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Pesquisadores catarinenses estudam os benefícios do araçá para a saúde

O tronco castanho-avermelhado e as folhas verdes do pé de araçá se parecem com uma goiabeira. O formato da fruta também lembra uma goiaba quando ela ainda se encontra na fase inicial de desenvolvimento.

Os laços botânicos entre o araçá e a goiaba são ainda mais estreitos. As duas árvores frutíferas são da família Myrtaceae que agrupa 132 gêneros de plantas e mais de 5.950 espécies de arbóreas ou arbustivas como cientificamente estão catalogadas estas variedades da fauna.

Pesquisadora Mariama Bacci é uma das responsáveis pelo projeto Ateliê Tabuleiro – Foto: Paulo Mueller/ND

O pé de araçá é nativo da Mata Atlântica e comum no litoral de Santa Catarina. O período de produção e amadurecimento da fruta vai de dezembro até abril. A colheita é mais frequente de fevereiro a abril.

As três variedades mais comuns são o araçá amarelo, vermelho e o do campo, que tem a tonalidade amarelada, mas o tamanho é menor. Outra curiosidade da fruta está relacionada ao nome. “Tem origem indígena Guarani, que significa fruto com olho”, explica a bióloga Juliana Roemers.

Por ser uma árvore não muito volumosa em galhos e folhas, ela pode ser facilmente plantada no quintal de uma casa. A planta se adapta bem tanto em ambientes sombreados quanto ensolarados, mas em geral gosta de bastante umidade, por isso o único cuidado é em períodos de seca quando o recomendado seria regar a árvore. O araçá pode chegar a medir até seis metros de altura.

No Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, em Palhoça, a maior unidade catarinense de conservação e proteção integral do meio ambiente, o araçá é encontrado em abundância por se adaptar bem em ambientes de restinga.

O coordenador do Parque da Serra do Tabuleiro, o biólogo Marcos Maes, mostra as últimas frutas colhidas na temporada – Foto: Paulo Mueller/ND

O coordenador do parque, Marcos Maes, esclarece que o araçá é uma árvore frutífera essencial para o equilíbrio do bioma e do ecossistema vivo da região. “Por ele ter uma ampla distribuição, frutificar em um período longo e as frutas serem bem carnosas, ele tem uma importância muito grande para a biodiversidade. A gente tem diversas espécies que se alimentam da fruta: desde primatas até as antas e as aves. Então ela é uma base para as outras espécies”, contextualiza.

As potencialidades do araçá

Da produção de móveis, passando pela alimentação e pelo uso medicinal, o araçá tem muitas potencialidades. Praticamente todo o pé do araçá é aproveitado. As folhas servem para tingir papel e tecido. A casca pode ser aproveitada no curtimento de peles.

A madeira é utilizada na produção de móveis. A planta é utilizada no ramo da ornamentação e a indústria de aromas extrai compostos para a fabricação de óleos essenciais. Além disso, é uma opção de plantio para recuperação de áreas degradadas.

Na medicina popular, raízes e folhas são ingredientes para chás. Desde 2021, pesquisadores estudam as propriedades de plantas medicinais e alimentícias da Mata Atlântica encontradas no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

A geógrafa Mariama Bacci é uma das responsáveis pelo projeto Ateliê Tabuleiro. “A gente chama muitas das plantas de mato porque não conhece, mas que são plantas com grande potencial para alimentação e no uso medicinal.”

A iniciativa nasceu no pós-pandemia, no centro de visitantes do parque para promover nas comunidades locais o senso de preservação ambiental, além de difundir os saberes relacionados à diversidade da fauna do parque.

Projeto ensina comunidade a fazer as bombas de sementes de araçá (acima) para restaurar a Mata Atlântica com pés de araçá – Foto: Paulo Mueller/ND

Ano passado, 352 estudantes da Escola de Educação Básica Padre Vicente Ferreira Cordeiro, em Palhoça, passaram pelas atividades. O projeto conseguiu promover o elo do parque com a comunidade.

O consumo, a utilização, o contato com os frutos e com as plantas nativas têm a capacidade de conectar pessoas e meio ambiente. “Não é só observar. A gente descobriu com este trabalho que experimentar também é se conectar com a natureza e gerar este vínculo de afetividade”, diz a geógrafa.

“O araçá é bem especial para gente. Nós temos trabalhado com o uso da fruta in-natura, o consumo e a valorização da espécie para as pessoas conhecerem”, ressalta.

O resultado dos estudos integra o Guia Etnobotânico, que reúne informações de 50 plantas pesquisadas. “Uma delas é o araçá. Temos no guia toda a questão da ecologia do araçá, os usos, o potencial bioativo e algumas receitas”, conta. O material, gratuito, pode ser baixado no site.

Juliana mostra o Guia Etnobotânico do projeto Ateliê do Tabuleiro, que apresenta plantas, utilizações e receitas – Foto: Paulo Mueller/ND

Na oficina Sabores e Saberes, a comunidade aprende a usar o araçá na culinária; na bomba de sementes de araçá, usam sementes da Mata Atlântica e fazem as bombas com sedimentos da própria região e dispersa pelos locais que precisam ser restaurados. “Uma das espécies que a gente utiliza na restauração é o araçá”, explica Mariama.

