• New Page 1

    RSSFacebookYouTubeInstagramTwitterYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTube  

Judeu conta história de paixão pela filha do nazista Franz Stangl, carrasco de Treblinka e Sobibor

Em Auschwitz, campo de concentração e extermínio da Alemanha nazista, localizado na Polônia, foram assassinados cerca de 1 milhão de judeus (morreram também ciganos, testemunhas de Jeová e prisioneiros políticos).

No livro “Auschwitz — Os Nazis e a ‘Solução Final’” (Dom Quixote, 425 páginas, tradução de Clara Fonseca e Lídia Geer), o historiador britânico Laurence Rees conta a história de um caso de amor entre uma judia, Helena Citrónová, e um soldado da brutal SS, Franz Wunsch.

Para sobreviver, Helena Critrónová aceitou o assédio de Franz Wunsch. Os dois acabaram se apaixonando. Porém, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a jovem judia não quis continuar o namoro com o nazista. Optou por sua história. O horror nazista — o antissemitismo — era e é imperdoável.

Há outro livro esplêndido, “A Mulher do Oficial Nazista — A História Real de Como uma Mulher Judia Sobreviveu ao Holocausto” (Harper Collins, 270 páginas, tradução de Natalie Gerhardt), de Edith Hahn Beer, com a colaboração de Susan Dworkin.

Para sobreviver, Edith Hahn Beer, passando-se por cristã, adotou o nome de Grete Denner. Nascida em Viena, acabou por se casar com o oficial nazista Werner Vetter.

A Werner Vetter, que se apaixonara por ela, Edith Hahn Beer não mentiu. Relatou que era judia. Ainda assim, o nazista decidiu se casar com a jovem e não revelou sua identidade. Em 1947, dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o casal se divorciou.

Sobre rebentos de nazistas há um livro esclarecedor. “Filhos de Nazistas — Os Impressionantes Retratos de Família da Elite do Nazismo” (Vestígio, 238 páginas, tradução de Fernando Scheibe), de Tania Crasnianski. Conta-se a história dos filhos de Himmler, Göring, Rudolf Hess, Hans Frank, Martin Bormann, Rudolf Höss, Albert Speer e Josef Mengele. A filha do nazista austríaco Franz Paul Stangl (1908-1971) não é mencionada na obra. O nazista operou o assassinato de cerca de 1 milhão de judeus em Sobibor e Treblinka — este, um dos mais letais. (Não li “Os Filhos de Hitler — Aa História dos Filhos e Filhas de Líderes do Alto Escalão do Terceiro Reich Após o fim da Segunda Guerra Mundial”, de Gerald Posner.)

No Brasil, para onde fugiu, Franz Stangl se tornou funcionário da Volkswagen. Nem sequer mudou o nome. Foi preso e extraditado para a Alemanha, onde morreu, aos 63 anos. Detido, ele foi reconhecido pelo judeu polonês Stanislaw Szmajner, um sobrevivente de Sobibor que morava em Goiânia.

O nazista, Ingrid e Gabriel

A reportagem “Ele sobreviveu ao Holocausto. No Brasil, amou a filha de oficial nazista. Agora, conta essa história”, de Julia Queiroz, do “Estadão” (edição de 24 de abril de 2024), relata a história do namoro entre o judeu Gabriel Waldman e a filha de Franz Stangl.

Gabriel Waldman ouviu de Celso Lafer, seu amigo, que deveria contar sua história. “Ele olhou para mim e disse: “Gabriel, você tem que escrever sobre isso. Isso é uma coisa que não se pode deixar em branco”. Depois, o discípulo da filósofa Hannah Arendt, acrescentou a frase famosa da escritora dinamarquesa Karen Blixen: “Toda grande dor pode ser suportada se você escrever sobre ela”. O aforismo era um dos preferidos da autora de “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal” (Companhia das Letras, 342 páginas, tradução de José Rubens Siqueira).

Com a frase na cachola, Gabriel Waldman decidiu sentar-se à mesa e escrever um livro sobre seu relacionamento com a filha de Franz Stangl. “Ingrid — A Filha do Comandante” (Buzz, 160 páginas), uma história romanceada — com fatos, ou seja, informações reais —, é um relato de encontros e desencontros. É uma “biografia literária”.

A filha de Franz Stangl era nazista? Talvez não. Mas como escapar das “garras” da terrível história do pai — um assassino contumaz? Impossível, talvez. Por isso, decerto, o relacionamento entre Ingrid e Gabriel Waldman não foi adiante. Ficou como uma possibilidade — uma reunião de diferenças não combináveis.

Os nazistas de Adolf Hitler, Heinrich Himmler e Adolf Eichmann invadiram a Hungria em 1944. Laurence Rees relara que 438 mil húngaros foram levados para Auschwitz. Entre eles estavam o pai e parte da família de Gabriel Waldman. Todos morreram.

