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‘Não guardo mágoas’, diz ex-reitor da UFSC sobre conselho rejeitar título de professor emérito

Na semana que passou, o professor e ex-reitor Rodolfo Pinto da Luz foi protagonista, sem sequer mover um dedo, de um episódio que chocou não só a comunidade universitária, mas a sociedade em geral.

Ex-reitor da UFSC, Rodolfo Pinto da Luz – Foto: Daniel Queiroz/ND

Sessão especial do conselho universitário da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), realizada no dia 30 de abril, rejeitou a proposta de concessão de título de professor emérito ao ex-reitor, que esteve à frente da instituição nos períodos de 1984 a 1988, 1996 a 2000 e 2000 a 2004.

Seu extenso currículo inclui outras funções públicas, como os cargos de secretário de Educação da Prefeitura de Florianópolis, presidente da Fundação Franklin Cascaes, secretário de Educação Superior do MEC (Ministério da Educação), presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior) e presidente da FCC (Fundação Catarinense de Cultura).

Nascido em 1948 na cidade de São Francisco do Sul, Rodolfo se recupera de um problema recente de saúde e diz que não guarda mágoas da decisão do conselho. Nesta entrevista, ele fala de algumas conquistas de suas gestões, de educação e do caráter plural das universidades.

A polêmica sessão que deixou professor sem o título

Na sessão especial do dia 30 de abril, o CUn (Conselho Universitário da UFSC) negou a concessão do título de professor emérito ao ex-reitor Rodolfo Pinto da Luz.

Após mais de quatro horas de deliberação, a proeminência acadêmica e todo o legado do professor não foram suficientes para garantir a honraria, apesar da posição da professora Olga Regina Ziguelli Garcia, pró-reitora de Extensão, autora do parecer favorável à homenagem.

“Infelizmente não é fato estranho [o resultado da votação] para quem vive desde julho de 2022 a UFSC. A chapa vencedora, então chamada de ‘Universidade Presente’, desonra o passado de nossa universidade e a encaminha a um futuro que assusta diariamente cada pessoa que dela faz parte”, Rodrigo Otávio Moretti-Pires e Fabrício de Souza Neves, professores da UFSC

Em novembro de 2023, uma sessão do conselho já havia protelado a outorga, proposta pelo Centro de Ciências Jurídicas da universidade, porque, como agora, não havia quórum qualificado para a aprovação sem riscos da proposta. Na ocasião, o professor Alex Degan pediu vistas, pressionado também pelos conselheiros que representam os estudantes no CUn.

O que os alunos queriam era um pedido de desculpas pelo fato de Rodolfo Pinto da Luz ter sido eleito para a presidência do DCE (Diretório Central de Estudantes) em 1969, quando o então reitor João David Ferreira Lima, nomeado pelo governo militar, impediu quatro estudantes da instituição de concorrer, por razões supostamente ideológicas. Ele se baseou na lei 477/69, que definia infrações disciplinares praticadas no âmbito dos estabelecimentos de ensino do país.

Nesta entrevista ao Grupo ND, Rodolfo não quis falar sobre o assunto, mas no final da conversa disse que não tinha obrigação de pedir desculpas por um evento que não ocorreu por sua decisão. Na época, a chapa por ele liderada venceu a eleição para o DCE por 23 votos a 20, e os estudantes que a reitoria queria afastar acabaram concorrendo na chapa derrotada.

Ex-reitor da UFSC, Rodolfo Pinto da Luz – Foto: Daniel Queiroz/ND

Atualmente, o quórum mínimo para as votações é de 43 pessoas (incluindo a modalidade virtual), num universo de 66 conselheiros. Aos 46 docentes no conselho se somam oito representantes dos estudantes de graduação e pós-graduação, oito técnicos em assuntos educacionais e quatro membros da sociedade civil.

Na votação de 30 de abril, foram 38 a favor e cinco contrários à concessão do título. Dez docentes não participaram nem presencial, nem remotamente. Com esse quórum, um voto contrário já inviabilizaria a concessão do título.

“Em minha carreira, discordei das ideias e projetos do professor Rodolfo muitas vezes. Mas jamais deixei de reconhecer o óbvio: ele é o mais importante personagem da história da universidade”, Fábio Lopes da Silva, professor da UFSC

Em artigo publicado no site da Apufsc-Sindical, os docentes Rodrigo Otávio Moretti-Pires, chefe do departamento de Saúde Pública da instituição, e Fabrício de Souza Neves, diretor do Centro de Ciências da Saúde, culpam (sem citar seu nome) o reitor Irineu Manoel de Souza pelo resultado da sessão. Ele teria insistido na votação, mesmo com os riscos evidentes de a proposta ser derrubada.

De sua parte, o ex-reitor diz que vê o resultado com naturalidade e não recomenda que o título seja proposto novamente.

