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Ucranianos detidos em prisões russas são usados como moeda de troca, diz Ucrânia

“Queridos mamãe e papai, estou vivo e bem. Estou indo bem. Dima”. Escrita à mão em um pequeno pedaço de papel, esta é a única mensagem que Halyna e Vasyl Khyliuk receberam do seu filho Dmytro Khyliuk, conhecido como Dima, desde que ele foi capturado pelas tropas russas há mais de dois anos.

O jornalista ucraniano foi detido em março de 2022 durante a ocupação da sua aldeia, Kozarovychi, a norte de Kiev. Até onde seus pais sabem, o correspondente de 49 anos da Agência de Informação Independente Ucraniana foi transferido para a Rússia, onde ainda se encontra detido apesar de – segundo o seu advogado – nunca ter sido condenado ou acusado.

O governo ucraniano afirma que há milhares de pessoas como Dima detidas pela Rússia e mantidas em detenção arbitrária durante anos. Kiev confirmou oficialmente cerca de 1.700 casos, mas pesquisadores de direitos humanos estimam que o número real seja cinco a sete vezes maior.

Ao todo, cerca de 37 mil ucranianos – civis adultos e crianças, e militares – estão desaparecidos, de acordo com o gabinete do Provedor de Justiça ucraniano, que afirma que as pessoas ainda estão sendo capturadas em áreas sob ocupação russa. A CNN não pode verificar de forma independente o número de detidos.

Muitos dos detidos foram transferidos para prisões no interior da Rússia, mantidos ao lado de criminosos e prisioneiros de guerra, em violação do direito humanitário internacional. Grupos de direitos humanos identificaram cerca de 100 centros de detenção em toda a Rússia e áreas ocupadas da Ucrânia onde estão detidos civis, incluindo vários que foram abertos ou ampliados especificamente para os acomodar.

“Os russos querem reconhecer muitos deles como combatentes militares e dar o estatuto de prisioneiros de guerra… a principal razão é (construir) um banco de prisioneiros de guerra para trocas”, disse o comissário de direitos humanos da Ucrânia, Dmytro Lubinets, à CNN em Kiev.

Lubinets disse que reconhecer civis ucranianos como prisioneiros de guerra seria ilegal e perigoso, porque colocaria os ucranianos em áreas ocupadas em maior risco de serem detidos para serem usados como moeda de troca.

“Essas pessoas não são prisioneiros de guerra; eles são reféns civis. Utilizo essa palavra para enfatizar o que a Federação Russa está fazendo – mantém civis como reféns”, disse ele.

Sob as Convenções de Genebra, que regulam a condução dos conflitos armados, a tomada de reféns é explicitamente proibida. As partes em conflito podem internar pessoas, incluindo civis. Mas as regras sobre quem pode ser detido, porquê e por quanto tempo são rigorosas.

Halyna e Vasyl Khyliuk olham para uma foto de seu filho, prisioneiro da Rússia, em sua casa em Kozarovychi, Ucrânia / Ivana Kottasova/CNN

“A regra é que não é uma punição”, disse Achille Després, da filial de Kiev do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), à CNN, acrescentando que os civis só podem ser detidos se for “necessário” por “razões imperativas de segurança”.

O governo ucraniano e várias organizações internacionais afirmam que a Rússia está cometendo crimes de guerra ao deter pessoas como Dima.

As preocupações com as detenções arbitrárias de civis ucranianos pela Rússia são tão graves que 45 membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) lançaram uma investigação especial sobre a questão em fevereiro, com o objetivo de encontrar formas de responsabilizar a Rússia.

Busca desesperada

Falando à CNN na sua casa em Kozarovychi, que já foi libertada e parcialmente reparada por voluntários ucranianos, os Khyliuks recordaram o horror da captura do seu filho e a incerteza da sua detenção contínua.

Nas primeiras semanas da guerra, as tropas russas tomaram conta da sua casa, estacionando um tanque no jardim e roubando qualquer coisa de valor. Os Khyliuks estavam abrigados na casa de um vizinho, se aventurando para fora apenas ocasionalmente para conseguir suprimentos. Foi durante uma dessas saídas que Dima e Vasyl se viram cercados por um grupo de soldados russos armados com metralhadoras.

