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Conheça a história do Mara Hope, navio que passou por incêndio, encalhou e virou ponto turístico no mar de Fortaleza

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A embarcação encalhou no mar de Fortaleza em 1985 e desde então compõe a paisagem da cidade, ainda que esteja sofrendo desgastes pela maresia ao longo dos anos. Conheça o Mara Hope, navio petroleiro encalhado em Fortaleza há quase 40 anos
Criado para cruzar o mundo, o navio Mara Hope se prendeu a Fortaleza e conhece a cidade há mais tempo que a maioria dos millenials — a geração dos nascidos entre 1984 e 1995. A embarcação foi construída na Espanha para transportar petróleo, mas acabou tendo outro destino: encalhou no litoral cearense em março de 1985. Desde então, faz parte da paisagem marítima de Fortaleza.
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Antes de se tornar o Mara Hope, o navio teve dois nomes diferentes: Juan de Austria e Asian Glory. As mudanças aconteceram quando foi vendido para novos donos. Ele já era Mara Hope quando um grande incêndio danificou suas estruturas na cidade de Port Neches, no Texas.
Menos de dois anos depois, o navio acabou chegando ao litoral cearense em uma tentativa de reboca-lo até a Ásia, onde seria desmanchado. Com uma grande tempestade, ele ficou à deriva até encalhar em um banco de areia nas proximidades da Praia de Iracema. E é lá que ele se encontra desde então.
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As ruínas do Mara Hope no litoral de Fortaleza atraem a admiração de moradores há várias décadas.
Thiago Gadelha/SVM
Por ser um dos naufrágios visíveis no litoral de Fortaleza, o Mara Hope chama atenção de quem olha para o oceano. A embarcação inspira artistas, fotógrafos, compositores e até os praticantes de esportes e aventuras no mar.
Atualmente, é possível avistar na superfície apenas a proa do navio original. Por sofrer a ação do tempo e da maresia, o Mara Hope atualmente é instável e pode machucar quem queira se aproximar demais. Isso porque partes dele podem desabar a qualquer momento. Como no dia 5 de março, quando um pedaço dele ruiu e acabou formando uma ‘rampa’.
Embarcação Mara Hope encalhou na orla de Fortaleza há quase 40 anos.
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A trajetória até Fortaleza
1967: O navio petroleiro foi construído no estaleiro de Cádiz, na Espanha. Conforme dados da empresa Naviera Ibérica S.A., a embarcação tinha 245,3 metros de comprimento, com potência de 20,7 mil cavalos e velocidade de 17 nós (equivalente a 31,4 quilômetros por hora).
O primeiro nome foi Juan de Austria, em homenagem ao militar espanhol que era filho ilegítimo do rei Carlos I e que comandou a vitória sobre o Império Otomano no conflito naval conhecido como a Batalha de Lepanto, em 1571.
1979: A embarcação foi vendida para a empresa Bona Shipping Co. e mudou de nome para Asian Glory.
1983: Vendido para a empresa Commercial Maritime Ltd., o navio foi batizado como Mara Hope. No dia 7 de novembro, ele pegou fogo enquanto estava atracado na cidade norte-americana de Port Neches, no Texas. O incêndio durou quatro dias e deixou o Mara Hope bastante danificado.
1984: No mês de novembro, o navio começou a ser levado para a cidade de Kaohsiung, em Taiwan. Depois, ele seria vendido como sucata. O rebocamento até a ilha asiática seria feito pela embarcação Progress II, em rota que passava pelo Cabo Horn — o ponto mais ao sul da América do Sul.
1985: O Progress II provavelmente se envolveu em algum acidente, pois ainda estava no litoral brasileiro no início de março. Com problemas mecânicos, veio trazendo o Mara Hope para ancorar no estaleiro da Indústria Naval do Ceará (Inace).
