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Reflexões em uma tragédia

Os tristes fenômenos climático-estruturais que temos observado no Rio Grande do Sul tem permitido reflexões que transcendem aos fatos e revelam posições e entendimentos que devem ficar claros a todos. Instaurada a tragédia, exsurgem alguns questionamentos naturais sobre como o cidadão comum pode, ou deve agir, ou reagir. Ajudamos porque não acreditamos na capacidade do Estado para resolver o problema? Ou assumimos uma responsabilidade que entendemos ser nossa para com o próximo? 

Como é do conhecimento de todos, as enchentes no Rio Grande do Sul deixaram mortos e milhares de desabrigados, os quais estão sem as mínimas condições necessárias à subsistência. Diante desse cenário, alguns grupos imaginam que o caso é de culpa e responsabilidade exclusivas do Estado, o causador do colapso estrutural e o único responsável pela reconstrução, diante de sua função precípua de proteção e subsídio humano e digno aos seus nacionais, como, inclusive, prescreve a Constituição Federal. Ainda nessa linha, sabendo-se do inchaço estatal, de sua histórica ineficiência no Brasil e, sobretudo, pela falta de credibilidade que a classe política vem acumulando, o cidadão acaba tendo atitudes colaborativas movidas mais pela inércia que enxerga nas autoridades do que, propriamente, pela consciência de coletividade. 

Esse tipo de atitude não pode ser enxergado apenas pelo prisma da “caridade”. Ao contrário, muitas vezes esconde ideias egoístas e narrativas políticas que revelam uma intensa crueldade humana, que se alimenta do desespero alheio. É exatamente nesse sentido que algumas pessoas estão usando a tragédia para divulgar fake news e instaurar a cultura do caos, agravando ainda mais o transtorno pelo qual estão passando as vítimas. Surgiram até empresários tentando – por motivações políticas – competir com o Estado, em uma disputa vazia, por redes sociais, sobre quem ajudava mais. E nesses montantes de doações, até mesmo materiais, está sendo encontrado um imenso número de objetos inutilizáveis, lixo mesmo. Entre eles calçados e roupas mofados, rasgados, muitas vezes totalmente imprestáveis ao consumo humano. Indaga-se: doar para aparecer que está doando, a ponto de fazer dos donatários um receptáculo de lixos? Uma atitude inconsciente e inconsequente, naturalmente oriunda daqueles que doam com raiva, guiados pela sensação e que estão cumprindo a obrigação de outrem, do Estado. 

Em outra via completamente diferente, é necessário compreender que a responsabilidade pelo próximo é um dever de todos nós. Antes de apontar as falhas do Estado, ou ainda, de andar de carona nas doações que se convertem em fotos para redes sociais, é preciso compreender que a iniciativa privada deve organizar sua parcela de contribuição. Não por “fazer bonito”, mas por ser uma de suas obrigações, até mesmo em respeito ao conceito de função social, tão amplamente presente em nosso ordenamento jurídico. O dever de união e voluntariado em favor daqueles que precisam, sem a premente necessidade de selfie e hashtag é um grande passo para um universo melhor, talvez uma parcela do que almejamos para o futuro das novas gerações. A importante decisão de assumirmos um papel relevante na sociedade o qual nos coloca como coautores do crescimento e não meros destinatários, o que passa pela inclusão de todos os vulneráveis, independente da situação ou fato que os torna sensíveis naquele momento. 

Ainda que essa última forma de doar seja correta na minha opinião, seus registros são minoria, ao menos, no contexto desta tragédia atual. É visível que a reconstrução do Rio Grande do Sul já está acontecendo, com visível protagonismo do Governo Federal, que tem trabalhado com grande eficiência, na coordenação nacional de esforços e gerenciamento de crise. O caso comove o mundo e a região tem recebido doações de diversas localidades. 

Por derradeiro, não se deve esquecer que o destinatário final de todo o processo de reconstrução deve ser o ser humano. E, obviamente, o objetivo das doações nesses tempos precários também devem ser as pessoas, que, em dias, perderam o que levaram anos para conquistar. Nesse sentido, externo meu repúdio à lamentável fala do sr. Governador do Rio Grande do Sul, que vislumbrou nas doações impactos negativos no comércio local, em uma nítida sensação de insensibilidade com o povo gaúcho. Não é hora de pensar na Economia. É tempo de resgatar pessoas e salvar vidas.

O post Reflexões em uma tragédia apareceu primeiro em Diário Carioca.

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