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Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes: conheça histórias de jovens que sobreviveram à violência e trilham novos caminhos


Com apoio psicossocial e econômico, grupo do Distrito Federal busca alcançar estabilidade e perseguir sonhos. No Brasil, a cada dia, 80 crianças e adolescentes sofrem algum tipo de violência sexual. No Brasil, a cada dia, 80 crianças e adolescentes sofrem algum tipo de violência sexual — física e/ou psíquica — em 2023.
SSP/SE
O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, nesta quinta-feira (18), reforça a necessidade de seguir no combate contra todos os tipos de violência contra crianças e adolescentes. No Brasil, a cada dia, 80 crianças e adolescentes sofrem algum tipo de violência sexual — física e/ou psíquica, segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) .
Nos quatro primeiros meses de 2023, foram 9.613 vítimas
Pelo “Disque 100”, de janeiro a abril chegaram ao ministério registros de 17,5 mil violações que envolvem abuso, estupro, exploração sexual, assédio sexual e abuso sexual psíquico
Nos quatro primeiros meses de 2022, foram 6,4 mil denúncias e 10,4 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes
Se comparadas com o mesmo período de 2023, as violações representam um acréscimo de 68%
Os dados mostram também que o lugar onde ocorre o maior número de violações é a casa da vítima ou de familiares, ou da vítima e do suspeito, com mais de 5,9 mil denúncias e 10,7 mil violações.
Viver o presente e planejar o futuro para jovens que foram vítimas de violência sexual, em muitos momentos, parece impossível. No Distrito Federal, com apoio psicossocial e financeiro, crianças e adolescentes vêm sendo resgatados.
O g1 conversou com quatro jovens que após situações extremas trilham um novo caminho com a inserção no mercado de trabalho e a conquista da independência financeira.
Começar a acreditar
“Eu não tinha vida”. É assim que S. responde a primeira pergunta da entrevista.
Com apenas 17 anos, ele tem um histórico de direitos negados. Foi vítima de violência sexual e conta que chegou a tentar o suicídio.
“Esse era o meu maior medo, a depressão. Porque isso me fazia não poder enxergar uma visão futura. Uma visão de eu conseguir vencer na vida”, diz o jovem.
O adolescente é um dos alunos do projeto Vira Vida, organizado pelo Sesi para inserir adolescentes em situação de vulnerabilidade social no mercado de trabalho. Além das oficinas profissionalizantes, o trabalho tem rodas de conversa e atendimento psicossocial.
S. fez cerca de 17 cursos profissionalizantes – como assistente administrativo e operador de computador. Atualmente, ele atua como jovem aprendiz no banco Sicoob, um dos parceiros do projeto Vira Vida no DF.
Para ele o programa, além de dar suporte, ajudou no autoconhecimento.
“O apoio me tornou guerreiro, me tornou forte. Se a gente não crê na gente, não tem fé, a gente não tem nada”, diz o adolescente que sonha em fazer faculdade de Gestão Ambiental.
O sonho do concurso público
A estudante O., também de 17 anos, afirma que era uma menina que frequentava muitas festas, ingeria bebidas alcoólicas e fumava. “Eu passava o dia dormindo, não tinha nenhuma perspectiva de vida”, conta.
Ao entrar no projeto Vira Vida, exatamente um ano atrás – no dia de 18 de maio de 2022 –, foi uma das primeiras a ser contratada para o programa de Jovem Aprendiz no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Ela já fez cerca de 30 cursos – os preferidos são os de recepcionista e de assistente administrativa – dentro e fora do programa. A jovem diz que o próximo passo é fazer e passar em um concurso público.
“Quero ter uma certa estabilidade e depois começar a pensar em coisas que eu sonho. Ter uma faculdade. Mas, em primeira instância, eu sonho mesmo com o concurso, para ter uma casa, um automóvel e conseguir me locomover com maior facilidade”, diz a adolescente.
A faculdade dos sonhos da estudante é Gestão Pública. Já os concursos que estão na mira da jovem são os do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com nível de ensino médio.
“Eu enxergo o programa como uma perspectiva, uma nova expectativa de vida, uma real mudança. Para algumas pessoas não é, porque vem muito da cabeça da própria pessoa que está participando, porque se a pessoa realmente ela não quiser nunca vai ser nada na vida. Mas para mim, foi uma mudança, foi uma expectativa, foi um caminho para realizações de sonhos. Foi uma independência financeira de certa forma”, diz a jovem.
A coordenadora do programa Jovem Aprendiz no MPDFT e vice-procuradora-geral de Justiça do DF, Selma Sauerbronn, destaca que os jovens que chegam para atuar no órgão vêm de um “histórico de vida difícil e precisam superar desafios”.
“Muitos chegam sem perspectiva, e com o decorrer do projeto criam novas metas e objetivos, passam a ter acesso a oportunidades que antes não tinham. A principal diferença desses jovens é que quando começam no emprego, abrem o olhar para um mundo que não tinham acesso antes”, diz Selma Sauerbronn.
Da rua para o aluguel
Aos 17 anos, J. saiu de Minas Gerais e ao chegar em Brasília precisou viver na rua. Quando conseguiu uma vaga em um abrigo, acabou conhecendo o programa Vira Vida.