“Eles colocaram uma espécie de jaqueta sobre nossas cabeças e taparam nossos olhos, para que não pudéssemos ver nada. Dima e eu estávamos separados. Então, uma semana depois, eles nos levaram para Dymer. Passamos duas noites lá juntos. Estava frio, o chão era de cimento, não tinha aquecimento. Eu estava vestindo uma jaqueta de inverno, mas Dima estava usando uma jaqueta leve e galochas”, disse Vasyl, que foi liberado após oito dias.

Quando eles não voltaram para casa, Halyna disse que ficou desesperada, percebendo que os russos tinham capturado-os. “Eles pegaram muita gente naquela época, pegaram quem viam. Aqueles que eles não precisavam, torturavam um pouco e os deixavam ir. Mas Dima e outras seis pessoas estão na prisão há dois anos”, disse ela, com lágrimas nos olhos.

Os pais de Dmytro Khyliuk foram repetidamente informados pelas autoridades russas de que ele não estava na Rússia – apesar dos depoimentos de testemunhas oculares. / Família Khyliuk/Arquivo Pessoal

A Rússia se tornou um buraco negro de informação que muitas famílias, autoridades e organizações não-governamentais (ONG) ucranianas têm que confiar no boca-a-boca de ex-prisioneiros para receberem notícias sobre pessoas que ainda estão detidas.

Anastasiia Pantielieieva, pesquisadora e jornalista que documenta casos de detenções de civis e desaparecimentos para a Media Initiative for Human Rights (MIHR), uma ONG ucraniana, disse que, com base em depoimentos de testemunhas, Dima foi brevemente detido em dois centros de detenção improvisados em áreas ocupadas da Ucrânia antes de ser transferido para um centro de detenção provisória em Novozybkov, na região russa de Bryansk.

Ela disse que o último avistamento documentado de Dima por uma testemunha foi na Colônia Penal Número 7, na região de Vladimir, na Rússia. A certa altura, a MIHR recebeu indicação de que ele poderia ser transportado para outra instalação na Mordóvia, uma região russa a sudeste de Moscou, mas Pantielieieva disse que as autoridades russas não confirmaram esta informação.

Moscou negou repetidamente a detenção de Dima, apesar de numerosos relatos que de ele estava em centros de detenção na Rússia. O Comitê de Investigação Russo e o Serviço Prisional Russo em Bryansk informaram oficialmente o advogado dos Khyliuks, em dezembro de 2022 e janeiro de 2023, que ele não estava na Rússia e que não tinham informações sobre ele.

A nota manuscrita de Dima era datada de abril de 2022, embora seus pais só a tenham recebido em agosto daquele ano. Então, em maio de 2023, os Khyliuks disseram que o CICV os telefonou para confirmar que o filho estava vivo.

Mas foi só em março deste ano, dois anos após a sua detenção, que o Ministério da Defesa russo admitiu que Dima tinha sido detido e estava na Rússia, em uma carta aos seus pais. Eles não forneceram nenhuma informação sobre sua localização ou condição.

“Já tivemos casos em que mesmo pessoas que são submetidas a julgamentos, julgamentos públicos, onde vimos fotos do tribunal, mesmo nesses casos, os familiares não teriam documentos oficiais, nada que confirmasse oficialmente que as pessoas estão em território da Federação Russa”, disse Pantielieieva.

A nota manuscrita que Halyna e Vasyl Khyliuk receberam de seu filho Dima / Ivana Kottasova/CNN

De acordo com o direito internacional humanitário, em tempos de conflito, o CICV deve ter acesso regular aos detidos para verificar se estão sendo tratados humanamente e para reconectá-los com suas famílias. A pessoa também deve ser informada do motivo pelo qual está mantida ali e poder recorrer da decisão.

Funcionários da Inteligência de Defesa Ucraniana disseram à CNN que acreditam que o Serviço Federal de Segurança Russo (FSB) e a Guarda Nacional Russa são os principais impulsionadores das prisões e detenções de civis ucranianos. Nenhum dos dois respondeu aos pedidos de comentários da CNN.

A CNN também fez vários pedidos aos ministérios da defesa e do interior russos, ao gabinete do provedor de justiça russo, à Direção de Programas Especiais do Presidente da Federação Russa e à Direção Principal do Estado-Maior General (GRU) para obter informações sobre os casos específicos mencionados nessa história. Eles não responderam.

Detido secretamente por meses

Para as famílias dos detidos, tentar navegar no aparelho de segurança da Rússia faz parte do seu pesadelo.

Yulia Khrypun passou mais de dois anos entrando em contato com todas as autoridades russas que pôde imaginar, tentando desesperadamente encontrar informações sobre o seu pai, Serhii. Quando ela recebia respostas oficiais, muitas vezes incluíam informações conflitantes.