Fruta tem mais vitamina C do que a laranja e o limão

O araçá tem alto valor nutricional e o consumo pode ajudar a reduzir os níveis de colesterol total, LDL e gordura no fígado. Produtos feitos a partir da fruta, a exemplo de sucos, têm boa concentração de sais minerais como cálcio, ferro e fósforo, além de baixo índice de açúcar.

No quesito vitamina C, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) fez uma comparação entre a laranja e no araçá, que apontou que o fruto do araçazeiro tem até três vezes mais vitamina C em relação à laranja.

A nutricionista Ana Luiza Dutra de Menezes conta que o limão também é bastante associado à vitamina C e dificilmente alguém lembra do araçá. “Mas o araçá é uma excelente fonte desta vitamina que é tão importante para o sistema imunológico e além disso ajuda na absorção de ferro pelo organismo”, reforça.

Sementes de araçá – Foto: Paulo Mueller/ND

Outro potencial para a saúde está nos antixiodantes. “O araçá é riquíssimo em antioxidante, fundamental para gente combater os radicais livres que são as moléculas instáveis causadoras de danos nas nossas células e do envelhecimento precoce”, pontua Ana Luiza.

Além de ajudar na proteção da pele, a fruta é uma boa fonte de fibra auxiliando a regular a saúde intestinal. A nutricionista reforça que a ingestão de fibras promove a sensação de saciedade o que ajuda quem está em um processo de emagrecimento, por exemplo.

Sabores, saberes e a valorização da produção regional

Talita Sell é confeiteira e tem uma fábrica de alimentos em Paulo Lopes, na Grande Florianópolis. Ela descobriu o projeto Ateliê Tabuleiro e foi aprender como aproveitar melhor as frutas nativas da região.

Na oficina voltada à gastronomia, aprendeu novas maneiras de consumir e usar o araçá na culinária. “A semelhança do araçá com a goiaba faz com que a gente remeta a produtos paralelos. Você pode fazer desde geleia, doces, catchup e sucos”, relaciona a confeiteira.

Criativa, a Talita, que é filha de agricultores, inovou e ousou. Criou uma releitura de um tradicional doce presente em todos os cantos dos Estados Unidos. Ela deu um toque brasileiro ao cheesecake americano e colocou o araçá na receita.

Talita Sell, confeiteira faz cheesecake de araçá – Foto: Paulo Mueller/ND

“Desde sempre nós trabalhamos com frutas nativas e produtos regionais da agricultura familiar, porque entendemos a importância de valorizar e incentivar a produção regional, o cultivo e a comercialização destes produtos”, enaltece.

O mais complicado é encontrar a fruta. Em Santa Catarina não existe cultivo do araçá em escala comercial. Tanto que a produção nem é monitorada pela Epagri.

Segundo o IBGE, o araçá é produzido em maior volume em Alagoas, Amazonas, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Conforme os dados de 2022, último divulgado pelas Reagro (Reuniões de Estatísticas Agropecuárias), naquele ano foram colhidas 55 toneladas de araçá nestes Estados. O valor da produção foi calculado em R$ 200.840. A fruta geralmente é encontrada em feiras de produtos orgânicos.

Maiores produtores de araçá – Foto: ND

Para a confeiteira, o araçá está desaparecendo. “Precisamos incentivar o consumo porque, se de um lado tiver pessoas criando produtos com esta fruta, a gente também terá agricultores do outro lado produzindo e gerando renda no campo”, explica. Vale ressaltar que no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro a colheita do araçá só é permitida para as pesquisas e oficinas realizadas com a comunidade.

Cheesecake de araçá – versão brasileira

Por Talita Sell, confeiteira

Cheesecake de araçá – Foto: Paulo Mueller/ND

Ingredientes

  • 200g de biscoito maisena 100g de queijo ricota*
  • 2 envelopes de gelatina sem sabor
  • 2 colheres de sopa de manteiga sem sal
  • 3 xícaras de polpa de araçá
  • 1 ¼ de xícara de açúcar
  • 1 lata de leite condensado
  • 1 lata de creme de leite*
  • ½ copo de requeijão
  • ½ colher de café de suco de limão
  • ½ xícara de água
  • *A ricota pode ser substituída por tofu e o creme de leite por creme de castanhas.

Preparo

Misture os biscoitos triturados com a manteiga. Coloque a massa em uma forma de aro removível e leve ao forno com temperatura de 180ºC por dez minutos.

No liquidificador bata o leite condensado, o creme de leite, a ricota, o requeijão e a gelatina dissolvida em banho-maria. Transfira o conteúdo para a forma e leve para geladeira por quatro horas.

Leve a polpa de araçá ao fogo baixo com o açúcar. Adicione o suco de limão e deixe cozinhar até o ponto de geleia e cubra a torta.

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