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Análise: Hamas aceitou acordo de cessar-fogo, mas isso não trará fim à guerra

Quando o Hamas declarou na noite de segunda-feira (6) que “concordou” com um acordo de cessar-fogo, pegou muitos de surpresa. Israel claramente não estava esperando por isso, ao mesmo tempo que muitos não sabiam com o que o Hamas havia concordado.

O anúncio do Hamas foi inicialmente recebido com alegria em Gaza e um otimismo cauteloso por líderes regionais depois que foi apresentado como uma aprovação de uma proposta israelense. Mas Israel deu uma outra resposta e disse que a proposta do Hamas estava “longe” de atender às suas demandas.

E prosseguiu com uma controversa operação militar em Rafah, no sul de Gaza, realizando ataques aéreos na segunda-feira (6) e tomando o controle do lado palestino da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, na manhã de terça-feira (7).

Ao mesmo tempo, Israel disse que enviaria uma delegação ao Cairo para avaliar a posição do Hamas. O diretor da CIA, Bill Burns, também chegou ao Cairo na manhã de terça-feira (7).

Mas o que está acontecendo?

O que sabemos sobre a proposta do Hamas

O Hamas disse na segunda-feira (6) que aceitou uma proposta elaborada pelo Egito e Catar de cessar-fogo, que inclui um acordo de reféns, além de uma retirada completa das tropas israelenses de Gaza, uma troca de prisioneiros, reconstrução do território, e o fim do bloqueio de Israel ao enclave.

A oferta do Hamas começaria com a libertação de 33 reféns de Israel em troca de centenas de prisioneiros palestinos durante um período de 42 dias e terminaria com a reconstrução de Gaza durante “um período de calma sustentável” de acordo com um documento obtido pela CNN.

Uma fonte diplomática familiarizada com as negociações disse à CNN anteriormente que a referência à calma sustentável era “uma maneira de concordar com um cessar-fogo permanente sem chamá-lo assim.”

O acordo seria dividido em três fases, cada uma com duração de 42 dias. Isso incluiria uma eventual retirada israelense de Gaza na segunda fase, de acordo com o documento visto pela CNN.

Mas as autoridades dos EUA rejeitaram a afirmação do Hamas de que “concordou” com um acordo de cessar-fogo, caracterizando a resposta como uma contraproposta com mudanças. Essa contraproposta precisará de mais negociações, disseram eles, e está sendo tratada como uma tática de comunicação para demonstrar publicamente que o Hamas está disposto a fazer um acordo.

Qual foi a resposta de Israel?

Israel diz que o acordo oferecido pelo Hamas não é o que a delegação israelense ajudou a construir com o Egito na semana passada. O integrante do gabinete de guerra, Benny Gantz, disse que a versão do Hamas “não corresponde ao diálogo que ocorreu até agora com os mediadores e tem lacunas significativas.”

Israel, no entanto, enviou uma delegação para se reunir com mediadores egípcios para entender melhor a proposta e determinar se um acordo pode ser feito, disse uma autoridade israelense à CNN.

O maior ponto de discórdia é a questão de um cessar-fogo permanente e como resolvê-lo. A proposta do Hamas pede o fim da guerra, que é uma linha vermelha para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, disse um alto funcionário americano à CNN.

Frank Lowenstein, que trabalhou como enviado especial para negociações entre Israel e Palestina, sob a administração do presidente dos EUA, Barack Obama, durante a guerra Israel-Gaza de 2014, disse à CNN que este pode ser “o momento da verdade para o jogo da culpa que ambos os lados têm jogado com as negociações de cessar-fogo.”

“O Hamas aparentemente aceitou ‘garantias’ de um cessar-fogo permanente que obviamente não são executáveis”, disse Lowenstein. Ele diz ainda que agora cabe a Netanyahu: “ele preferiria invadir Rafah por sua política de coalizão extremista do que ter um cessar-fogo que poderia acabar com a guerra e provavelmente trazer eleições.”

Como estão as negociações sobre a operação em Rafah?

Israel argumenta que Rafah é o último reduto do Hamas em Gaza, e na semana passada Netanyahu prometeu lançar uma operação terrestre por lá, independentemente de um acordo com o Hamas e em desafio à pressão dos EUA para não seguir com o plano.

Veículos militares de Israel operam do lado de Gaza na fronteira de Rafah / 7/5/2024 Divulgação via REUTERS

Na noite de segunda-feira (6), os militares israelenses realizaram ataques aéreos contra alvos do Hamas no leste de Rafah.