“Uma instituição me informou oficialmente que ele foi detido por resistir à ‘operação militar especial’, enquanto outras disseram que ele nunca cruzou a fronteira para a Rússia”, disse ela. A CNN viu alguns dos documentos enviados a ela.

Serhii Khrypun foi detido em Nove, uma aldeia perto de Tokmak, no sul da Ucrânia, onde trabalhava como segurança em uma fazenda. A área estava sob ocupação há cerca de duas semanas quando, em uma manhã de março de 2022, Serhii ligou para Yulia para dizer que um novo grupo de soldados russos tinha chegado em dois caminhões.

“E essa foi nossa última conversa por telefone. Depois disso, não tivemos informações sobre ele por dois dias”, disse ela. “Me parece que naquele momento ele já sabia que seria levado embora. Ele ligou para todo mundo: eu, sua mãe e irmã, e seu amigo”.

Yulia Khrypun recebeu informações conflitantes sobre seu pai de diferentes autoridades russas – algumas disseram que ele nunca chegou à Rússia, enquanto outras alegaram que ele estava lá / Yulia Khrypun/Arquivo Pessoal

Yulia conseguiu descobrir o que aconteceu porque a prisão de Serhii foi filmada por uma câmera de segurança da fazenda; ela disse que parecia muito com um sequestro. Quando os soldados russos chegaram, revistaram ele e ao seu colega antes de começarem a despi-los, mostrou o vídeo. “Depois disso, colocaram um saco na cabeça dele e o levaram embora”, disse ela.

Yulia foi informada por ucranianos levados para as mesmas instalações que o seu pai – um edifício governamental em Tokmak – que ele esteve detido lá durante cerca de duas semanas. Eles também disseram que foram espancados pelas tropas russas.

“Ele foi então levado para Melitopol, onde o mantiveram por três semanas, depois para Olenivka, e de lá para Kursk (na Rússia), depois para a Crimeia”, disse ela, citando o que ouviu de várias testemunhas oculares que foram detidas com o pai dela.

Um deles a contatou após sua libertação, sabendo apenas o nome dela e o local de trabalho de Serhii. Outros foram entrevistados por ONGs ou autoridades ucranianas. Com base nesses relatos, ela acredita que o seu pai está agora em um centro de detenção em Kamensk-Shakhtinsky, uma cidade na região russa de Rostov, perto da fronteira com a Ucrânia.

A Rússia mantém tantos detidos ucranianos que teve de ampliar várias prisões e centros de detenção preventiva existentes para os acomodar. De acordo com o gabinete do Provedor de Justiça ucraniano, uma dessas instalações foi criada em Chonhar, no extremo sul da região de Kherson, ocupada pela Rússia, próximo a uma ponte para a península da Crimeia, anexada pela Rússia.

O FSB e outras agências de segurança russas conduziram uma campanha em grande escala de detenções e desaparecimentos forçados na Crimeia desde que a Rússia anexou ilegalmente a península em 2014, tendo como alvo opositores políticos, ativistas pró-Ucrânia e pró-democracia, defensores dos direitos humanos, jornalistas e tártaros da Crimeia. Esses últimos detidos incluem pessoas sem ligações à oposição ou ao ativismo.

O centro de detenção provisória, ou SIZO, em Simferopol, se tornou sinônimo da campanha terrorista russa na Crimeia. De acordo com organizações de direitos humanos da Crimeia, incluindo a Zmina, o Grupo de Direitos Humanos da Crimeia e a Crimea SOS, centenas de pessoas foram detidas nas instalações durante meses, sem que ninguém soubesse onde estavam.

Após a invasão em grande escala da Ucrânia, a Rússia abriu um segundo centro de prisão preventiva em Simferopol, o SIZO nº 2. Mas isso aparentemente não foi suficiente para manter todos os detidos.

Imagens de satélite da Maxar Technologies tiradas em julho de 2021 e novembro de 2023 revelam a transformação de um campus escolar em Chonhar de um edifício comum em um centro de detenção de alta segurança. Um novo perímetro de segurança com muros altos foi erguido ao redor do complexo, com um ponto de acesso controlado visível nas imagens mais recentes.

