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O aprendizado (não jurídico) do executivo jurídico

Já sabemos que a aprendizagem contínua é uma das competências mais valorizadas e mais necessárias nos profissionais atuais e do futuro. Trata-se de uma competência fundamental, especialmente no contexto de um mundo em constante evolução e progressão tecnológica.

É claro que isso não é novidade, mas quero falar sobre o desafio de exercitarmos essa competência dentro do contexto do profissional da área jurídica, dado que é uma profissão essencialmente técnica, mas que vem sendo há alguns anos confrontada pela realidade dos desafios empresariais.

Sobre a nova realidade em que as empresas hoje vivem, dada à evolução da própria sociedade e tanta transformação, tive a oportunidade[1] de escrever algumas reflexões que vinha acumulando ao longo da carreira.

Com isto, não tenho dúvidas em dizer que, hoje em dia, o que é esperado do executivo jurídico moderno vai muito além do conhecimento na área jurídica e até mesmo, além do conhecimento do negócio onde esse profissional atua.

Mas, como atender à tantas expectativas e desenvolver tantas habilidades distintas, ao mesmo tempo que trabalhamos em uma área técnica e em constante evolução e mudanças de legislações e conceitos?

Tendo isso em mente e, também me dado conta dos últimos aprendizados formais para os quais “me dei o direito” de ter, resolvi compartilhar minha experiência neste artigo.

Comentarei estes aprendizados estruturados em três marcos, correlacionando-os com habilidades que ganhei e desenvolvi para a minha realidade profissional e corporativa.

1. MBA Executivo Internacional

Ao profissional que deseja se aventurar – e, evidentemente, tem esse privilégio, compartilho a minha experiência. Quando decidi iniciar um MBA Executivo, achei que já tinha passado do “momento certo” de fazer um curso desta natureza. Ao encontrar uma opção no mercado com um nível de senioridade da turma que me despertasse interesse, além de conteúdos executivos bem interessantes, resolvi arriscar.

Primeiramente, tive a oportunidade de – ao longo de um pouco mais de dois anos – revisar ou, na maioria dos casos, conhecer aspectos técnicos e práticos de diversas disciplinas necessárias ao desenvolvimento do papel do executivo corporativo, desde planejamento estratégico, marketing e precificação, passando por finanças e gestão de pessoas, dentre outras, até a transformação digital de negócio.

Ou seja, as matérias acima vão (muito) além do conhecimento tradicional do Direito. E, desde o início, também constatei que tinha a oportunidade de aprender com outros alunos, dado que sempre tinha na turma alguém com conhecimento e senioridade sobre cada uma das disciplinas ministradas ao longo do curso.

Além disso, como Trabalho de Conclusão de Curso, em conjunto com outros três alunos, que depois viraram amigos, fui desafiado a desenvolver “do zero” um modelo de negócio para uma startup cujo objetivo deveria ser resolver alguma “dor” real da sociedade.

Não foi só apenas o desafio de pensar como empreendedor, mas também de lançar mão de várias metodologias mais comuns no mundo das startups. Foram diversos encontros sobre o assunto, muita mentoria com empreendedores e especialistas, diversos “pitchs” de ensaio, dentre outras possibilidades, até o tão esperado dia da apresentação final através de um “pitch” para uma banca de investidores.

Mas, certamente, o maior valor que levei comigo desta experiência – além das amizades, por óbvio – foram os aprendizados que tive e, principalmente, a possibilidade de relembrar que o mundo é muito maior do que a realidade que vivemos em nossa dinâmica corporativa. Isso parece óbvio, mas não é. Mesmo!

Como usualmente somos “dragados” pelos desafios de nossas funções e sempre somos “embebedados” com as características e nuances do setor em que atuamos, por vezes, podemos cair na armadilha de achar que a verdade que conhecemos é a única existente.

Eu já tinha a pretensão de me expor a essa diversidade de experiências e de realidade quando me inscrevi, mas fiquei incrivelmente impressionado com o quanto eu aprendi com pessoas diferentes, de realidades de setores diferentes e de conhecimento de funções diferentes.

É impressionante como moldamos nossa forma de ver o mundo a partir de nossa especialização da profissão e função que exercemos e da realidade do setor onde atuamos. Aprender e reaprender sobre essa forma de ver o mundo é essencial.

Mais que isso, para o executivo jurídico, é mais do que necessária esta constante compreensão sobre a necessidade de revisarmos esse molde como enxergamos o mundo, para muito além dos aspectos da legislação e das interações com juízes ou outros profissionais do direito.

Até aqui, vejam que interessante, estou falando de diversos aprendizados, desconstrução de crenças e reaprendizados, que guardam relação direta com o meu papel atual de executivo, ou seja, conhecimento mais amplo e sistêmico do negócio, capacidade de aprender com os outros, empreendedorismo, criatividade, disciplina, foco, dentre outras possibilidades.

2. Formação em Mentoria Profissional

Recentemente, concluí também a minha formação em mentoria profissional. Tenho o hábito de interagir com alguns profissionais da área jurídica e de governança com o intuito de transmitir as experiências que alcancei ao longo da minha carreira, visando estimular o desenvolvimento de cada um deles.

Porém, sempre fiz isso empiricamente, com muito bom senso e com alguma metodologia que, de forma amadora, fui desenvolvendo ao longo do tempo, quando chegou o momento que senti a necessidade de fazer uma formação profissional.