Gabriel Waldman: adulto e criança | Fotos: Reproduções

Enfrentando a fome, a sede e os algozes da família, Gabriel Waldman e sua mãe escaparam. Ao término da Segunda Guerra Mundial, com a chegada dos soviéticos, escaparam para a Áustria, em 1949. Em 1952, mudaram-se para o Brasil, onde, como se diz no interior, “quetaram”.

Em São Paulo, os adolescentes Gabriel Waldman e a alemã Ingrid se apaixonaram. Mas a filha de Franz Stangl despachou o garoto — sem mais nem menos. Ele ficou desentendido. Mas tudo levar a crer que teve a ver com o fato de ele ser judeu e uma das vítimas do nazismo. Pois perdeu o pai exatamente num dos campos operados pelo nazismo — Auschwitz.

Embora visitasse a casa de Ingrid, convivendo com seus pais — Franz Stangl comportava-se de maneira civilizada e mãe de modo arredio —, o jovem Gabriel Waldman não sabia que estava convivendo com um matador de judeus.

Mais tarde, leu num jornal brasileiro que Franz Stangl, o oficial nazista da SS, havia sido extraditado do Brasil. Porque a garota namorou um judeu, cujo pai havia sido morto num campo de extermínio? Gabriel Waldman não sabe responder e ela, aparentemente, não deixou testemunho. Talvez tenha a ver com as coisas do coração — aquelas que a razão, por vezes, desconhece.

Franz Stangl: carrasco de Sobibor e Treblinka — 1 milhão de mortos | Foto: Reprodução

A história deixou Gabriel Waldman chocado. “Eu enterrei isso no meu âmago, bem no fundo”, disse ao “Estadão”. Ele tem 86 anos.

Formado em Administração de Empresas, Gabriel Waldman casou-se, teve dois filhos e se dedicou por anos apenas ao trabalho e às leituras. Porém, para se livrar da “maldição”, que destruiu boa parte de sua família, decidiu contar sua história.

Ingrid não é o nome verdadeiro da filha de Franz Stangl. Talvez por delicadeza — a filha não é responsável pelos atos do pai —, Gabriel Waldman decidiu mantê-lo no anonimato.

Waldman ainda sente calafrios

“A história é uma biografia literária. O fato é absolutamente verdadeiro. Obviamente, eu não me lembro mais de cada diálogo ou de cada acontecimento. Isso, em grande parte, é ficção”, disse Gabriel Waldman ao “Estadão”.

O livro conta que Gabriel Waldman namorou Ingrid uma vez. Mas, na realidade, namorou duas vezes. A primeira se deu quando tinha 15 anos. “Eu pensava nela com saudade, mas nos separamos.”

Mais tarde, trabalhando na Volkswagen, Gabriel Waldman encontrou-se com Ingrid, então descasada. Ela não tinha filhos e ele era solteiro. Começaram a namorar. Franz Stangl continuava a trabalhar na montadora alemã. “Eu frequentava muito a casa dela. Lá, eu conheci os pais dela — o pai especialmente.”

“Mesmo agora, pensando nisso, fico com calafrios. É inimaginável. Eu não posso conceber que esse homem, que eu conhecia, tenha sido um assassino de 1 milhão de pessoas. 800 mil em Treblinka e 200 mil em Sobibor”, assinala Gabriel Waldman.

No livro, Gabriel Waldman escreve: “O diálogo gera, no máximo, desentendimento. Mas o que é varrido para debaixo do tapete gera suspeita ou mesmo rancor”.

Perceptiva, a repórter de “O Estado de S. Paulo” diz: “Às vezes, a dor nos afunda, mas o senhor parece ter uma leveza ao falar. Como encontrou forças para continuar o seu caminho?” Gabriel Waldman não titubeia: “Índole. Eu não sou de guardar rancores, sou otimista por natureza. Não sei se consegui superar. Nunca fiz psicanálise. Provavelmente, ela revelaria muitas coisas que não sei de mim mesmo. Mas, hoje, sei lidar com tudo isso”.

Gabriel Waldman diz que sobreviveu para escrever livros. Ele também faz palestras sobre intolerância. “Não só o antissemitismo, mas contra qualquer intolerância.”

O que os indivíduos precisam aprender sobre o Holocausto — o Shoah (ou Shoá)? “Que ele existiu — e jamais poderá acontecer de novo. No entanto, pode acontecer de novo se eles não se acautelarem.”

História de uma paixão em Auschwitz

História da paixão de um militar da SS nazista por uma judia no campo de extermínio de Auschwitz

O post Judeu conta história de paixão pela filha do nazista Franz Stangl, carrasco de Treblinka e Sobibor apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.