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Opinião: especialista em doenças infecciosas cita preocupações com fim da pandemia

Finalmente, a pandemia de Covid-19 entrou em sua fase residual. Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu encerrar a emergência global de saúde da Covid-19.

Os marcos da pandemia vêm após três anos estressantes de picos de infecções, seguidos por períodos de calmaria, depois mais picos, causando um total de 1,1 milhão de mortes nos Estados Unidos e quase 7 milhões em todo o mundo, incluindo mais de 700 mil no Brasil.

Com certeza, a reversão lenta e constante dessas intervenções antes necessárias é a coisa certa a fazer. Também é correto garantir que máscaras, vacinas e kits de testes (que em breve não serão mais gratuitos para todos nos EUA) e todo o aparato de controle pandêmico permaneçam disponíveis para aqueles que ainda se sentem inseguros.

Apesar do que as evidências dizem, no entanto, admito que temo que possamos estar liberando tudo muito rapidamente. Eu tenho uma razão racional para minha posição irracional. As doenças infecciosas nunca vão embora; elas apenas mudam um pouco, depois mudam um pouco mais até que um dia retornam maiores e mais ferozes do que nunca.

A Covid-19, o surgimento do coronavírus simples, é, naturalmente, o exemplo mais vívido. Mas a gripe (influenza), o vírus sincicial respiratório (VSR) e vários “resfriados” semelhantes sempre tiveram boas e más estações, pois seu DNA é embaralhado e reordenado e novos truques virais são aprendidos.

Como especialista em doenças infecciosas, há muito tempo aceitei que nós, humanos, vivemos emprestando tempo: os micróbios nos superam pelos trilhões e não têm nenhum apego emocional, nenhuma hesitação ou dúvida, e nenhum objetivo além de serem abundantes e se multiplicarem.

Além disso, a história de doenças infecciosas é repleta de doenças que viveram sob um fiapo de erradicação e depois retornaram, às vezes mais fortes e vingativas, e outras vezes com uma persistência irregular semelhante ao que vemos agora com SARS-CoV-2.

Flagelos lendários como a poliomielite e o sarampo aguardam pacientemente na porta, só esperando que a gente não se vacine de forma completa, prontos para reacender novas ondas de doenças infecciosas que o respeito adequado à saúde pública poderia ter evitado.

Então, embora o alívio das restrições da Covid-19 esteja garantido em maio de 2023, isso não pode ser visto como um momento de “liberou geral” permanente. Teremos mais problemas com o coronavírus implacável e/ou outros vírus nos próximos meses, anos ou décadas. No entanto, as considerações práticas (também conhecidas como viver uma vida normal) neste momento substituem a preocupação básica dos profissionais; simplesmente não podemos nos encolher enquanto esperamos que outro raio caia no mesmo lugar.

E as especificidades da próxima coisa ruim (outro coronavírus, VSR ou gripe ou uma infecção menos famosa que sai de controle) não é o que nos mantém – nós, especialistas em doenças infecciosas – sem dormir. O que nos assusta é a incerteza cada vez maior sobre se os EUA conseguirão responder à próxima crise.

A coleção antes solta de pessoas antivacina, antifarmacêuticas, anticiência e pró-conspirações acabou virando um movimento em si. A deputada republicana Lauren Boebert, do Colorado, declarou recentemente sobre a demissão da diretora de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, doutora Rochelle Walensky, que “Rochelle foi uma agente importante nos lockdowns, exigências de vacina e na destruição econômica dos Estados Unidos”, como se sua visão de má conduta fosse um fato.

Sabemos que Walensky tornou-se a chefe do CDC dez meses após o início do lockdown, e o CDC não tem o poder de exigir vacinas para os cidadãos nos EUA.

Em uma carta ao presidente Joe Biden, Walensky disse que ela assumiu o trabalho a seu pedido “com o objetivo de deixar para trás os dias terríveis da pandemia e levar o CDC e a saúde pública para um lugar muito melhor e mais confiável”. Ela observou, também, que o CDC “salvou e melhorou vidas e protegeu o país e o mundo da maior ameaça em doença infecciosa que vimos em mais de 100 anos”.

De forma ainda mais sinistra, no meio da multidão antivacina há um grupo em particular bem financiado, cujo líder, de acordo com a repórter Lisa Hagen, da NPR, vê as ações dos últimos anos como uma “trama orientada para a pandemia para envenenar o mundo para obter lucro”. O grupo está se organizando tanto para espalhar sua ideologia quanto para desenvolver um calhamaço de conteúdo jurídico para transformar ações de saúde pública em outro processo judicial sem fim, moendo o progresso científico até que ele pare. O inimigo do grupo não é a doença em si, mas sim as medidas necessárias tomadas pelos órgãos de saúde pública e pelos líderes científicos para salvar vidas humanas.

O que significa que, na próxima crise de saúde pública, teremos de lidar não só com um patógeno, mas também com uma comunidade bem organizada e descolada na realidade, que parece incansável na busca de fatos alternativos. Embora a maioria das pessoas nos EUA esteja vacinada, pareça acreditar na ciência e simplesmente queira seguir com sua vida, a minoria ruidosa provavelmente fará com que a resposta da Operação Warp Speed organizada por Trump no início da pandemia de Covid-19 pareça um momento de união único, um acordo pacífico em todas as ideologias e faixas políticas.

E essa é uma situação que deve manter muitos de nós acordados à noite.

Nota do editor: Kent Sepkowitz é e especialista em doenças infecciosas e médico no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York. As opiniões expressas neste texto são do autor. Veja mais opiniões no site da CNN.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Opinião: especialista em doenças infecciosas cita preocupações com fim da pandemia no site CNN Brasil.

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