandeira. Para mim, a música, o cenário… Isso me faz chorar toda vez. Eu acho que para mim, resume ele e o Brasil da melhor maneira.”
Pressentimento sobre a morte
“Tudo o que posso dizer é que eu olhei, com minha equipe, tantas corridas, tantas filmagens. Acho que vimos mais de 150 corridas. Só há uma ou outra corrida em que Senna senta no carro sem capacete. E nenhuma como ele faz em Ímola, de ficar pensativo. Não há nenhum outro material em que ele pareça estar duvidando de tudo. Ele não parece o mesmo. Muitas pessoas sentiram que ele não queria correr ou que não ia correr. E então ele correu. Algo estava realmente acontecendo. Mas meu estilo de fazer filmes é não tentar adivinhar. Eu não estou pedindo a ninguém para adivinhar. Eu apenas mostro, você decide, você sabe, você pode ver o que está acontecendo em seu espaço e cada um terá talvez um ponto de vista ligeiramente diferente. Mas ele definitivamente não parece pronto para dirigir. O professor Sid Watkins disse o que disse, que ele deveria desistir. E ele, tipo, ‘Eu não posso porque eu não sou um desistente’. Essa corrida deveria ter sido cancelada mais cedo. No dia anterior, Roland Ratzenberger morreu. Foi um fim de semana ruim. E havia tantas coisas dando errado. E você sabe que nós não podemos mudar isso.”
‘Orgulho de mantê-lo vivo’
“Ele faz parte da história no Brasil, ele faz parte da história do esporte e ele também faz parte da história cinematográfica. As pessoas sempre se lembrarão dele porque ele é um daqueles caras que as pessoas lembram e contam as histórias, dão o nome dele aos seus filhos, então ele continua. Acho que ele é uma lenda. Ele é uma lenda genuína. Hoje em dia, há um potencial para os jovens ficarem bastante obcecados por estatísticas e números. O quanto Fulano ganhou e acho que essa não é a maneira mais importante de julgar pessoas. É caráter, realizações, carisma. E é aí que Senna ganha toda vez, não há ninguém assim.”
“Outros pilotos podem ganhar mais campeonatos, e alguns deles são ótimos. Mas a coisa que eu sempre digo sobre Senna, que eu particularmente amo, é que ele nunca teve medo de correr com ninguém no mesmo carro. E a maioria dos outros pilotos que ganharam mais campeonatos não quer isso. Eles sempre querem ter o melhor carro e querem que a pessoa que está em sua equipe seja sempre inferior a eles ou que tenha que deixá-los ultrapassar. E eu acho que é a parte que, pessoalmente, a Fórmula 1 está chata. É o mesmo piloto e a mesma equipe vencendo. Era muito mais interessante. Eu sou muito orgulhoso do filme. E também sou muito orgulhoso por, de alguma forma, ter feito parte para mantê-lo vivo. Manter viva parte de sua história e da história dos brasileiros.”
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