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Interpretar os sinais dos tempos

O evangelista Lucas registrou a severa crítica de Jesus a quem não interpretasse os sinais que a realidade lhes dava: “Quando vocês veem uma nuvem se levantando no ocidente, logo dizem que vem chuva. E assim acontece. Quando sentem soprar o vento sul, logo dizem que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Vocês sabem avaliar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabem avaliar o tempo presente?” (Lc 12, 54-56). Quais são, então, os sinais de salvação emitidos pela catástrofe climática que hoje atinge o Rio Grande do Sul?

Em primeiro lugar, é hora de praticar as “obras de misericórdia”: socorrer os desabrigados, dar água a quem tem sede e alimento a quem tem fome, vestir quem perdeu a roupa, cuidar das pessoas feridas ou doentes e enterrar quem morreu, consolando seus familiares. Quem faz isso com carinho, e não de forma mecânica ou impessoal, entendeu o sinal emitido pela calamidade.

Mas o Evangelho é exigente e nos obriga a ir mais longe, porque as pessoas que precisam de ajuda são centenas de milhares e podem ultrapassar um milhão! As obras de misericórdia dão o alívio imediato, mas tamanho sofrimento humano só pode ser sanado por um grande programa de políticas sociais. E políticas sociais eficientes!

É urgente e necessário aumentar muito o alcance das políticas de moradia, de saúde, de segurança alimentar e nutricional, de geração de emprego, de assistência e de renda mínima, atualmente restringido pelo controle de gastos públicos. Aqui o desafio a ser enfrentado: pelo lado de recursos, isso exige uma reforma fiscal que diminua a escandalosa desigualdade de propriedade e de rendimentos; pelo lado dos gastos, é possível diminuir a despesa com os juros da dívida pública. Mas isso requer que a população se empenhe a fundo para mudar o atual regime fiscal e consiga reduzir a desigualdade entre a minoria milionária e a grande quantidade de famílias que sobrevivem na linha da pobreza e mesmo abaixo dela.

Aqui vem a missão de quem segue Jesus nos tempos atuais: fazer das obras de misericórdia trampolins para a implementação de políticas sociais que tragam vida digna não só para quem está sofrendo os efeitos da atual tragédia climática, mas para todas as famílias do nosso país. É uma missão difícil, mas não impossível, dado o quadro de catástrofes climáticas que o mundo tem pela frente: ricos e pobres, estamos todos no mesmo barco, que navega numa tempestade que provocará seu naufrágio se não mudar de rumo.

Para encorajar essa mudança, lembremos que Jesus chama de hipócrita quem não quer entender os sinais dos tempos, mas quando “estava escuro, soprava um forte vento e o mar estava agitado” se aproximou do barco em que estavam os discípulos para lhes dizer: “Sou eu. Não tenham medo” (Jo 6, 16-20). Confiantes nessa presença misteriosa, mas real, nós, cristãos e cristãs, devemos sair a campo para promover políticas sociais que, reduzindo as desigualdades, propiciem condições de existência dignas para todas as pessoas.

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