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Saiba quem era Maria Sguassábia, professora que lutou na Revolução de 32; restos mortais são levados para mausoléu em São João


No Dia Internacional da Mulher, cidade tem homenagem para mulher que desafiou as leis e costumes da época para ficar ao lado do irmão no campo de batalha. A professora de São João da Boa Vista Maria Sguassábia foi para o campo de batalha na Revolução de 32
Arquivo pessoal/Divulgação
Em 1932, aos 33 anos, viúva e mãe de uma menina de 10 anos e professora de escola rural de São João da Boa Vista (SP), Maria Stela Rosa Sguassábia revolucionou a história ao burlar as leis e costumes da época e ir para o campo de batalha como soldado das tropas paulistas durante a Revolução Constitucionalista.
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A bravura de sua atuação no confronto foi reconhecido nesta sexta-feira, dia 8 de março, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Seus restos mortais foram transferidos para o Mausoléu da Revolução Constitucionalista de 1932, que existe no cemitério de São João da Boa Vista em homenagem aos combatentes.
A homenagem, que era automática para os homens que atuaram na Revolução de 1932, chegou para Maria Sguassábia quase 51 anos após sua morte. O translado dos restos mortais ocorreu por volta das 8h com a presença de autoridades e da família.
Cemitério de São João da Boa Vista tem homenagem à mulher que participou da luta de 1932
Batalhadora, símbolo de coragem que ganhou o respeito dos companheiros de front, Maria Sguassábia teve passagens importantes ao longo da Revolução Constitucionalista (leia mais abaixo).
A Revolução de 1932 foi o maior conflito militar brasileiro do século 20. O movimento armado foi articulado pelas elites paulistas contra o presidente Getúlio Vargas que, após tomar o poder do país na Revolução de 1930, passou a governar de forma autoritária, por meio de decretos. Frustrados com a perda de influência, empresários e políticos paulistas se insurgiram para exigir a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Maria Estela Sguassábia aos 73 anos
Arquivo/Agência O GLOBO
O conflito é uma das passagens marcantes da história de São João da Boa Vista e Águas da Prata, localizadas na fronteira com o estado de Minas Gerais, região onde houve muitas batalhas.
LEIA MAIS: Águas da Prata, São João da Boa Vista e Mococa guardam recordações da Revolução Constitucionalista de 32
Quem foi Maria Sguassábia e qual sua importância na Revolução de 32?
Maria Stela Rosa Sguassábia nasceu em Araraquara (SP) em 12 de março de 1899, filha de José Sguassábia e Palpello Clotildes.
Mudou-se com a família aos 3 anos para São João da Boa Vista. Aos 23 anos casou-se casou com José Pinto de Andrade, em 22 de abril de 1922, de quem ficou viúva quando no 5º mês de gravidez de sua única filha.
Quando começou a revolução, atuava como professora da escola instalada na Fazenda Paulicéia, que se tornou um ponto estratégico importante por conta da proximidade com a fronteira do estado de Minas Gerais, onde se concentrava a maior parte do exército federalista.
Maria Sguassábia e o irmão Antônio na Revolução Constitucionalista de 1932
Reprodução
Da janela, Maria observava a sentinela das porteiras. Se encarregou de vigiar a estrada que fazia fronteira entre Minas Gerais e São Paulo, com o objetivo de não deixar ninguém transitar sem identificação.
Seus irmãos, Primo e Antônio, se juntaram às tropas de São Paulo que tentariam derrubar do poder o presidente Getúlio Vargas. Naquela época, mulheres não podiam participar de combates e Maria Stela ficou na Fazenda Pauliceia.
Ao receber a notícia de que Primo havia sido morto em combate, Maria Stela decidiu ficar ao lado de seu outro irmão. Pegando um fuzil que ela viu um combatente desertor abandonar no meio do mato, saiu à procura do irmão Antônio no campo de batalha.
“Quando me viu, meu irmão quase me jogou para fora do caminhão. Disse que eu estava louca e que onde já se viu uma mulher no meio de soldados, armada como se fosse um homem. Mas eu estava decidida e não teve jeito”, ela contou em uma entrevista ao O GLOBO, publicada em 9 de julho de 1972.
Ao ser descoberta pelo seu superior após uma batalha, ela implorou para que fosse aceita no batalhão. Sem saber o que fazer o tenente Mario dos Santos Meira, levou o caso ao comandante Romão Gomes, que surpreendendo a todos, permitiu que a professora permanecesse com a tropa. A ideia dele é que ela, caso aguentasse a brutalidade das trincheiras serviria de exemplo para soldados medrosos.
Maria Sguassábia desafiou as leis e costumes da época para atuar como soldado na Revolução Constitucionalista de 1932
Reprodução
Embora a tropa inicialmente tenha sido relutante diante da sua presença, pouco a pouco Maria Stela foi convencendo os companheiros, com demonstrações de bravura nos combates.
Segundo seu neto, Maurício Marciglia, o principal orgulho de Maria Sguassábia durante seu período no front foi a captura de um tenente do exército inimigo.
“O tenente quando percebeu que era uma mulher não queria se render nem entregar de forma alguma às armas. Neste instante, o comandante do batalhão da minha avó disse que ele teria se sentir orgulhoso de ter sido rendido por uma heroína”, lembrou.
Naquele dia Maria Sguassábia foi promovida a cabo, pelo mérito do seu feito, e mais tarde a sargento.
Em setembro de 1932, Maria e o irmão estavam com tropas na região de Campinas que foram cercadas pelas forças federais e, sem alternativa, desistiram da Revolução.
Ela escondeu o fuzil e capacete em uma casa, conseguiu um vestido com uma amiga e decidiu, juntamente com o irmão, voltar para São João da Boa Vista. O caminho foi feito toda a pé, por rotas alternativas por medo de serem capturados pelos inimigos.
Ao voltar para casa, Maria soube que sua cabeça estava a prêmio por 20 contos de reis. Com o fim da Revolução dias depois, ninguém teve tempo de buscar a recompensa.
Três meses depois, seu irmão Primo que, na realidade estivera preso e não morrido em combate, se juntou à família.
A Revolução Constitucionalista de 1932 terminou com a derrota dos paulistas. Getúlio conseguiu sufocar a insurreição em São Paulo, após 87 dias, com cerca de 2,2 mil mortos, de acordo com estimativas. Mesmo assim, os paulistas tem o conflito como orgulho de sua história e, desde 1997, a data 9 de julho, data da deflagração da revolução, é feriado estadual.
Após a terminada a revolução, Maria Sguassábia enfrentou perseguição do tenente inimigo que nunca se conformou por ser capturado por uma mulher. Ele conseguiu que ela fosse demitida de seu cargo de professora de escola primária de São João da Boa Vista.
Por seis meses sobreviveu trabalhando como costureira até conseguir junto ao governo de estado um posto na Educação, no qual ficou até se aposentar.
Maria Sguassábia morreu em 14 de março de 1973, aos 74 anos, sendo sepultada como civil no Cemitério Municipal São João Batista.
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