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Retorno ao vôlei, exercícios diários e show de Paul McCartney: o ano do paciente que teve remissão total de câncer com terapia celular


Paulo Peregrino chegou a viver com morfina, mal conseguia caminhar e, no começo do ano, foi levado em estado grave para participar de tratamento considerado revolucionário. Terapia está em estudo no país para dois tipos de câncer: leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B. Exercícios e show: o ano do paciente que teve remissão de câncer com terapia celular
Nos anos 60, o então beatle Paul McCartney teve um sonho com a mãe, que havia morrido de câncer há uma década, e ouviu da figura de Mary McCartney o conselho: “Just let it be” (só deixe estar, deixe acontecer).
A frase inspirou o artista, que passava por um momento turbulento, a compor um de seus hits baseado numa mensagem sobre positividade.
Após 53 anos do lançamento da faixa com os Beatles, Paul a cantou para milhares de pessoas no show no Maracanã, no Rio Janeiro, no dia 16 deste mês. Na plateia estava o xará e fã Paulo Peregrino, o paciente que passou por um tratamento considerado revolucionário no combate ao câncer neste ano, e continua em remissão depois de 13 anos com idas e vindas da doença. Em 2022, ele mal andava e não conseguia colocar o tênis, dado o inchaço na perna direita.
🎶Sugestão: siga lendo e escutando “Let it Be”.
Só depois de pelo menos cinco anos sem sinal da doença os médicos consideram o paciente curado. Enquanto isso, ele está na fase de remissão, quando o câncer não é mais detectado por nenhum exame.
Paulo tratava um linfoma e estava prestes a receber cuidados paliativos, entre março e abril, quando foi selecionado para ser o 14º paciente a ser tratado pela terapia CAR-T Cell (entenda abaixo), em São Paulo.
Paulo Peregrino voltou a jogar vôlei durante a remissão do câncer
Fabrício Arriaga/Arquivo pessoal – Reprodução
No Brasil, a técnica em estudo é indicada apenas para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional, como quimioterapia e o transplante de medula óssea.
Veja quais pacientes com câncer podem se candidatar para estudo clínico com Car-T Cell
Praia, vôlei e família
Desde que saiu do hospital em São Paulo e voltou para casa em Niterói (RJ), em julho, Paulo retomou a rotina com exercícios para tentar recuperar massa corporal. Retornar carregando sozinho suas próprias malas teve um significado importante.
Entre as atividades na nova rotina está a caminhada com a cadela Aretha pelo condomínio, praticamente diária. Na época do retorno para casa, que foi acompanhado pelo g1, Aretha estava no quintal e só reconheceu o dono depois de uma cheirada e uma lambida.
“A Aretha não descola de mim. Chamo ela de ‘bola de ferro’, é como se tivesse amarrada no meu tornozelo. Eu estou tentando sair todo dia com ela. Outro dia a gente foi à praia e a levou. Ela entrou na água e tudo.”
Cadela reencontra Paulo depois de 4 meses
Carlos Henrique Dias/g1
Em novembro, Paulo celebrou os 62 anos em um bar com a família, amigos da escola, faculdade e do vôlei, totalizando 106 pessoas presentes.
“O negócio foi tão animado que fizemos trenzinho da alegria e cantamos Balão Mágico. Comprei dois bolos enormes. Este ano para mim se resume na seguinte palavra: gratidão. Quando eu for cumprimentar as pessoas no Réveillon, este ano pra mim vai ser expresso e finalizado com a palavra gratidão. É a base da felicidade. Isso que eu aprendi.”
Aos fins de semana, ele voltou a treinar vôlei de praia com os amigos. No começo deste mês, disputou um campeonato da modalidade com os colegas. Apesar de a equipe ter ficado em último lugar, Paulo levou para casa o “Troféu Superação”, um modelo de madeira que ganhou do grupo.
“Eu quero voltar a jogar um vôlei pelo menos razoável, né? E estava um sol naquele dia [do fim do campeonato], um sol escaldante de fritar ovo no asfalto, e eu joguei. Isso faz parte de toda essa amizade, essa energia positiva que me dá muito orgulho. Fiquei muito feliz em poder estar presente”, conta.
Paulo e a família, que fazem fotos no Natal há 30 anos
Arquivo pessoal
Aos poucos, o publicitário tenta retomar a rotina e ajudar quem entra em contato pelas redes sociais pedindo conselhos e informações sobre a luta contra o câncer. Os próximos exames de Paulo serão realizados em abril de 2024
A técnica CAR-T Cell combate a doença com as próprias células de defesa do paciente modificadas em laboratório e faz parte de um estudo que usa verbas do Ministério da Saúde, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Paulo fez parte de um grupo de pacientes tratados de forma compassiva, ou seja, por meio de uma autorização da Anvisa, de forma individualizada, para pessoas que já tinham esgotado todos os tratamentos aprovados possíveis.