A mãe de J. é usuária de drogas. Ele foi vítima de violência sexual e entrou no projeto com muita resistência.
“Eu não tinha nenhuma expectativa. Entrei no Vira Vida muito rebelde, escandaloso e agressivo, fui moldando meu temperamento. […] Me acolheram, tenho mais paciência, mais domínio, se eu não tivesse mudado a minha vida eu estaria morto ou preso”, diz o adolescente.
Também contratado pelo Ministério Público como jovem aprendiz, J. ficou por dois anos trabalhando no órgão público e fez cerca de seis cursos durante um ano do programa. Hoje, aos 27 anos, trabalha na área comercial e de televendas e diz que preza pela sua independência financeira.
“Não aceito depender dos outros. Dou valor ao meu aluguel, a minha casa, eu que cuido da minha vida. Faz 12 anos que estou aqui [em Brasília]. Sou LGBT, não tinha muito, desde o abrigo até o Vira Vidas, fui me aceitando, não deixando as pessoas falarem sobre mim”, diz.
A realidade da casa própria
Para B. o programa de inserção no mercado de trabalho desenvolvido pelo Sesi foi a “saída”. A jovem destaca que foi a base e o conhecimento para conseguir alcançar seus sonhos.
A estudante participou do programa Jovem Aprendiz, e hoje faz sete anos que está contratada no CIEE. Mãe de duas crianças, uma de cinco e outra de um ano, B. está finalizando o curso de Administração em uma faculdade particular.
Dona de um apartamento desde os 20 anos, ela conseguiu realizar o seu maior sonho aos 26, em 2023: comprar uma casa.
“Já comprei meu apartamento, este ano comprei minha casa. Eu sou a base de duas crianças, corro atrás para eles terem um lar, algo que eu não tive”, diz a jovem que já está pesquisando uma pós-graduação na área de oratória e de Gestão de Recursos Humanos para ingressar no ano que vem.
Projeto Vira Vida
O projeto Vira Vida, criado pelo Sesi em 2008 e implantado no DF em 2009, é um projeto que envolve cursos profissionalizantes, atendimento psicossocial e atua na inserção do jovem, vítima de violência sexual, no mercado de trabalho por meio de vagas de jovem aprendiz, estágio ou vínculo empregatício direto.
O programa tem duração de 12 meses e atende 100 estudantes por turma. Os jovens, que têm entre 15 e 21 anos, recebem bolsa auxílio educação de R$ 500, auxílio transporte, três refeições por dia, uniformes e ajuda na inserção do mercado de trabalho.
O projeto conta com quatro eixos: educação, psicossocial, promoção de direitos e inserção socioprodutiva. Em 2022, o Vira Vida foi transformado em política pública distrital no DF. Desde 2009, 595 estudantes concluíram o curso e 372 estão inseridos no mercado de trabalho.
Números alarmantes
A casa da vítima é um dos locais onde mais ocorrem violações contra crianças e adolescentes. São violências sexuais físicas – abuso, estupro e exploração sexual – e psíquicas – assédio sexual e abuso sexual psíquico.
Na casa da vítima ou casa onde reside a vítima e o suspeito foram no total, 5,7 mil denúncias e 10,3 mil violações de janeiro a abril de 2023 no país, segundo o Ministério dos Direitos Humanos.
837 denúncias e 856 violações de exploração sexual;
4,3 mil denúncias e 4,4 mil violações de estupro;
1,4 mil denúncias e 1,4 mil violações de abuso sexual físico;
2,7 mil denúncias e 3,5 mil violações de violência sexual psíquica.
Ainda nos quatro primeiros meses de 2023, foram registrados 763 denúncias e 1,4 mil violações sexuais ocorridas na internet. No ambiente virtual foram:
316 denúncias e 319 violações de exploração sexual;
480 denúncias e 631 violações de violência sexual psíquica.
Apesar dos números assustadores, o ministério ressalta que há uma alta subnotificação de casos no país e que trabalha para fortalecer os canais de denúncia (saiba mais abaixo).
18 de maio
O dia 18 de maio marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data foi instituída por meio da lei federal n° 9.970/2000, em memória do caso da menina Araceli Crespo.
Aos 8 anos de idade, ela foi sequestrada, violentada e assassinada em 18 de maio de 1973. Em 2023, completam-se 50 anos do crime.
Como denunciar exploração sexual de crianças e adolescentes?
O Disque 100 (Disque Direitos Humanos) recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa.
O serviço está disponível 24h por dia, incluindo fins de semana e feriados. Ele pode ser acionado por meio de diferentes plataformas:
ligação gratuita;
WhatsApp: (61) 99611-0100;
site da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH);
videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras);
Telegram – é preciso digitar Direotoshumanosbrasil
Outras formas de denunciar:
Polícia Militar – 190: quando a criança está correndo risco imediato
Samu – 192: para pedidos de socorro urgentes
Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres ou qualquer delegacia de polícia
Conselho tutelar: todas as cidades possuem conselhos tutelares. São os conselheiros que vão até a casa denunciada e verificam o caso. Dependendo da situação, já podem chegar com apoio policial e pedir abertura de inquérito.
Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia.
Ministério Público
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