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No ‘paraíso’, Madonna conta sua vida para uma platéia histórica no Rio de Janeiro

Senhora dos palcos, Madonna sempre fez o afago certo para animar uma plateia. Mas o elogio proferido para o público estimado em 1,6 milhão de pessoas neste sábado, na praia de Copacabana (Rio), não foi, de modo algum, gratuito. “Estou no paraíso”, disse ela, fazendo referência ao fato de estar cercada pelo Oceano Atlântico, pelas montanhas e ainda abençoada pela estátua do Cristo Redentor. A cantora americana  estava certa: mais do que uma nova data na sua turnê, sua performance foi uma comunhão entre um artista e seus fãs como poucos que viram no showbiz nacional.

Antes de nos debruçarmos sobre a apresentação em si, vamos esclarecer pequenas polêmicas que foram disparadas ao longo da semana. Sim, o show de Madonna custou 60 milhões de reais, sendo que 20 saíram dos cofres da prefeitura e do estado do Rio. Por outro lado, a cidade teve um retorno de 300 milhões por causa do aumento dos turistas para o evento. 

Madonna não traz banda. Salvo raras exceções, como a guitarra do filho David Banda em “La Isla Bonita” e da filha Mercy James ao piano em “Bad Girl”, tudo é pré-gravado. Inclusive a maior parte dos vocais. É, contudo, um recurso cada vez mais comum no entretenimento. Em nome da perfeição, que tem a pompa e a precisão de um musical da Broadway, perde-se a espontaneidade do ao vivo, onde uma nota pode soar fora do lugar ou um solo alongado comprometa a execução das coreografias –essas, sim, ao vivo e complicadíssimas. Uma delas é executada por Estere, outra herdeira da popstar americana.

A intérprete de “Like a Prayer” pode até não ter cantado, mas enfrentou um inimigo cruel e traiçoeiro: o calor do Rio. Por várias vezes, ela demonstrou um cansaço além da conta e parecia derreter diante da quentura da cidade.

“Celebration”, a mais recente turnê de Madonna (e, segundo muitos, a última na qual irá exercer seus exercícios coreográficos), é nada menos que a biografia da popstar nascida com o nome de Madonna Veronica Louise Ciccone, no dia 16 de agosto de 1958. Embora ela comece de verdade após sua mudança do estado de Michigan para Nova York, ela dá pistas de sua infância e adolescência em suas composições mais confessionais –por exemplo, na balada “Mother and Father”. 

Um dos prazeres do repertório de “Celebration” é justamente perceber como Madonna se conectou com cada gênero a qual foi apresentada e de que maneira fatos significativos de sua biografia foram transformados em composição. “Burning Up”, por exemplo, é uma canção de seu disco de estreia, lançado em 1983, e que faz referência ao movimento punk e new wave da Nova York do final dos anos 1970. Uma canção do Chic, grupo de disco music, é escutada ao fundo antes dela tocar “Holiday”, também de seu disco de estreia –e depois o refrão da mesma canção acaba adicionado no hit de Madonna. Outro detalhe: “Like a Virgin”, de 1985, teve como produtor Nile Rodgers, mentor do Chic.

A canção seguinte é “Live to Tell”, na qual Madonna presta homenagem às vítimas da Aids –entre elas o artista gráfico Keith Harring, o roqueiro Freddie Mercury, e os brasileiros Cazuza, Renato Russo e Betinho. Trata-se de um dos momentos mais icônicos do espetáculo: o “Holiday” que parecia nunca terminar, é interrompida pela chegada do vírus da Aids.

“Like a Prayer”, de 1989, é tocada na sequência. O prazer, então, vira pecado (num dos muitos momentos em que os dançarinos se sobressaem). E tudo termina com um solo de guitarra que faz referência a Prince, popstar americano que como poucos misturou prazer a devoção em suas criações. Algumas canções depois, Michael Jackson, outro ídolo, surge numa combinação de seu sucesso “Billie Jean” com “Like a Virgin”.

Madonna, a exemplo de David Bowie (um de seus ídolos) sempre foi mestra em identificar uma nova cena musical, adaptá-la para o seu universo e depois traduzi-la para as grandes massas. Em “Celebration”, esse poder fica mais do que evidente: do vogue dancing de “Vogue” (que contou com participação da brasileira Anitta) ao techno de “Ray of Light”, da dance music de “Hung Up” ao funk brasileiro, que surgiu numa leitura empolgante de “Music”–e aqui contou com outra diva made in Brazil, a drag queen Pabllo Vittar.

A biografia da cantora americana não estaria bem contada se resumisse somente à parte musical. A Madonna transgressora se faz presente em beijo gay, masturbação e simulação de sexo oral –com direito a um fio dental com as cores do Brasil. Em suma, uma defesa das liberdades individuais e o direito de ter prazer. O final apoteótico, onde cada bailarino e bailarina representa uma fase de Madonna, mostra também sua contribuição na moda e na estética. Se a popstar estava certa de estar no paraíso, o público teve a certeza de ter visto Deus. E ele é mulher.

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