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A vida que Marielle e Anderson não viveram nos 6 anos após o crime

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Viúvas Mônica Benício e Agatha Arnaus; a irmã, Anielle Franco; a filha, Luyara; e os pais, Marinete e Antônio, contam o que Marielle Franco e Anderson Gomes perderam desde março de 2018. A vida que Marielle e Anderson não viveram nos 6 anos após o atentado
O assassinato da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, interrompeu uma carreira política em ascensão, mas também trouxe grandes perdas para as famílias.
Nesses 6 anos tirados deles — e ainda não se sabe a mando de quem e por quê —, Marielle não viu Luyara, a filha, se preparar para a formatura, neste ano; não conheceu a sobrinha caçula, Eloah, filha de Anielle, que veio ao mundo em julho de 2020; não viu a irmã se tornar ministra, em janeiro de 2023; tampouco pôde vibrar com a cura da mãe, Marinete, diagnosticada com um câncer de mama meses após o atentado e em remissão desde o ano passado. A morte prematura, aos 38 anos, anulou também um projeto de família que estava sendo construído ao lado da companheira, Mônica.
Anderson não acompanhou o crescimento do filho; não soube detalhes da doença da criança, a onfalocele, uma malformação congênita e rara da parede abdominal, diagnosticada em 2018; e não esteve presente na entrega das chaves da primeira casa própria, em outubro do ano passado — um sonho nutrido com a mulher, Agatha.
O g1 conversou com todos eles e perguntou: “O que Marielle e Anderson perderam nesses 6 anos desde a sua morte?”
Veja abaixo os principais pontos.
Mônica Benício
Mônica Benício, viúva de Marielle Franco
Gustavo Wanderley/g1
“Não consigo nem mensurar para você e colocar em palavras o que a gente deixou de viver. A Marielle era minha construção de família. A gente demorou muitos anos para conseguir consolidar a nossa história como um núcleo familiar. E em 2017 e 2018 a gente estava, sem dúvida nenhuma, no momento mais feliz da nossa vida enquanto casal, enquanto mulheres que estavam ali se realizando. Tínhamos sonhos comuns que estávamos planejando para a festa de casamento”.
“O assassinato da Marielle me tira não só a minha companheira, minha esposa, minha melhor amiga. Ele me tira a promessa de futuro.”
“Ele me tira a minha idealização de um projeto de família que estava sendo construído, sonhado como aquela mulher e que tinha sido fruto de um amor de muitos anos, que teve muitos contratempos para conseguir se consolidar, se concretizar”.
Agatha Arnaus
Agatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes
Gustavo Wanderley/g1
“Perdemos quase tudo. O próprio Anderson, a vida que a gente planejava. Arthur perdeu a possibilidade de jogar bola com o pai. Perdeu as brincadeiras com o Arthur. Ele perdeu os dias dos pais na escola; todos os eventos que existem. Natal, Ano Novo, nada mais. Perdeu muito nesse sentido. (Ele) Era louco para ser pai. Ele brincava (com as crianças) antes de a gente ter filho.
“O Arthur perdeu a oportunidade de estar perto de um ser humano incrível, sabe? Ele seria um pai maravilhoso”.
“Ele foi um pai especial no tempo que ficou com Arthur. Mas o pouco que ele ficou acredito que tenha sido muito importante. Acho que é até difícil mensurar, mas ele perdeu a chance de viajar para lugares que a gente viajou e ter o pai para nadar, o pai para andar de carro, já que o Arthur é doido por carro igual ao Anderson”.
Marinete da Silva
Marinete da Silva, mãe de Marielle Franco
Willian Corrêa/TV Globo
“(Marielle) Perdeu muita coisa. Além do convívio com a gente, ela perdeu o nascimento da Eloah (sobrinha); o avanço que estamos tendo de todas as pautas dentro da política; dessa reconstrução do país. Ela vinha em uma atuação muito forte. Como política e cidadã, Marielle perdeu muito. O Brasil perdeu muito. Mas ela, em particular, perdeu etapas fundamentais para a gente. É bem difícil para gente saber o que se perdeu. Se perdeu muito. Quando você perde uma mulher com 38 anos, com toda a vitalidade que Marielle tinha, perde parte da história.