Na manhã de terça-feira (7), o país assumiu o controle do lado palestino da fronteira de Rafah com o Egito, substituindo as bandeiras palestinas por bandeiras israelenses em uma demonstração de controle. O movimento seguiu uma ordem dos militares israelenses para que cerca de 100 mil moradores do norte de Rafah deixem o local imediatamente.

A passagem de Rafah é um “local estratégico” para o Hamas, disse Barak Ravid, analista de assuntos políticos e globais da CNN, a Anderson Cooper, da CNN, acrescentando que é visto como um símbolo do controle contínuo do Hamas sobre Gaza.

O controle de Israel da fronteira pode ter prejudicado a imagem do Hamas diante do povo palestino em Gaza e atua como alavanca para tornar o grupo “mais flexível nas negociações sobre reféns”, disse ele.

A operação de Rafah pode ter sido criada para apaziguar alguns dos ministros extremistas no gabinete de Netanyahu que o têm pressionado a prosseguir com uma incursão terrestre a cidade, ameaçando romper sua coligação no parlamento se o premiê não cumprir.

Autoridades dos EUA disseram à CNN que o governo de Biden não acredita que a atividade militar israelense em Rafah seja o início de uma grande operação no sul de Gaza e uma fonte familiarizada com os planos israelenses disse que uma incursão limitada em Rafah foi destinada a manter a pressão sobre o Hamas.

Uma operação de Rafah pode ser do interesse de Israel e do Hamas, disse Lowenstein, o ex-negociador dos EUA.

“Bibi (Netanyahu) quer mostrar o quão duro ele é ao nos enfrentar (os EUA) e ao mundo para defender Israel. E o Hamas acha que está caminhando para uma armadilha em Rafah que deixará Israel ainda mais isolado, inclusive dos EUA, e sujeito a uma condenação internacional ainda maior.”

O que está em jogo para Netanyahu e o Hamas?

O Hamas e Israel acusaram-se mutuamente de obstruir um acordo e prolongar a guerra.

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém / 18/02/2024 REUTERS/Ronen Zvulun

Especialistas dizem que ambos os lados estão pressionando por demandas extremas porque sua sobrevivência política depende disso.

Netanyahu encontra-se em uma situação difícil. Ele enfrenta uma intensa pressão de seus aliados internacionais mais próximos e das famílias de reféns israelenses para concordar com um acordo de cessar-fogo e evitar uma invasão em larga escala de Rafah. Ao mesmo tempo os radicais de linha dura da frágil coalizão de Netanyahu não querem que ele pare até que o Hamas seja eliminado.

O Hamas também não tem garantias de que guerra terminar haverá de fato um cessar-fogo permanente.

Desde a curta pausa nos combates em novembro, o Hamas não está interessado em um acordo com Israel que não inclua um fim permanente às hostilidades, disse Lowenstein, pois o grupo acredita que é o único cenário que garante sua sobrevivência.

“Ambos os lados só querem um acordo de cessar-fogo que garanta sua sobrevivência política”, disse Lowenstein. “Para o Hamas, isso é um cessar-fogo permanente que lhes permite manter algumas capacidades militares. Para Bibi, é apenas uma pausa temporária no caminho para a ‘vitória total’.”

Hussein Ibish, um acadêmico do Instituto dos Estados do Golfo Árabe, em Washington, DC, diz que, embora o Hamas e Netanyahu acreditem ter se beneficiado politicamente com a continuação do conflito, a pressão interna tem aumentado para ambos acabarem com as hostilidades.

“O Hamas está sob enorme pressão, inclusive até certo ponto de seus próprios líderes que vivem fora de Gaza, para aceitar propostas de cessar-fogo do Egito e do Catar, a fim de obter algum alívio para a organização” e alívio para os palestinos em Gaza, disse Ibish à CNN.

O Hamas pode estar ciente de que tem melhores chances de sobrevivência do que Netanyahu, mesmo que o grupo ressurja de uma forma diferente, diz ele.

“O Hamas sobreviverá. É uma organização política e uma marca registrada. Não é uma lista de indivíduos que podem ser mortos ou infraestrutura e equipamentos que podem ser destruídos”, disse Ibish à CNN. “Netanyahu, por outro lado, como pessoa e politicamente não sobreviverá para sempre.”

Este conteúdo foi originalmente publicado em Análise: Hamas aceitou acordo de cessar-fogo, mas isso não trará fim à guerra no site CNN Brasil.

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