Além da formação em si, vivenciei um outro momento de incríveis experiências. Me surpreendi com a quantidade e profundidade dos conteúdos técnicos sobre o assunto. Além de adquirir conhecimento e espírito crítico, por exemplo, sobre as diferenças entre mentoria, coaching, papel de professores, dentre outros, foi uma experiência enriquecedora.

Com certeza, aprendi que todos nós, como seres humanos e como gestores, somos um pouco:

  • professores” – quando estamos na posição de “educar” e “transmitir conhecimentos”, ou seja, poder ajudar a alguém a ter instrução técnica sobre determinado assunto ou atividade;
  • coaching” – quando estamos na posição de ajudar alguém a desenvolver alguma competência, ou seja, ajudar alguém a colocar a instrução técnica em prática; ou
  • mentores”, quando estamos na posição de – por ter mais experiência em determinado assunto – dar referências, exemplos e transmitir experiência a outras pessoas, ou seja, ajudar alguém a ganhar maturidade e experiência no uso das suas competências.

Melhor que isso, foi também conseguir conscientemente identificar o quão fácil é confundirmos esses papéis em nosso dia a dia. Quantas vezes, por exemplo, como gestores, focamos na transmissão de instruções para uma pessoa, quando, na verdade, ela precisa ser desenvolvida no exercício de alguma competência?

Ou, quando eventualmente negligenciamos inconscientemente o nosso papel de mentores, quando porventura exercermos controle excessivo em equipes, sem que possarmos dar a estes profissionais a chance de ganhar a maturidade que precisam para o exercício pleno de suas competências e a alta performance.

Não é preciso nem dizer o quanto que esta formação interage com o principal desafio dos líderes, que é gerir, influenciar, engajar e desenvolver pessoas.

Tornar-me mais atento a esse aspecto e ter dedicado conscientemente meu tempo de desenvolvimento para a mentoria profissional foram essenciais para o meu crescimento pessoal e profissional, e certamente também positivo para as pessoas que estão ao meu redor.

3. Aprender a jogar tênis

Eu fui um daqueles que aprendeu a jogar tênis depois da pandemia. Um esporte técnico, dificílimo de aprender, com suas próprias regras, ritos de ética e lealdade nos jogos.

Além da necessidade de foco, disciplina e resiliência para o próprio aprendizado do esporte em si, fui aprendendo e continuo aprendendo diversos aspectos e, porque não dizer, competências e habilidades a cada jogo de tênis.

Usualmente, Fernando Meligeni[2] faz diversas alusões do jogo do tênis com a realidade do nosso dia a dia e a realidade corporativa. Depois de aprender este esporte, não posso concordar mais com essas alusões.

Já vivenciei momentos de jogos que estava ganhando tranquilamente, mas cometi o erro de presumir que ganharia e pronto: perdi o foco e acabei perdendo o jogo. Em outros jogos, com adversários melhores que eu, com muita cautela, atenção, autoconsciência do que eu poderia fazer e estudo das técnicas do jogo no seu decorrer, além da necessidade de mudança de estratégia, alcancei vitórias que não acreditaria que poderia alcançar.

O tênis é um esporte de técnica, de necessidade de preparação física, mas acima de tudo é um esporte para quem tem mentalidade forte. Como bem diz o multicampeão Novak Djokovic: “Tennis is a mental game. Everyone is fit, everyone hits great forehand and backhand”.

O quanto que em nossos desafios empresariais e como executivos, precisamos tomar consciência da importância de nossa mentalidade forte, e, principalmente de aspectos de nossa inteligência emocional, especialmente o autoconhecimento e capacidade de gerirmos nossas próprias emoções?

Diante desta consciência, consigo aprender e constantemente tirar aprendizados para a minha vida, inclusive profissional, a partir da prática constante deste esporte.

Em conclusão, destaco a importância de investirmos constantemente em nosso desenvolvimento e no exercício contínuo que devemos fazer de reaprender, desafiar nossas crenças, desaprender a aprender de novo sobre os mesmos assuntos, mas também sobre outras óticas.

Mais que isso, é importante que também tenhamos sabedoria e até um pouco de ousadia nas escolhas que devemos fazer sobre o que desenvolver e sobre como usar o nosso tempo.

Como executivo jurídico, aliás, como também em outras áreas, cuja matéria primária é mais técnica, podemos ficar tendenciosos a permanecer envolvidos em conteúdos jurídicos, atualizações técnicas, em novas tendências, tecnologia etc., até porque vivemos também em uma profissão que está em franca disrupção e constante evolução.

Certamente, precisamos nos manter atualizados nos aspectos técnicos de nossa profissão. Mas, a dica que eu deixo é que você realmente possa se dar ao direito de se desafiar e desenvolver constantemente outras experiências, especialmente aquelas que se relacionem com aspectos mais amplos de um negócio, com suas habilidades de influência em pessoas e empatia, assim como e outras competências “soft” como as que aqui mencionei.


[1] No LinkedIn, escrevi os artigos “A evolução da sociedade e a transformação das organizações” e “O que é esperando do executivo jurídico moderno (partes 1 e 2), nos quais tratei das razões dos atuais desafios das empresas e a consequente mudança do que é esperado do executivo jurídico moderno.. Para sua leitura, basta buscar na rede.

[2] Ex-tenista profissional brasileiro.

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