“(Sobre o tratamento do câncer) seria um apoio total para mim. Marielle tinha quase 5 anos de diferença da Anielle, e ela sempre foi muito presente. E, ela era uma mulher que na doença ela sempre estava lá. Seria um outro enfrentamento a nível de saúde. O cuidado que ela tinha com a família, o cuidado que ela tinha comigo, seria fundamental que ela estivesse junto. Por outro lado, isso veio por conta disso. Esse convívio com as dores, a somatização. Mas, com ela aqui, seria bem diferente. Ela iria somar, me acompanhar nas 4 cirurgias. Acho que ela teria outro olhar. Não que eu não tenha sido cuidada, fui sim. Mas, ela era uma filha mais velha, tinha conhecimento e lutava para que toda mulher tivesse saúde de qualidade. Seria bem diferente”.
“Ela perdeu a Lyuara se formando agora em educação física. A Anielle virou ministra. A Mariah (sobrinha mais velha), que era o sonho dela (Marielle) entrar no Pedro II, conseguiu uma vaga. Veio a segunda filha da Anielle. Marielle perdeu a transformação do Brasil. As mudanças na política”.
Antônio Francisco da Silva Neto
Antonio Francisco da Silva Neto, pai da vereadora Marielle Franco
Willian Corrêa/TV Globo
“A Marielle não chegou a ver a cura da mãe do câncer. Ela deixou de participar de diversos momentos da nossa vida”.
“Ela e nós deixamos de viver muita coisa. Ela deixou de ver jogos do Flamengo com a filha. (Não viu) a formatura da filha dela.”
“Marielle era muito participativa. Ela não deixa nem um dia de ligar para nós. Nesses 6 anos, ela faz muita falta. Perdemos vários momentos em família. Como nós somos uma família católica, todo domingo nós íamos à missa com ela. Vinha ela, quando a Anielle estava no Rio, nós, praticamente, ocupávamos um banco da igreja que frequentávamos em Bonsucesso. Como ela era uma flamenguista ferrenha, assim como a filha, quando tinha Fla-Flu estávamos sempre juntos assistindo. Perdemos isso.”
“A filha dela era bem adolescente na época, era uma moça. Agora continua jovem. Ela ficaria orgulhosa da trajetória que a filha dela está tomando. Ela ficaria muito feliz com a trajetória da irmã (Anielle).”
Luyara Santos
Luyara Santos, filha de Marielle Franco
Willian Corrêa/TV Globo
“Eu perdi os conselhos quando a gente está em um dia difícil. Perdi aquela mensagem: ‘Filha, vai dar tudo certo’. Eu acho que é o que mais eu sinto falta”.
“Perdemos os momentos que a gente mais gostava. Toda a oportunidade que a gente tinha de ficar um tempo junto, que não era sempre, a gente ia no Outback comer uma sobremesa que ela gostava, aqueles 20 minutos, 20 minutinhos, 5 minutinhos. Hoje em dia eu vou sozinha, porque eu acho que é bom ter esse momento de lembrança dela e de refúgio, sabe?”
“São 6 dias das mães sem ela, o que é muito difícil por conta da minha avó. São 6 anos difíceis, longos, que é muito tempo. Muito tempo pra dor, para a saudade, pra justiça. São 6 anos que a gente não reviva a dor, que não seja difícil. Nem as próprias pessoas que mataram a minha mãe tinham a noção do que ela era e do que ia se tornar mundialmente. Eu ainda não tive muito tempo para ter o luto que eu precisava sentir. É sentir o luto da Marielle Francisco. As pessoas falam da Marielle Franco, mas eu sou filha da Marielle Francisco. O luto da menina de 19 anos que perdeu a mãe assassinada e o luto da filha da vereadora. Ela não viu a minha formatura, ela não viu a volta da minha tia formada dos Estados Unidos.”
