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Grupo Nzinga apresenta ‘Lá nas Minas: contos de lavadeiras’

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O Grupo Nzinga surgiu em 2019, quando mulheres negras perceberam que queriam contar suas próprias histórias e fariam isso do seu jeito (Foto: Divulgação)

O Grupo Nzinga surgiu em 2019, quando mulheres negras perceberam que queriam contar suas próprias histórias e fariam isso do seu jeito. Elas começaram a se reunir para contar histórias africanas e suas próprias histórias autorais. A intenção era que a contação de histórias tivesse um potencial educacional, e que trouxesse diferentes perspectivas para novas gerações, assim como foi feito de maneira informal por séculos. Foi também refletindo sobre a própria vida que surgiu a apresentação “Lá nas Minas: contos de lavadeiras”, que coloca como foco as próprias origens e faz um resgate das antepassadas dessas mulheres. A primeira apresentação acontece neste domingo (19), na Praça Ceu, e continua nos dias 9 e 23 de junho no Centro Cultural Dnar Rocha, seguindo para a última apresentação, em 27 de julho, no Museu Ferroviário, de forma gratuita. 

Vanda Maria Ferreira, Claudilene de Oliveira, Lucimar Silvério, Tereza Cristina de Oliveira, Flavia de Paula Carvalho, Luciene Silvério e Marilda Simeão fazem parte do Nzinga e tiveram o projeto contemplado pela Lei Murilo Mendes. Como explica Vanda, começaram a ser pensadas histórias que refletem sobre os valores civilizatórios, histórias africanas dos nossos escritores afro-brasileiros e dos nossos povos originários. Logo, elas mesmas começaram a ter as próprias criações, até que se reuniram para falar sobre as lavadeiras. “A maioria de nós somos filhas e netas de ex-lavadeiras. Nosso processo de criação foi conversando, trocando, e escolhendo um tema que falasse da nossa realidade. E que é uma realidade de muitas mulheres, de mães que enfrentaram essa trajetória toda”, explica. Eram mulheres que não conseguiam trabalho formal, mas que através da informalidade de lavar as roupas das madames, um trabalho que na maioria das vezes era muito mal remunerado, foram capaz de formar seus filhos e filhas.

Para ela, a importância em relembrar essa história é também mudar a relação com o passado das pessoas negras no Brasil. “É a nossa identidade, o nosso grupo familiar e a cultura e os valores que se tem. Os nossos ídolos são aqueles que lutam por nós: nossos ancestrais. Falar de nossas mães e avós é falar deles, que lutaram por nós, para que a gente tivesse a vida que temos, e que ainda não é fácil”, diz. Como percebe, para além da homenagem às ancestrais, a contribuição também está na valorização da participação efetiva das mulheres pretas na construção dessa cidade. “Hoje no Nzinga nós temos mestras, especialistas, já tivemos doutoras. Mas e esse processo pra chegar até aqui? Quem foi que deu suporte? Nossas mães e nossas avós, através das lavações, formaram muitos”, conta.

Apresentar narrativas antirracistas para o público, como Vanda destaca, mostra um outro lado da história. “O nosso povo, quando foi escravizado – e ainda é escravizado de algumas formas – não se calou. É necessário conhecer o passado para não se cometer o mesmo erro no futuro e no presente”, diz. Da mesma forma, Claudilene enxerga que, por mais subjetivas que essas histórias escritas pelas mulheres do Nzinga sejam, também tratam de uma coletividade de muitas pessoas pretas. “O momento atual apela pela inclusão, reparação e reconhecimento da cultura negra. Essas histórias falam de mulheres resilientes, que mesmo sofrendo humilhações e enfrentando lutas, nunca perderam a esperança. Ajudaram na economia doméstica e tinham fé. Sempre incentivaram seus filhos e filhas, netos e netas, a estudarem. Tinham a noção que a educação muda o nosso lugar no mundo”, afirma.

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Preservação da memória das lavadeiras

Ter pensado nessas histórias fez com que as participantes relembrassem a própria vida. “Cada uma digitou suas memórias de infância, pois participaram de alguma forma de todo esse processo de lavação das roupas. Algumas ajudavam na entrega das trouxas, outras recolhiam roupas nos varais feitos de arame farpado com muito cuidado para não rasgar, algumas ajudavam a jogar água de sabão. Éramos coadjuvantes nessas narrativas de lavadeiras”, conta Claudilene. À medida que tomaram essa narrativa para si, no entanto, passaram a entender bem mais sobre os caminhos que os seus ancestrais traçaram para que chegassem onde queriam.  “Se um dia a sociedade fez com que sentíssemos vergonha das nossas histórias, superamos esse momento, e hoje nos orgulhamos dessas histórias de lavadeiras pretas de Juiz de Fora, que se somam a muitas outras nesse Brasil afora”, continua.

A contação de histórias é fundamental para preservar essa memória, inclusive porque está totalmente relacionada com a forma pela qual as histórias da população afro-brasileira foram perpetuadas. “Contar histórias vem do início civilizatório, dos homens das cavernas, que contavam como tinha sido o dia, onde tinha passado. Compartilhar saberes através da oralidade da contação é um resgate tremendo”, afirma Vanda.

Momento de encontros e reencontros

Trazer essas apresentações para o público apresenta um momento de encontros e reencontros para as contadoras de histórias. Muitas vezes, como Vanda conta, a plateia reage se lembrando das próprias famílias e pensando em suas vidas. O Nzinga também faz isso, a cada novo contato com a plateia. “Se ouvíssemos essas narrativas quando crianças, nos sentiríamos parte de um projeto de sociedade que não deixa ninguém de fora”, diz Claudilene. Para ela, quando o grupo conta narrativas assim, é possível criar novas memórias. “Não são memórias apenas de sofrimento. Mas histórias de resiliência, de cooperativismo, de cura, de força e de fé. Se ao longo das nossas vidas foram contadas histórias de fracasso e de submissão do povo negro, estamos fazendo o caminho contrário. É um aprendizado nosso e de quem nos ouve”, conta.

Também para Vanda esse processo desperta muitas emoções, e o momento de contação de histórias exige responsabilidade. Ela revela que, sempre que se depara com o público, se compromete com “a verdade, a alegria e o respeito com o ofício”. É também isso que ela percebe que espera: a busca pelo olhar das pessoas e o compartilhamento daquele momento único.

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