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Viajante de longa-distância: conheça a ave que surpreendeu pesquisadores da Serra da Mantiqueira

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Com reprodução no Hemisfério Norte, sabiazinho-norte-americano viaja por cerca de 8 mil km até o Brasil. Ave viajou cerca de 8 mil km até a Serra da Mantiqueira
Observatório de Aves da Mantiqueira
Durante um dia de monitoramento de campo no Observatório de Aves da Mantiqueira, pesquisadores foram surpreendidos com a chegada de um viajante de longa distância, que veio “sem avisar”. No entanto, o encontro com ele não poderia ser mais especial.
O indivíduo que apareceu é um sabiazinho-norte-americano (Catharus fuscescens), ave migratória que se reproduz no sul do Canadá e norte dos Estados Unidos, e no inverno setentrional, migra para Brasil, Colômbia, Guianas e Venezuela.
A diretora executiva do Observatório de Aves da Mantiqueira (OAMa), Luiza Figueira, conta que estavam realizando as revisões das redes de neblina, que são instrumentos para a captura de aves de forma passiva em estudos ornitológicos, quando perceberam o sabiazinho-norte-americano preso em uma rede no sub-bosque da floresta, em uma área de proteção ambiental da Mata Atlântica.
“Era uma área próxima de um riacho de água limpa e com bastante cobertura florestal, fatores provavelmente importantes para a presença do sabiazinho”, explica.
Após o grande encontro, segundo a pesquisadora, a ave foi anilhada, ou seja, recebeu uma numeração única para ser identificada em qualquer lugar do mundo em que seja novamente capturada, e foi solta na sequência.
Sabiazinho-norte-americano é uma ave migratória que se reproduz no sul do Canadá e norte dos Estados Unidos
Observatório de Aves da Mantiqueira
Um dos fatores estudados no monitoramento de avifauna pela organização é a classificação de idade das espécies da Mata Atlântica, utilizando o método baseado no ciclo de troca de penas das aves.
“Com esse método e reconhecendo características específicas do ciclo de vida da espécie, podemos afirmar que o indivíduo estava ainda em seu primeiro ano de vida. Como é uma espécie que tem um ciclo de vida muito marcado sazonalmente, sabemos que ela se reproduz entre maio e agosto no norte da América do Norte. Depois desse período de reprodução, a espécie migra para a América do Sul. Mais especificamente, para a região centro e sul do Brasil”, comenta a diretora.
Migração
Segundo Luiza, a ave viajou cerca de 8 mil km, já que a área mais ao sul de reprodução desta espécie fica entre os estados do Tennessee e da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
Além disso, a especialista explica que a migração faz parte do ciclo de vida do sabiazinho-norte-americano, isso significa que ela se desloca, anualmente, entre duas áreas muito distantes. Em uma área, ele se reproduz e, em outra, passa um período de “descanso”, quando pode fazer a troca de penas ou então só se ocupar com a sobrevivência, na busca de alimentos e abrigo.
“Essas espécies migratórias de longa distância mudam de lugar por conta das condições ambientais e recursos. Quanto mais intensa a sazonalidade climática de um local, mais comum é a ocorrência de migração após a reprodução”.
“É como se as espécies migratórias estivessem em busca de ‘um eterno primavera/verão’. O sabiázinho-norte-americano tem sua área de reprodução entre Canadá e norte dos Estados Unidos. E sua área de “descanso” no centro e sul do Brasil. Ainda assim, é uma espécie pouco vista no país”, completa ela.
Isso pode acontecer, provavelmente, em razão dos hábitos e comportamentos da espécie neste período, já que não é uma espécie chamativa, de pequeno/médio porte, sem cores vibrantes, e que, enquanto está no Brasil, não emite a vocalização de canto, que é exclusivamente utilizado no período reprodutivo, para encontrar um par ou marcar território.
De acordo com Luiza Figueira, aqui no Brasil, o sabiazinho-norte-americano ocorre em áreas florestais mais densas, onde a observação de aves é dificultada pela barreira visual dos galhos e folhas.
“A migração para o Brasil é o padrão da espécie, ou seja, muito comum. Mas até onde temos conhecimento, não há nenhum registro do sabiazinho-norte-americano em nossa região de monitoramento, na divisa entre Rio de Janeiro e Minas Gerais. Não há nenhum registro para todo o estado do Rio de Janeiro.
E a captura de um indivíduo dessa espécie na rede de neblina foi uma sorte tremenda. Foi a ocorrência de abrirmos as redes e do indivíduo estar naquela área justamente ao mesmo tempo e ainda cair na rede de neblina que foi o inesperado”.
Classificação de idade das espécies é feita por método baseado no ciclo de troca de penas das aves
Observatório de Aves da Mantiqueira
A diretora executiva também afirma que, em brev,e terão mais informações para que possam fazer uma publicação científica sobre esta ocorrência, e deixar registrado para estudos futuros.
Luiza explica que, infelizmente, o Observatório de Aves da Mantiqueira não possui marcadores de GPS disponíveis no monitoramento para poder seguir o indivíduo, então até o momento não tiveram nenhum outro encontro com o animal depois do primeiro evento.
Para a ciência esse registro é um novo ponto no mapa de distribuição da espécie porque, até o momento, o mapa de distribuição da espécie não chegava na Mantiqueira.
Por isso, é importante a publicação desse tipo de registro em jornais científicos e também em plataformas de ciência cidadã, para que pesquisadores que estudam a espécie possam se atualizar da área de ocorrência do animal e entender quando e como isso está mudando.
O sabiazinho-norte-americano ocorre em áreas florestais mais densas
Observatório de Aves da Mantiqueira
Muitas espécies migratórias de longas distâncias ocupam o norte e nordeste do Brasil em seu período de descanso. No entanto, as regiões centro, centro-oeste, e sul do país também recebem algumas espécies do Hemisfério Norte, como o próprio sabiázinho-norte-americano.
Exemplo disso é o tesourinha (Tyrannus savanna), uma espécie comum de ocorrência sazonal na Mantiqueira, e que migra de diferentes regiões da América do Sul e Central para vir reproduzir por aqui.
Observatório de Aves da Mantiqueira
Fundado em agosto de 2019, o Observatório de Aves da Mantiqueira é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão construir pontes entre ciência, sociedade e natureza para promover conservação de aves e habitats.
Para isso, atuam no monitoramento padronizado da avifauna e fazem pesquisas ornitológicas. Também atuam na sensibilização e divulgação científica, com elaboração de material informativo, realização de atividades com a sociedade e capacitação na área de ornitologia.
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