Antes dessa terapia, ele havia passado por procedimentos cirúrgicos, dezenas de exames e quimioterapia.
Médico Vanderson Rocha (à esq.) e Paulo Peregrino (à dir.)
Arquivo pessoal
13 anos ‘tocando em frente’
Uma linha do tempo ajuda a nortear as idas e vindas dos tumores de Paulo (veja abaixo). A família é de Recife, mas se mudou para o Sudeste na década de 70. Ele é o caçula entre 10 irmãos. Foi o primeiro a enfrentar a doença.
timeline-cancer
Livro no leito e cegueira temporária
Em 2020, a pandemia de Covid isolou Paulo num quarto de hospital. Ele tinha passado por um transplante de medula óssea. Sem acompanhantes, sozinho, no entanto, não ficou. Pediu à enfermeira os contatos dos pacientes de quartos vizinhos e criou um grupo por WhatsApp, o “TMO Juntos” (trocadilho de “transplante de medula óssea” com TMJ de “tamos juntos”).
O grupo era formado por ele, um idoso com a esposa e uma adolescente de 17 anos, que dividiram histórias, se motivaram e trocaram músicas durante o isolamento.
Dentro dos 30 dias, Paulo fez o pré-lançamento de “Brizola e eu”, um livro “banhado” a álcool e autógrafos. O esquema era: a esposa entregava os exemplares à enfermeira, o álcool higienizava os livros, ele assinava, e os exemplares eram levados para amigos e parentes.
O livro conta a biografia de Jecy Sarmento, um dos principais assessores e amigos do ex-governador Leonel Brizola.
O fim daquele ciclo na internação foi marcado por um bolo levado como surpresa pelas enfermeiras.
A contaminação por Covid veio em 2022, durante uma internação devido a uma queda nas plaquetas — quanto menor a contagem delas, maior o risco de sangramento intenso. A tosse forte causou uma hemorragia interna nos dois olhos e uma cegueira temporária de três meses.
Mudança de tratamento
Internação para transplante de medula em 2020
Arquivo pessoal
Pesquisas na internet levaram a família ao CAR-T Cell e ao médico Vanderson Rocha.
“Comecei a acompanhá-lo quando já tinha feito uma grande parte do tratamento. A doença voltou, então, a última opção dele realmente era o CAR-T Cell. Tive que pedir autorização da Anvisa para a gente poder fazer esse tipo de tratamento. Muitos pacientes não têm essa oportunidade”, afirmou anteriormente o especialista.
Paulo lembra que teve febre no primeiro dia em que as células modificadas foram aplicadas no corpo, e chegou a ir para a UTI para ser monitorado.
“Senti um pouco de dormência nas mãos, mas tive acompanhamento antes, durante e depois de toda a equipe multidisciplinar do HC, em São Paulo.”
Estuda busca 81 novos pacientes
O estudo clínico para CAR-T Cell é financiado pelo Ministério da Saúde, com apoio de estrutura por parte do Butantan e investimento de pesquisa da Fapesp e do CNPq.
Segundo Rodrigo Calado, professor de medicina da USP e diretor-presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a partir de janeiro e fevereiro, e por um período de 12 meses, os pacientes serão recrutados. Depois, acompanhados por mais 12 meses para uma análise dos resultados e a solicitação à Anvisa de registro do produto, que poderá ser disponibilizado ao SUS.
O estudo clínico de fase 1/2 vai incluir 81 pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B, de forma gratuita.
Já foram tratados com essa terapia de células CAR-T desenvolvidas na USP e no Hemocentro de Ribeirão Preto 20 pacientes com leucemia ou linfoma, sendo que 14 deles continuam bem, de acordo com os médicos. Todos eram casos graves para os quais não havia mais opção terapêutica.
A parceria entre as instituições, incluindo o Hospital das Clínicas de São Paulo, resultou na construção de duas unidades do Núcleo de Terapia Avançada (Nutera) em Ribeirão Preto e na capital paulista. Apenas a “fábrica de células” de Ribeirão Preto está em operação e será responsável por atender a demanda de participantes do estudo. No futuro, poderão ser atendidos até 300 pacientes ao ano.
O estudo clínico é focado especificamente em pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional, como quimioterapia e o transplante de medula óssea.
A técnica brasileira não tem efetividade em outros tipos de cânceres sólidos, além dos tipos citados acima.
Segundo os pesquisadores, o paciente que acredita preencher os requisitos deve conversar com o seu médico e pedir que ele entre em contato pelo e-mail: [email protected].
Deve ser anexado o relatório de saúde do candidato, e o material será avaliado pelas equipes. Se o caso se enquadrar no estudo, o médico responsável pelo paciente será avisado.
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