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Pesquisadores descobrem nova espécie do gênero Pleroma, a planta ‘da quaresma’


Floração da árvore quaresmeira é mais intensa no período religioso. Amostra encontrada por botânicos foi vista no Parque Estadual da Serra do Mar, em São Paulo. Flor de Pleroma curucutuense
Renato Goldenberg
Nativa do Brasil e típica de Mata Atlântica, a quaresmeira (Pleroma granulosum) marca presença na arborização urbana, sendo bastante utilizada para fins paisagísticos por conta da beleza de suas flores.
A maior parte das espécies do gênero ocorre na Mata Atlântica, entre elas o manacá-da-serra (Pleroma raddianum e P. mutabile) e o manacá-de-minas (Pleroma sellowianum).
Mas, recentemente, dois pesquisadores do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) descobriram uma nova espécie de quaresmeira, planta do gênero Pleroma, no Parque Estadual da Serra do Mar, em São Paulo: a Pleroma curucutuense.
O que chama atenção é que uma espécie, até então desconhecida, foi descoberta no município de São Paulo, uma das maiores áreas urbanas do mundo, e a maior da América do Sul. Impressiona também o fato de uma cidade com esse porte ainda ter áreas naturais com flora pouco conhecida.
“Isso reforça a enorme biodiversidade da Mata Atlântica, que pode ser considerado um bioma ainda a ser explorado em pesquisas científicas no geral, especialmente à luz da taxonomia vegetal (ciência que classifica as espécies vegetais), diz o botânico Fabrício Meyer”.
Estudos que envolvem a descoberta duraram mais de dez anos até a descrição e publicação na revista científica de taxonomia botânica Phytotaxa. O artigo foi escrito pelos biólogos Fabrício Meyer, pós-doutor do Departamento de Botânica da UFPR, e Renato Goldenberg, professor do mesmo departamento.
O início da pesquisa foi em 2012, quando – além de Meyer e Goldenberg – os botânicos Marcelo Reginato e Ricardo José Francischetti Garcia participaram da obtenção de amostras da planta.
Os pesquisadores Renato Goldenberg e Ricardo José Garcia na ocasião da coleta da nova espécie de quaresmeira
Fabrício Meyer
“Achei que a planta que encontramos era diferente, mas optei por aguardar e estudar de forma minuciosa. Durante todos esses anos eu tive acesso a todos os tipos nomenclaturais das espécies do gênero, que consiste em fotos, ilustrações etc. Também tive de comparar as partes florais e vegetativas (ramos e folhas) de diversas espécies”, explica Meyer.
Em comparação com as espécies mais próximas, o botânico pontua que a Pleroma curucutuense tem porte menor, flores reunidas em inflorescências, flores com menor diâmetro e pétalas roxas. Há também diferenças em relação ao tamanho das folhas, sépalas e outras peças florais.
A espécie que mais se assemelha a Pleroma curucutuense é a Pleroma caissara, que os mesmos pesquisadores descreveram em 2014. Além das diferenças acima indicadas, elas também ocorrem em habitats diferentes.
A P. curucutuense ocorre acima de 750 metros, em campos de altitude, enquanto a P. caissara ocorre desde o nível do mar até no máximo 400 metros de altitude, próximo à costa, em restinga e Floresta Atlântica de várzea e submontana.
Fabrício Meyer ao lado da Pleroma curucutuense durante coleta de amostra
Renato Goldenberg
Embora tenha sido descrita somente agora, a primeira vez que uma amostra de Pleroma curucutuense foi coletada aconteceu em 1995. Por todo esse tempo, ela ficou depositada em herbários, e pôde ser recoletada em 2012, quando os pesquisadores puderam observá-la em campo e suspeitaram que pudesse representar uma espécie ainda não descrita.
Até o momento, Meyer conta que a espécie só foi coletada em 10 ocasiões diferentes.
Homenagem ao Núcleo Curucutu
A árvore encontrada foi batizada com o nome de Pleroma curucutuense em homenagem ao local onde foi coletada: o Núcleo Curucutu.
A Reserva Florestal, criada em 1977 juntamente com o Parque Estadual Serra do Mar abrange os municípios de São Paulo (SP), Itanhaém (SP), Mongaguá (SP) e Juquitiba (SP). Com mais de 37 mil hectares, a área possui uma grande diversidade de corujas e por isso recebe este nome.
Pleroma curucutuense ocorre nos campos de altitude em São Paulo
Renato Goldenberg
“Nossa motivação foi homenagear o parque, já que P. curucutuense aparentemente é endêmica do local. Digo aparentemente porque só encontramos até agora amostras provenientes deste local, em campos de altitude. Isto também é uma forma de valorizar, dar importância para a unidade de conservação”, explica Meyer, curador assistente do Herbário do Museu Botânico Municipal de Curitiba.
Flor que anuncia a chegada da Páscoa
A quaresmeira recebe este nome, pois sua floração é mais intensa quando se aproxima do período religioso da quaresma, que se estende da quarta-feira de Cinzas até o domingo de Páscoa.
Detalhe da flor de Pleroma curucutuense
Renato Goldenberg
A espécie é característica de encosta úmida da Serra do Mar e ocorre do Rio de Janeiro a Santa Catarina. Encontrada exclusivamente na mata secundária, a quaresmeira pode viver de 60 a 70 anos.
No entanto, a proximidade da planta com o estresse da cidade e a exposição ao monóxido de carbono, fizeram com que a quaresmeira adotasse estratégias evolutivas diferentes. Fora da mata original, a espécie floresce três vezes por ano. A tática garante mais sementes e mais “descendentes”. Apesar da evolução, em áreas urbanas a quaresmeira vive menos, por cerca de 50 anos.
Campos de altitude
A Pleroma curucutuense ocorre em pontos de altitude, um tipo de vegetação com porte predominantemente herbáceo, associada aos pontos mais altos das montanhas da Serra do Mar e Serra da Mantiqueira, cujos solos resultam de rochas ígneas ou metamórficas, como granitos e gnaisses.
“Este tipo de vegetação geralmente ocorre acima de 1.500 metros de altitude, mas, no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Curucutu, estão em cotas altimétricas mais baixas, entre 750–850 m”.
“Algumas das condições ambientais restritivas nestes habitats são as baixas temperaturas, deficiência de nutrientes, solos rasos com baixa capacidade de retenção de água, ventos fortes e constantes e elevada radiação solar”, esclarece o pesquisador.
Campos de altitude no Parque Estadual Serra do Mar, núcleo Curucutu
Fabrício Meyer
Espécie endêmica
O fato de a espécie possuir uma distribuição restrita, com populações pequenas, pode significar um maior risco de extinção. “Não acreditamos que exemplares dessa planta sejam encontrados fora da área do parque, mas sim que ela esteja amplamente distribuída dentro do Núcleo Curucutu, onde foi coletada”, diz.
O biólogo especialista em botânica destaca que o aquecimento global é uma das grandes ameaças às espécies endêmicas dos campos de altitude, já que estes ambientes tendem a desaparecer com as mudanças climáticas.
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