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#MulherdePreso: conheça a rotina das casadas com detentos

Conhecidas nas redes sociais como “cunhadas”, as mulheres casadas com detentos passaram a compartilhar as suas rotinas nas redes sociais a partir da hashtag #MulherDePreso, que se tornou um fenômeno nas redes nos últimos anos. A ideia de postar o dia a dia, de acordo com elas, é para se sentirem menos solitárias, mais acolhidas e, também, para auxiliar outras que passem pela mesma situação. 

A manicure Amanda Pereira, de 24 anos, passou a compartilhar a sua rotina no TikTok por todos esses motivos e também para se distrair. Ela fala que a vida de quem tem o companheiro longe de casa e preso “não é fácil” e é “solitária”. “É tudo nas minhas costas, casa, filho, carro”, diz ela, que mora no interior de São Paulo, mas preferiu não revelar em que cidade à reportagem. 

Ainda na adolescência, a manicure conheceu o seu companheiro e, quando estavam juntos, ele havia abandonado o mundo dos crimes. Eles tinham uma tabacaria em frente à casa onde moravam, porém, durante a pandemia o comércio fechou.

Com o dinheiro apertado e a esposa grávida, o parceiro dela entrou em desespero e avisou Amanda que estava saindo para roubar. “A gente brigou feio por isso, não aceitava esse tipo de coisa. Quando desisti da conversa, falei para ele ‘vai, mas você sabe que pode ser que você não volte. Se não for preso, você sabe o destino”, disse. 

Ele foi preso, condenado a 6 anos e 7 meses. 

Na época, ainda na pandemia, a visita aos presídios não era permitida, e Amanda só conseguia ter notícias e se comunicar com o marido a partir de videochamadas de 15 minutos. 

Rotina

Assim que as visitas foram liberadas, Amanda passou a ver o marido sempre que possível, mesmo enfrentando muitos desafios. Para chegar ao presídio eram oito horas dentro de um ônibus. A mulher precisou contar com a ajuda da mãe, para ficar com o filho, pois ainda não era permitida a ida de crianças ao local, uma restrição por conta da pandemia do Covid-19. 

Porém, desde quando passaram a permitir a entrada das crianças, o filho começou a comparecer em todas as visitas com a mãe. “Nós dormíamos em barracas, na frente da cadeia, porque era muito longe para voltar para casa. Saímos um dia antes, e a visita era muito cedo”, disse. Para as visitas, a manicure disse que precisa sempre mudar a rotina e se adequar no trabalho. 

Para as “cunhadas”, a rotina de visita começa dias antes da data em si. Amanda compartilha que, como muitas outras mulheres com maridos presidiários, ela trabalha bastante nos dias que antecedem a visita, pois deve fazer o mercado, preparar as comidas que levará e organizar a viagem. 

Nas redes sociais, ela mostra as compras do “jumbo”, como são chamados os pacotes ou encomendas enviados aos detentos, e a preparação dos pratos preferidos do companheiro, como bolos e pães. Ela também revela como se faz para tirar a senha da visita. E outro fenômeno do TikTok que faz parte da rotina delas são os famosos “Arrume-se comigo”, que são virais na Internet. 

É quando as mulheres mostram como se arrumam, se penteiam e se vestem para o grande dia do reencontro.

 

 

A dona de casa Nayara Katlen, de 24 anos, compartilha nas redes que tudo começa às terças-feiras, dia em que vai ao mercado para comprar o “jumbo” para levar ao centro penitenciário onde está seu marido. Às quartas-feiras, é o dia de retirar a senha pelo Telegram. Nas quintas, ela prepara as comidas. Por fim, a viagem para a penitenciária é realizada na sexta. 

Ela conta que uma das maiores dificuldades é a questão financeira. Como o marido está em uma penitenciária mais próxima, a jovem passou a visitar o marido toda semana. “Meu marido preso gasta mais do que o meu filho em casa”, diz ela, calculando que, em média, os gastos que tem com as passagens de ônibus e as comidas e produtos de higiene que leva ao detento giram em torno de R$ 400 por semana. 

Além da questão financeira, ela relata a surpresa de saber sobre os itens que vão ou não entrar no centro. “Às vezes, é uma grande caixinha de surpresa, porque, mesmo que o visitante faça tudo certo, o agente penitenciário pode decidir que tal item não vai entrar e o gasto foi à toa”, disso Nayara. 

Preconceito 

A “cunhada” Nayara conta que os comentários maldosos ainda a abalam, pois também mexem com a sua família. “As pessoas acham que a gente não tem valor, que a gente vai lá só para fazer amor e pronto. Não é só porque o cara está preso que ele não tem família”, disse a jovem. 

Mas ela relata que o preconceito não acontece apenas nas redes sociais. Pouco depois que o marido foi detido, Nayara estava trabalhando em uma agência bancária, mas quando descobriram que o companheiro vivia no cárcere ela foi demitida. 

Socialmente, Nayara conta que tem receio de falar onde o marido está quando a indagam. Ela sempre costuma responder que está trabalhando, com medo do preconceito. 

Já Amanda lida com comentários maldosos que, hoje, não a abalam mais, e responde nos vídeos. “No começo era muito difícil, eu não sabia lidar. Depois, tive que colocar na consciência que minha conta era pública, e eu tinha que aprender com aquilo..” 

Ambas contam que produzir vídeos para o TikTok deixa suas rotinas menos solitárias. Pois, mesmo com os comentários negativos, outras “cunhadas” e familiares passaram a se ajudar e se inspirar nelas.

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