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Vacinas continuam salvando milhões de vidas

Vão-se 30 anos desde a primeira vez que atendi a Jéssica, uma menina de 2 anos de idade que sempre vinha na consulta no colo da sua mãe de apenas 25 anos. Jéssica tinha um comprometimento neurológico severo que tinha começado um ano antes, em poucas semanas teve regressão do desenvolvimento que até então era normal.

Nunca mais conseguiu ficar em pé, nunca mais se sentou sozinha, nunca mais olhou nos olhos de ninguém, deixou de falar as palavras que aprendera, começou a ter convulsões diárias e ficou totalmente dependente da sua abnegada mãe.

Jéssica teve o diagnóstico de Pan-encefalite Esclerosante Subaguda, uma doença inflamatória que ataca o cérebro e deixa sequelas irreversíveis.

Essa doença é uma complicação do sarampo, por algum motivo Jéssica não recebeu a vacinação contra o sarampo, contraiu a doença e desenvolveu essa terrível complicação.

A pequena paciente viveu literalmente no colo da sua mãe até os 8 anos de idade quando uma infecção pulmonar acabou definitivamente com sua corta e trágica vida.

Hoje em dia quando escuto falar que as vacinas são perniciosas tenho certeza que por trás desses comentários existe um total desconhecimento sobre o assunto.  

Pertenço a uma geração que  era acometida por todas essas doenças infecciosas na primeira infância, quase todos sofríamos caxumba, rubéola, catapora e sarampo, também tive varíola. 

Por sorte, a maioria de nós escapou da terrível poliomielite, a mesma que deixou na cadeira de rodas a Juan, um dos meus amigos da infância.

Como o sarampo é hoje em dia uma doença quase totalmente controlada no Brasil, esquecemos o rasto de sofrimento e mortes que já provocou, podemos afirmar o mesmo sobre a poliomielite.

Lembremos por exemplo que em 1940 na Inglaterra e Pais de Gales houve 409 mil casos de sarampo com 857 mortes, a vacinação começou em 1960 e em 1990 houve 13.300 casos com uma morte. 

Desde 1992 não houve mais mortes por essa doença nesses dois países.

Até hoje muitas pessoas não entendem que a eficácia da vacinação numa população determinada depende de atingir uma adesão alta à mesma, geralmente taxas superiores a 80% da população vacinada são necessárias.

Quando a doença é altamente contagiosa, como é o caso do sarampo, a cobertura vacinal ideal deve ser ao redor de 95% da população.

Infelizmente a cobertura vacinal mundial contra o sarampo caiu muito durante a pandemia e no ano de 2022 houve um aumento de 43% nas mortes por sarampo, um total de 136 mil óbitos, quer dizer uma morte a cada 4 minutos.

Por isso quando se trata de vacinação a nossa vontade individual deveria ficar abaixo da necessidade coletiva, os discursos anti-vacinas sem nenhum fundamento científico devem ser sempre enfrentados e desmascarados. 

A preocupação com as quedas nas taxas de vacinação infantil atinge muitos países ao redor do mundo.

Vale a pena lembrar algumas evidências estatísticas. Em 2021 a cobertura vacinal mundial em crianças caiu para 81%, a pior percentagem dos últimos 10 anos. No Brasil em 2021 essa cobertura foi de apenas 52,1 %, a pior em 20 anos. 18 milhões de crianças no mundo não receberam nenhuma vacina em 2021.

Os casos de sarampo no mundo aumentaram 18% em 2022 e as mortes por sarampo aumentaram em 43 % em relação a 2021.

Para países de baixa e média renda cada dólar investido em vacinação significa 52 dólares economizados como retorno de investimento.

Hoje em dia a imunização completa de uma criança em países de baixa renda tem um custo de 18 dólares, sendo que há 10 anos atrás era de 24 dólares.

A vacinação é uma das poucas áreas da medicina que tem tido diminuição de custos ao longo dos anos, lembrando que a inflação dos custos em saúde tem sido pelo menos o dobro da inflação geral anual.

É também o investimento em saúde com as maiores taxas de retorno ou de custo-benefício.

Existem atualmente mais de 25 vacinas altamente eficazes contra agentes infecciosos. 

Todas as que tem sido aprovadas por entidades fiscalizadoras como CDC e Anvisa são totalmente confiáveis.

Um estudo publicado há poucos dias no The Lancet, conduzido pelo Dr. Andrew Shattock, fez um cálculo dos benefícios do programa expandido de imunizações iniciado pela OMS em 1974 e que completou recentemente 50 anos.

O grupo de cientistas analisou os benefícios obtidos para a humanidade com a vacinação contra 14 agentes infecciosos.

Eles concluíram que a vacinação evitou 154 milhões de mortes nesses 50 anos. 146 milhões dessas mortes evitadas foram de crianças menores de 5 anos de idade. 

Significa exatamente isso que você está pensando, as vacinas têm salvado também a vida de filhos e netos de muitos ardorosos e detratores das vacinas.

Esse estudo mostra também que 40% do declínio da mortalidade infantil nas últimas décadas se deve às vacinas.

Um dado muito interessante desse trabalho e que chega a arrepiar pelo medo que provoca diz que no caso hipotético de que não existissem as vacinas, toda criança menor de dez anos teria 40% menos de chances de festejar seu próximo aniversário.

Como é possível que ainda sejamos obrigados a escutar discursos antivacinas!

Diz o prêmio Nobel Daniel Kahneman que há uma limitação desconcertante de nossa mente: nossa confiança excessiva no que acreditamos saber e nossa aparente incapacidade de admitir a verdadeira extensão da nossa ignorância e a incerteza do mundo em que vivemos.

Isso explica perfeitamente que pessoas que nunca realizaram um mínimo de esforço intelectual queiram dar lições justamente para grandes cientistas que tem dedicado sua vida toda às atividades de pesquisa.

Hoje em dia, quando as informações científicas estão mais facilmente disponíveis, não temos justificativas para acreditar cegamente no charlatanismo de gente sem caráter.

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