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    AGÊNCIA JF | Social - Repositório

Atriz trans premiada dirige filme sobre ‘Cinderela da Rocinha’ e fala de paixão pela arte


Jovem conta que teve contato a arte para não ficar em meio a armas e drogas que fazem parte do cotidiano da comunidade. Alitta na cerimônia do Prêmio Shell
Reprodução/Fernandolcs
Teatro, música e arte foram as armas encontradas por uma jovem da Rocinha, comunidade que fica na Zona Sul do Rio, para encarar a realidade dura e traçar seu destino na vida. Alitta foi a primeira travesti preta a ser indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz, dirigiu um filme sobre a cultura ballroom – citada no show da Madonna, e atualmente está em cartaz com o espetáculo teatral “A Noiva e o Boa Noite Cinderela” em festivais da Europa.
Alitta, agora, se prepara para dirigir seu segundo filme, que vai contar histórias dos bailes funks do Rio, terá uma protagonista trans e estreia no segundo semestre deste ano. A trama se passa na favela da Rocinha, e em vez de perder o sapatinho de cristal, desta vez, a “Cinderela da Rocinha” perde um chinelo Kenner e encanta um playboy da Zona Sul.
O contato de Alitta, que tem 27 anos, com a arte começou ainda bem jovem. A mãe dela, para não deixar a criança inserida dentro do contexto violento da comunidade, a colocou em um projeto de música. Dali em diante, Alitta aprendeu flauta doce e violino. O teatro chegou na vida dela poucos anos depois.
Ela conta que o medo do preconceito a fizeram deixar a escola no Ensino Médio para trabalhar. Anos depois, se reencontrou nos palcos e salas da Escola de Teatro Martins Penna, no Rio. Foi nesse reencontro que se entendeu como travesti.
“Por meio da arte, eu consegui entender mais de mim para além daquilo que os moldes da sociedade nos ensinam. Do mesmo modo que através da arte eu me descobri uma pessoa trans, assim como questões raciais, porque até então eu não me reconhecia como uma pessoa preta”, conta a jovem.
Ela relembra ainda que foi através das artes que teve seu caminho diferente.
“Eu costumo dizer que a música e o teatro foram duas ferramentas essenciais para que meus caminhos fossem completamente opostos de colegas da minha infância que acabaram entrando para o mundo do crime e já não estão mais aqui entre nós”, emenda.
Alitta durante o espetáculo “A Noiva e o Boa Noite Cinderela”
Reprodução/Christophe Raynaud De Lage
Como as coisas não costumam ser fáceis para quem vem do morro, como é o caso da Alitta e de tantos outros artistas, depois de uma apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro ela não conseguiu comemorar com a família por conta de um tiroteio.
“Eu apresentei um espetáculo num lugar histórico e não podia comemorar com a minha família. É preciso domar um leão por dia, porque matar o leão é impossível”, desabafa ela.
“Eu sou nascida e criada na Favela da Rocinha e isso é algo que levo comigo não só na minha vida, mas para a minha arte e a forma como eu a realizo. E por isso, ainda que eu tenha noção de algumas questões problemáticas, não deixo de exaltar o lugar de onde vim”, completa ela.
Alitta destaca que a mãe foi peça fundamental para que ela alcançasse isso tudo.
Alitta quando ainda era criança
Arquivo pessoal
“Minha mãe batalhou, trabalhou como empregada doméstica, trabalhou desde criança no campo e cuidando dos irmãos mais novos, enquanto a minha avó também trabalhava colhendo milho. E anos mais tarde ainda criando a mim e meu irmão sozinha, porque meu pai acabou sendo assassinado pela polícia”, relembra Alitta.
A arte, para ela, é como uma missão. E os próximos passos dessa empreitada é trabalhar em projetos pessoas que envolvam mais artistas trans pretos e indígenas.
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