• New Page 1

    RSSFacebookYouTubeInstagramTwitterYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTube  

    Social - Repositório

Professora surda escreve livro inspirado na convivência com as filhas e conquista título de doutora: ‘Espero ser um exemplo’


Durante a produção da tese de doutorado, Gisele Gama, que é mãe de duas meninas, também produziu um livro infantil sobre as vivências de filhos de pais surdos. Gisele e suas filhas durante a defesa da sua tese de doutorado
Reprodução
Quando ficou surda, aos 4 anos de idade, Gisele Gama precisou aprender um novo jeito de falar com o mundo. Foi assim que descobriu a Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Hoje, aos 32 anos e professora de Letras – Libras na Universidade Federal do Cariri (UFCA), Gisele se tornou a primeira pessoa surda de Juazeiro do Norte a ter um título de doutora.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp
A docente defendeu sua tese de doutorado no dia 30 de abril pelo programa de pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Seu trabalho de conclusão abordou literatura surda e literatura Coda, que é a sigla em inglês para Child of Deaf Adult, traduzido como filhos de adultos surdos.
Na tese de doutorado, a professora apontou a importância da literatura na construção cultural de uma comunidade e na identidade de um indivíduo. Durante sua pesquisa, contudo, Gisele encontrou poucas obras literárias brasileiras voltadas à literatura Coda.
Gisele no 2º Seminário de Formação Acadêmica em Libras e Língua de Sinais Internacional para Doutores e Doutorandos Surdos da UFC
Reprodução
Esse foi um dos motivos que levou Gisele a escrever o livro infantil “Kodinhas? Sim! Sim! Sim”, em que a autora fala um pouco sobre a convivência de duas crianças ouvintes, filhas de pais surdos. A obra, além de integrar sua tese, teve publicação própria, inclusive antes da conclusão do doutorado.
O enredo do livro tem muito da vida real: Gisele e seu marido, que também é surdo, são pais de duas meninas ouvintes, Isadora e Heloisa.
“No caso das minhas filhas, elas têm pais que são surdos, então elas têm duas culturas. A vida delas está interligada com a comunidade surda e com a comunidade ouvinte. Então isso faz parte delas. Por isso a minha tese tratou sobre isso”, explica a professora.
Na comunidade, os termos Coda e Koda diferenciam os filhos de pais surdos: o Coda com “C”, de child, se refere a filhos geralmente maiores de 18 anos; já o Koda com “K” vem de kids, isto é, filhos menores de 18 anos.
LEIA TAMBÉM:
Conheça o artista surdo que viraliza ao traduzir shows para língua de sinais
Intérprete de libras participa de parto de jovem surda no Ceará: ‘humanização’
Em sua tese, Gisele analisou o impacto da literatura surda na autoestima de crianças Kodas. “O livro busca incentivar a autoaceitação de algumas crianças Kodas que se sentem diferentes das demais por saberem duas línguas e possuírem duas culturas diferentes”, afirma.
Livro lançado por Gisele aborda experiências de crianças Kodas
Reprodução
Dificuldade na infância
A família de Gisele descobriu que ela estava ficando surda aos 4 anos de idade. Àquela altura, ela já tinha perdido completamente a audição no ouvido esquerdo e 80% no ouvido direito.
Um dos maiores desafios da família de Gisele foi encontrar uma escola que conseguisse atendê-la. “[Ela] não conseguia se comunicar com os professores. Não tinha uma escola que tinha um intérprete”, afirma Giseuda Gama, mãe de Gisele.
“Quando fiquei surda, já tinha um vocabulário em torno de 1200 palavras e passei a frequentar sessões de fonoterapia 2 vezes por semana, mas a dificuldade de comunicação na escola e com colegas da mesma idade era imensa”, relembra Gisele.
A solução veio justamente no aprendizado de Libras. “Alguém disse à minha mãe que tinha um casal da igreja batista, americanos, ensinando a língua de sinais a crianças surdas. Imediatamente ela procurou ajuda junto a eles e desde o primeiro momento me identifiquei com a Libras”, conta.
Professora surda é a primeira a conquistar título de doutora em Juazeiro do Norte
Libras: da sala de aula para casa
Em 2011, já adulta, Gisele ingressou na graduação em Letras – Libras pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Em 2016 entrou no mestrado, e em 2017 já era professora de Libras na UFCA. O doutorado foi um novo passo nos estudos acerca de libras, da literatura surda e da literatura Coda. O tema, no entanto, não fica apenas na sala de aula: na casa de Gisele, está presente no dia a dia.
Desde o nascimento das filhas, a família usa o português e libras para se comunicar. Nas redes sociais, a professora costuma compartilhar momentos de aprendizado, brincadeiras e conta um pouco sobre como é ser mãe de crianças Kodas.
Gisele com seu marido, Romario, e suas filhas
Reprodução
“Desde o início me comuniquei com elas verbalmente e em libras ao mesmo tempo. Também tenho uma família que interage todo o tempo conosco. Não tivemos dificuldades de comunicação”, detalha sobre a criação das meninas.
O livro, baseado na sua experiência com Heloisa e Isadora, foi lançado em fevereiro deste ano. Na tese de doutorado, entre outras coisas, ela explicou sobre o processo de produção da obra. Por isso, ao se formar doutora em abril, a conquista, construída em um tema que atravessa sua vida, teve um sabor especial.
“Sempre busquei, dentro das oportunidades que me foram dadas, aproveitar ao máximo o meu potencial. Espero ser um exemplo para a minha comunidade e as demais”, conclui.
Assista aos vídeos mais vistos do Ceará
Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.