Durante forte tempestade no dia 21 de março, o Mara Hope se desprendeu das amarras que o seguravam e ficou à deriva. Ele encalhou em um banco de areia perto da Praia de Iracema. Houve tentativas de remoção, mas sem sucesso.
1987: Já encalhado, o Mara Hope viveu um segundo incêndio. Desta vez, causado pela serragem das peças de metal enquanto várias pessoas retiravam peças da embarcação para vender.
1989: A empresa Metal Mecânica do Ceará, que comprou o navio após o encalhe para aproveitamento das peças, estimava que a operação de desmonte em alto mar levaria pelo menos cinco anos. A ideia de rebocar o navio até a Praia Mansa para realizar o desmonte foi desaprovada pela Capitania dos Portos, segundo reportagens da época feitas pela TV Verdes Mares.
Fragmentos da história
Pedaço do navio encalhado Mara Hope se desprende no litoral de Fortaleza.
O futuro do Mara Hope é continuar em processo de decomposição até ficar totalmente submerso. Atualmente, o casco dele está representado na Carta Náutica 710 da Costa Brasileira para garantir a segurança da navegação.
O mergulhador profissional Marcus Davis, que pesquisa os naufrágios da orla de Fortaleza, concorda com uma estimativa dada ainda na década de 1980 pelo comandante da Capitania dos Portos do Ceará: a de que o navio deve ficar à vista até por volta de 2037.
Marcus afirma que a parte ainda visível hoje representa cerca de um terço da embarcação original. As outras partes foram ruindo ao longo dos anos. Várias peças foram retiradas por pessoas autorizadas pela empresa proprietária. Houve também episódios de saques.
Como enfatiza Marcus, a presença do Mara Hope e de outras embarcações que continuam naufragadas, como os navios Beny (1969) e Amazonas (1981), evidenciam a história marítima de Fortaleza e podem basear estudos arqueológicos. Ou poderiam, por exemplo, evitar que novas estruturas ou intervenções se sobreponham ao patrimônio que existe no mar.
A história de Marcus com o Mara Hope começou há cerca de 20 anos. Como gostava de nadar perto da Ponte Metálica, outro ponto do litoral de Fortaleza, desde a infância, ele e um amigo resolveram fazer o desafio de nadar até o local do naufrágio nos anos 2000. A distância da ponte até lá é de aproximadamente 700 metros.
“A gente passou a frequentar, ia pra lá nadar ao redor dele, ver as coisas que tinha lá. Ia mais pelo lazer e pela diversão mesmo. A gente viu que não era coisa do outro mundo [chegar até lá] e levou alguns amigos, organizava passeios até ele. Era uma coisa informal mesmo, uma exploração urbana”, relembra o mergulhador.
Nessa época, o desgaste do navio não era tão acentuado quanto é agora. Por isso, algumas pessoas que iam até o Mara Hope tinham coragem de subir nos restos do navio para dar saltos no mar. Ou explorar o interior do navio.
Havia passeios organizados para ir até lá de barco ou turmas que se juntavam para ir nadando. Estas explorações pararam depois de alguns desabamentos na estrutura a partir de 2011. Segundo o mergulhador, marcações com tinta que existem por lá até hoje foram feitas por ele em 2013, indicando buracos que poderiam ceder caso alguém pisasse.
Lugar de paz e superação
O personal trainer Harrison Costa foi conhecer de perto o Mara Hope pela primeira vez há cerca de dez anos
Arquivo Pessoal
Entusiasta da natação no mar, o personal trainer Harrison Costa garante que não passa mais de dez dias sem ir até o Mara Hope. Para ele, aquele é um lugar de relaxamento mental, de esquecer os problemas e se conectar com o oceano.
“Eu sinto a necessidade de ir. Eu só não vou mais vezes porque não gosto de ir sozinho. E toda vez que eu vou lá, eu tenho um sentimento diferente. Eu preciso daquilo, é como se o Mara Hope fosse o meu psicólogo”, brinca Harrison.