“Rodolfo foi um grande reitor, o melhor da história da UFSC, brilhante e aberto a todas as tendências, e seu trabalho ajudou a transformar a instituição numa das melhores do Brasil”, Laudelino José Sardá, jornalista, assessor de comunicação da UFSC nas gestões do ex-reitor

Legado de três gestões na UFSC

“A universidade se expandiu em todas as áreas, nas engenharias, no direito, na saúde, nas ciências humanas. Novos campi, pós-graduação, mestrado e doutorado – tudo exige do reitor a capacidade de planejar os investimentos, pensando não apenas nas áreas construídas, mas nas instalações e laboratórios. Na década de 1980 era mais difícil porque havia poucos recursos federais disponíveis. Lembro que fizemos um prédio usando pré-moldados que sobraram após a desativação da usina de Salto Santiago, da Eletrosul. Sempre foi preciso ir atrás dos ministérios e de outras instâncias em Brasília para conseguir recursos. Na época, a educação tinha tanta prioridade como hoje em dia.”

A tecnologia em alta

“Uma das conquistas foi a criação da Fundação Certi, até hoje um diferencial para Florianópolis. A UFSC formava recursos humanos capacitados que depois foram assimilados pelo ParqTec Alfa e mais tarde pelo Sapiens Parque, além de inúmeras empresas que mudaram o perfil da nossa mão de obra, da mesma forma como em 1960 o surgimento da universidade alterou a configuração da cidade, atraindo professores e estudantes de outras regiões do país. Com a força das engenharias – mecânica, elétrica, de automação e controle – novos empreendimentos surgiram, e atualmente Florianópolis é uma cidade de empresas altamente tecnológicas. As demais universidades aqui implantadas também contribuíram para isso.”

O prédio do CCE

“Como presidente da Andifes, lembro que com outros reitores consegui com o então ministro Ronaldo Sardemberg, da Ciência e Tecnologia, que 20% dos investimentos baseados em royalties de petróleo e energia fossem destinados a obras de infraestrutura, uma grande carência na época. Foi quando erguemos o prédio de cinco andares do CCE (Centro de Comunicação e Expressão) no campus da Trindade. Foi mais um exemplo de persistência nos gabinetes de Brasília.”

Centro de Comunicação e Expressão da UFSC – Foto: Osvaldo Sagaz/NDTV

A gestão da universidade

“A gestão universitária é uma luta permanente e de enfrentamento a crises, que não são poucas. Geralmente faltam recursos para investimentos e manutenção, e há o problema salarial que sempre afeta professores e funcionários. No meu primeiro período como reitor, entre 1984 e 1988, numa fase de inflação altíssima, precisei conviver com várias greves e manifestações no campus. Cabe ao reitor ir atrás do governo federal, realizar convênios, fazer contratos e conseguir verbas para manter e fazer crescer a instituição. Não desistir à primeira negativa é o segredo para obter os recursos necessários.”

As ideias de um educador

“Sempre defendi a priorização da educação básica, porque sem ela ninguém chega à universidade. No entanto, para ser bem-sucedida, ela precisa de professores com carreira valorizada, com dedicação exclusiva e qualificação permanente. Na Secretaria de Educação de Florianópolis, conseguimos expandir a educação em tempo integral nas escolas infantis e fundamentais, o que exigiu um esforço monumental, mas colocou as escolas em outro patamar. Fomos a primeira prefeitura do Brasil a conseguir com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) um empréstimo para melhorar o nível nessa faixa etária, o que transformou a cidade numa referência no ensino em tempo integral.”

Força para o ensino técnico

“No ensino médio, é importante considerar também a formação técnica, porque os jovens podem exercer uma profissão e continuar estudando. Além disso, há técnicos que são melhor remunerados do que profissionais com formação superior. E investir não é apenas gastar com instalações e equipamentos, mas manter a qualidade. Como reitor, lembro da vontade de expandir o número de cursos e vagas, mas as limitações eram grandes, o que só veio a acontecer mais tarde, com os campi de Araranguá, Joinville e Curitibanos.”

Por mais oportunidades

“Nas duas últimas décadas cresceu o número de universidades, de campi e de institutos federais nos Estados. Há pouco, o governo federal anunciou a criação de mais 120 institutos no país, ampliando a oferta de ensino técnico de qualidade. E há o Prouni (Programa Universidade para Todos), que concede bolsas de estudos para cursos de graduação em instituições privadas. Não há vagas para todos, mas com os programas de inclusão muitos aprovados vêm de baixo. No Brasil, não há falta capacidade, mas de oportunidades.”

Lugar de pluralidade

“A universidade é um local de liberdade por excelência. O caso das vacinas contra a Covid-19 mostrou isso – era preciso pesquisar, encontrar uma solução, independente da posição ideológica de cada um. A universidade não é um espaço de sectarismo e nem de doutrinação em sala de aula. Ela sempre permitiu o surgimento de novos produtos e ideias, e assim o mundo se desenvolveu. Agora, com tanta tecnologia, ela dá a chance de mais gente entrar nesse novo mundo e obter emprego e renda. Sempre vai haver esquerda e direita, mas o que importa é a preservação da lei e da ordem.”

Duas obras relevantes

“Lembro de que a persistência foi essencial para a conclusão do Centro de Cultura e Eventos da universidade, que levou oito anos e meio para ficar pronto. Fiz parcerias com a iniciativa privada e o prédio, hoje uma referência para a cidade, foi finalmente entregue. Foi assim também comecei a ampliação da nova Casa do Estudante, concluída pelo reitor Diomário de Queiroz e que abriga estudantes de famílias carentes que vêm estudar em Florianópolis.”

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