Anielle Franco
Ministra Anielle Franco, irmã de Marielle
Reprodução/TV Globo
“(Deixamos de viver) Muita coisa. É difícil pra mim imaginar isso, mas a Marielle deixou de participar do nascimento da minha segunda filha; da minha caçula, que é extremamente parecida com ela, por exemplo. Ela deixa de participar da minha defesa do mestrado; deixa de participar de aulas no colégio da Mariah, que é o Pedro II, que ela sempre sonhou (da minha filha) em estudar.
“São vários momentos (de que ela deixa de participar) como a formatura da Luyara. Deixa de ver a filha galgar e alcançar objetivos pessoais e profissionais que ela sempre quis”.
“Ela deixa de estar aqui, me vendo ministra. Além disso, provavelmente, ela deixou de ser eleita governadora ou senadora deste estado. Para mim, tem esses dois lados. A mesma coisa, se perguntar para a família do Anderson, eles vão dizer que ele deixou de acompanhar o crescimento do filho. Era a grande paixão dele. Mas, tenho certeza de que de onde eles estejam eles nos acompanham”.
No entanto, mesmo sem a elucidação da motivação e dos mandantes do atentado, as famílias de Marielle e Anderson dizem que acreditam que terão essas respostas para que possam “viver o luto”.
Quem mandou matar Marielle?
Nos primeiros 5 anos após as mortes, a Polícia Civil teve 5 delegados responsáveis pelo caso na Delegacia de Homicídios. No Ministério Público Estadual, 3 equipes diferentes atuaram no caso durante esses anos.
As trocas constantes de comando receberam críticas de familiares e movimentos sociais ao longo desses anos e levaram a suspeitas de obstrução nas investigações.
Em maio de 2019, a Polícia Federal apontou que foram dados depoimentos falsos para dificultar a solução dos homicídios. Procuradoras abandonaram o caso em julho de 2021, com a afirmação de que houve interferência externa na investigação.
De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, uma das maiores dificuldades para identificar os mandantes é o fato de os executores terem sido das forças policiais e saberem como funciona a uma investigação da polícia. O órgão diz estar comprometido em realizar um trabalho técnico para identificar todos os envolvidos.
Em fevereiro de 2023, a investigação dos assassinatos de Marielle e Anderson e da tentativa de homicídio contra a assessora Fernanda Chaves passou a ser responsabilidade da Polícia Federal.
Prisões
Até agora, 4 pessoas foram presas por participar do assassinato da vereadora ou por atuar na tentativa de atrapalhar as investigações.
Em fevereiro deste ano, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRJ, prendeu Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha, apontado como o responsável por desmanchar o carro usado no crime. De acordo com a investigação, ele é o dono do ferro-velho que destruiu o Cobalt prata usado no assassinato.
Ronnie Lessa foi preso em março de 2019 pela participação nos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes. Na delação de Élcio de Queiroz, Ronnie é apontado como autor dos disparos que mataram a vereadora e seu motorista. Élcio dirigiu o Cobalt.
Élcio, que também está preso desde 2019, fez a delação premiada na qual apontou a participação de mais uma pessoa, o ex-sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Corrêa, o Suel, nas mortes.
Suel é acusado de ter cedido um carro para a quadrilha, esconder as armas após o crime e auxiliar no descarte delas. Segundo Queiroz, o ex-bombeiro também participou de uma tentativa frustrada de matar a vereadora em 2017.
De acordo com as investigações, Suel era o motorista do veículo que não teria conseguido emparelhar com o táxi onde estava Marielle, na hora que Lessa mandou. O ex-bombeiro está preso desde julho do ano passado.
Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março, no Rio de Janeiro
Reprodução/TV Globo

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