A MIHR compilou uma base de dados de instalações onde civis ucranianos estão detidos, confirmada através de depoimentos de testemunhas oculares de pessoas detidas nos mesmos locais e, em alguns casos, de documentos oficiais. A base inclui prisões, colônias penais e centros de detenção provisória tão distantes como as regiões russas de Irkutsk e Krasnoyarsk, a milhares de quilômetros da Ucrânia, na Sibéria.

“Ela foi essencialmente sequestrada”

A família da ex-policial Mariana Checheliuk tem tentado rastrear os movimentos da jovem de 24 anos pela Rússia e pela Ucrânia ocupada nos últimos dois anos. Desde a sua detenção, acredita-se que ela tenha sido realocada pelo menos seis vezes.

Mariana e a sua irmã mais nova estavam entre as centenas de civis que passaram semanas abrigados na siderúrgica Azovstal, em Mariupol, durante o cerco russo à cidade portuária do sul. Elas foram finalmente autorizadas a partir em maio de 2022, quando a Rússia e a Ucrânia concordaram em abrir um corredor humanitário para a cidade de Zaporizhzhia, controlada pela Ucrânia.

No caminho, Mariana foi detida em um “ponto de filtragem” russo na aldeia ocupada de Bezimenne, segundo a sua mãe, Natalia Checheliuk. A instalação de Bezimenne se tornou famosa nos primeiros meses da guerra. Dezenas de milhares de evacuados de Mariupol foram forçados a passar por uma triagem de “segurança” no local. Muitos nunca conseguiram sair.

“Ela foi essencialmente sequestrada”, disse Natalia à CNN. “Não houve audiências judiciais, ela não foi acusada de nada e até recebemos um e-mail do procurador (da autoproclamada República Popular de Donetsk) dizendo que não têm absolutamente nenhuma acusação contra Mariana, que ela não está acusada de nada e que eles ‘irão verificá-la e liberá-la’”, disse Natalia. “Mas isso foi há oito meses e nada aconteceu”.

Ônibus levam soldados ucranianos que se renderam na planta siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, em 17 de maio de 2022 / REUTERS/Alexander Ermochenko

De acordo com testemunhas oculares que estiveram detidas junto com Mariana e que falaram com a sua família, ela foi primeiro levada para um centro de detenção em Donetsk, no leste ocupado da Ucrânia. Ela foi então transferida para Olenivka, o centro de detenção onde mais de 50 prisioneiros de guerra morreram em uma misteriosa explosão em julho de 2022.

De Olenivka, ela foi levada para um centro de detenção em Taganrog, no sudoeste da Rússia, e depois para Kamyshin, na região russa de Volgogrado. De lá, ela foi enviada de volta para Taganrog e depois para um centro de detenção em Mariupol, onde – até o ponto em que a família sabe, e como relataram grupos de direitos humanos e autoridades ucranianas – ela permanece até hoje.

“Minha filha passou por muita dor”, disse Natalia. “Em uma carta de dezembro de 2023, ela escreveu que estava desistindo, que havia perdido a fé. Todos os dias, o dia todo, só penso nela”.

Antes da guerra, Mariana – ou Marianochka, como a sua família a chama – era uma voluntária do bem-estar animal, que muitas vezes acordava cedo para preparar e entregar comida a cães vulneráveis antes de ir trabalhar com a polícia. Ela adotou uma cadela resgatada chamada Mila, que agora está com sua família.

Testemunhas oculares disseram à sua família que a detenção teve um grande impacto sobre ela. Uma mulher ucraniana que foi detida no centro de detenção preventiva em Taganrog em maio de 2023 disse à CNN que Mariana tinha perdido peso e estava com a saúde debilitada na última vez que a viu.

Ela disse que Mariana teve problemas no joelho após uma lesão em Olenivka e que as condições na prisão eram terríveis.

“A comida era péssima, assim como a atitude dos guardas, que nos (infligiram) abusos psicológicos e físicos. Muitas vezes éramos obrigadas a fazer flexões, sentar em espacates, fazer agachamentos e outros exercícios físicos”, disse ela.

“Às vezes podíamos fazer exercícios físicos, cantar canções russas e o hino nacional da Federação Russa durante todo o dia, (os guardas) ameaçavam nos enviar para a Sibéria ou outros lugares, nos dizendo que a Ucrânia já não existe, que a Ucrânia não quer recuperar os prisioneiros de guerra, que ninguém nos quer”.

A prisioneira, que já foi libertada, pediu à CNN que não divulgasse o seu nome por medo de represálias.