A primeira ida ao navio foi há cerca de dez anos. No passeio em que participou, ele lembra de ter subido até a carcaça com ajuda de uma corda e demorado cerca de 40 minutos para ter coragem de saltar para o mar.
O mergulho foi um desafio que marcou a vida de Harrison, mas que ele nunca quis repetir por entender que já não é seguro subir nas ruínas da embarcação. Desde então, ele prefere contemplar o navio respeitando a distância.
Atualmente, as condições do Mara Hope estão bem piores do que quando Harrison fez a primeira expedição.
“A tendência é cair aquela parte da frente. O ‘bico’ do navio está todo comido. E a gente, que vai muito lá, observa que ele tá corroendo direto. É tipo corroendo e abrindo buracos. É por isso que aquela parte de trás caiu agora. Nesse processo, não vai demorar para cair a parte da frente e ficar bem afundada. Não tem como ser de outro jeito, é a ação do tempo”, conta.
À frente da assessoria de natação Swim Movement, Harrison estimula as pessoas a construir uma relação de sintonia com o mar. E organiza percursos com os alunos até os navios naufragados na orla para incentivar novos desafios. Um dos primeiros que liderou foi até o navio Beny, que fica visível com a maré baixa na Praia do Mucuripe.
Pelo desgaste na estrutura, participantes das expedições ao Mara Hope devem seguir orientações de segurança
Arquivo Pessoal
Mas pelo status e pela história com a cidade, o Mara Hope é o objetivo mais buscado pelos alunos. Ele acaba virando um degrau na evolução dos nadadores, pois só participam dos passeios aqueles que são autorizados pelo personal trainer e considerados aptos para o percurso.
“A felicidade que eu vejo nas pessoas que vão lá no Mara Hope é muito gratificante. Parece uma coisa tão impossível, que quando a pessoa vai, ela fica maravilhada por muito tempo”, partilha.
Para ir até o Mara Hope, as turmas saem da praia do Poço da Draga no comecinho da manhã. São cerca de 800 metros de distância até o navio, e os participantes precisam ter preparo para nadar na ida e na volta.
“São vários aspectos. A pessoa pode nadar muito na piscina, mas se nunca nadou no mar, ela vai poder sentir medo quando estiver em mar aberto. Então a gente tem muito cuidado, eu preciso conhecer como essa pessoa se comporta no mar. Tem que ter a parte técnica do nado e um bom condicionamento físico. E eu tenho que conhecer a pessoa, não adianta chegar do nada sem eu saber como é a preparação de cada um”, explica o personal.
Além da capacidade de cada um, Harrison explica que outros itens de segurança são necessários: todos precisam usar flutuadores para natação no mar e toucas com cores vibrantes para que sejam vistos facilmente. Todos são acompanhados por dois nadadores mais experientes na retaguarda e outros dois guardando as laterais.
Por causa das condições de desgaste, os participantes precisam respeitar uma distância mínima de aproximadamente 20 metros do Mara Hope. Subir ou ficar embaixo da estrutura não é uma opção.
“Ela é uma embarcação que está ali aparentemente fixa na areia. Mas ela pode envergar para um lado, para o outro… E se envergar, vai fazer uma onda de mar, pode ter um redemoinho e pegar alguém de surpresa”, ilustra o personal.
Como antigo controlador de voos, Harrison também costuma verificar as condições meteorológicas para se guiar com precisão nas incursões mar adentro. São informações que também garantem a segurança. Um exemplo é que os passeios até o Mara Hope são cancelados quando há chances de chuva.
Mesmo depois de tantos anos, as ruínas do navio ainda conseguem surpreender. Para Harrison, uma dessas novidades foi um dia em que a água do mar estava muito clara, permitindo contemplar facilmente as partes já submersas do navio logo atrás da proa. “Foi muito surpreendente, e é por isso que eu digo que cada ida traz uma sensação diferente”, conclui.
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