Segundo o CICV, a Rússia considera Mariana uma prisioneira de guerra porque ela já foi policial, disse Natalia. No entanto, o governo ucraniano disse à família que ela é considerada civil e, como tal, não pode utilizada em trocas.

Pantielieieva, pesquisadora da MIHR, disse acreditar que a Rússia tiraria vantagem de qualquer decisão de reconhecer civis como prisioneiros de guerra e deter ainda mais. “O número de pessoas que estão levando já é grande, fazem isso todos os dias”, disse ela, acrescentando que o último caso de um civil “desaparecido” tinha chegado à sua mesa poucos dias antes.

Voluntários, jornalistas e professores estão entre aqueles que a Rússia parece interessada em deter, de acordo com os grupos de direitos humanos que monitoram as detenções, mas muitas vezes não há razão discernível para alguém ter sido detido.

“Algumas pessoas foram levadas porque a sua casa não ficava longe das posições russas. Ou talvez eles tivessem um vídeo do (presidente ucraniano Volodymyr) Zelensky em seus telefones. Ou os russos estavam interessados nos seus familiares e os fizeram reféns”, disse Pantielieieva.

“Temos exemplos onde uma pessoa é detida por um soldado e depois de um mês, outro soldado entra no turno e se torna responsável pelos detidos e ele não sabe porque que as pessoas foram detidas e vai perguntar aos detidos porque é que estão presos”.

“Não sei como mudar isso”

A Ucrânia conseguiu trazer centenas de soldados para casa em trocas de prisioneiros com a Rússia e teve até algum sucesso no repatriamento de crianças ucranianas que foram deportadas à força – contando com o Catar e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para ajudar a mediar o processo.

Os civis detidos, no entanto, estão presos no limbo. Apenas algumas dezenas foram libertados até agora, disse Lubinets, comissário de direitos humanos da Ucrânia, à CNN. “Não temos um mecanismo legal, não temos um parceiro, não temos leis internacionais, normas internacionais. Não sei como mudar essa situação”, disse.

Ucranianos, vivendo em Istambul na Turquia, juntam-se para protestar contra os ataques da Rússia à Ucrânia. Os manifestantes traziam cartazes com dizeres como “Vida Longa à Ucrânia” e “Sem Guerra” / Mehmet Eser/Anadolu Agency via Getty Images

O governo da Ucrânia admitiu que não estava preparado para lidar com a situação dos civis detidos, mas que agora dispõe de alguns sistemas para apoiar as famílias.

Yulia, cujo pai Serhii ainda está desaparecido, disse que percebeu desde cedo que o sistema jurídico internacional não estava preparado para lidar com casos como o dele.

“O processo foi claro com os prisioneiros de guerra, porque para eles existe uma unidade militar, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) e a Sede de Coordenação da Ucrânia (para o Tratamento de Prisioneiros de Guerra). Mas com os civis havia números de telefone diferentes, o Ministério da Administração Interna, o Ministério das Relações Exteriores, a linha direta do Gabinete Nacional de Informação, o Provedor de Justiça, o Ministério da Reintegração… era um círculo do inferno”, disse ela.

Depois de meses chegando a um beco sem saída, Yulia e outro familiar de um detido ucraniano criaram a organização cívica “Civis em Cativeiro” para dar mais autoridade quando falam com autoridades. O grupo – que uniu as famílias de cerca de 400 civis detidos – se tornou um interveniente fundamental na sensibilização e realiza reuniões regulares com a Sede de Coordenação e o gabinete do Provedor de Justiça.

“Todo mundo sabe sobre os prisioneiros de guerra, mas poucas pessoas falam sobre civis em cativeiro”, disse Yulia, acrescentando que às vezes se sente frustrada com a decisão do governo ucraniano de não reconhecer os detidos civis como prisioneiros de guerra, como a Rússia exigiu.

“Como uma filha que espera pelo pai há dois anos, não entendo por que meu pai deveria pagar com a vida e a saúde”, disse ela.

Lubinets disse que entende essa frustração. “Mas o que se pode fazer com (um) país que não respeita o direito humanitário internacional e não é responsabilizado por isso? As Convenções de Genebra afirmam que nenhuma das partes em um conflito armado internacional pode deter a população civil. Mas a Rússia? Eles fizeram isso e continuam fazendo”.

*Com informações de Oleksii Markin, Boglarka Kosztolanyi e Lou Robinson.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Ucranianos detidos em prisões russas são usados como moeda de troca, diz Ucrânia no site CNN Brasil.

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