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Por ano, espécies invasoras causam prejuízos de até R$ 15 bilhões no Brasil


Introduções afetam esferas como saúde humana e animal, equilíbrio ambiental e economia. Aedes aegypti está entre os exemplos de invasões com os maiores custos. No Brasil, mexilhão-dourado é uma das espécies estrangeiras invasoras de águas continentais
Juan Matías / iNaturalist
Presentes em todos os biomas brasileiros, são consideradas espécies estrangeiras invasoras (EEI) as plantas, animais e microorganismos introduzidos pelos seres humanos, de forma intencional ou não.
O Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), estima que os prejuízos decorrentes das invasões variam de US$ 77 a 105 bilhões (cerca de R$ 385 e 524 bilhões), entre os anos de 1984 e 2019.
Por ano, os custos somam entre R$ 11 e 15 bilhões para a economia brasileira devido aos impactos negativos causados por apenas 16 espécies exóticas invasoras, principalmente pragas agrícolas e silviculturais e vetores de doenças, como o mosquito Aedes aegypti.
Considerada uma praga agrícola, mosca-branca-do-tabaco (Bemisia tabaci) é invasora de ecossistemas antrópicos
faluke / iNaturalist
Segundo o relatório, lançado neste mês por por 73 autores e 12 colaboradores, foram registradas 476 espécies exóticas invasoras no território brasileiro, sendo 268 animais e 208 plantas e algas. A maioria delas é nativa da África, Eurora e sudeste asiático.
“A gente tem pouca coisa hoje publicada em português sobre o assunto e, pela primeira vez, estamos trazendo um panorama completo e baseado em evidência científica sobre espécies exóticas invasoras no Brasil e as ameaças que elas representam para a nossa biodiversidade”, comenta a pesquisadora Michele de Sá Dechoum, uma das coordenadoras do relatório.
Espécies invasoras
Os registros de EEIs são mais numerosos em ambientes degradados ou de alta circulação humana. Porém, nenhum ambiente é imune a invasões biológicas, mesmo que bem conservado. Uma prova disso é o fato de 30% das unidades de conservação possuem espécies invasoras.
Mamona ou rícino (Ricinus communis) é invasora de ecossistemas terrestres como a restinga
Diego Kondratzky / iNaturalist
Veja alguns exemplos de EEIs por ambiente:
Águas continentais: mexilhão-dourado, tucunaré, truta-arco-íris, piranha, pacu, lírio-do-brejo e outros
Ecossistemas marinhos: peixe-leão, coral-sol, siri-bidu, alga verde, copépode e outros
Ecossistemas terrestres: sagui, cão e gato domésticos, cavalo, tambaqui, rato-comum, abelha-africana, mamona, pinheiro-americano, dentre outros
Ecossistemas antrópicos: carpa-comum, pirarucu, mosquito-da-dengue, tilápia, mosca-branca, eucalipto, mocó, caracol-gigante-africano e outros
Impactos diversos
Os impactos das espécies estrangeiras invasoras se estendem por diversas esferas, da saúde humana e animal (como o caso do Aedes aegypti e outras epidemias) à ambiental, com a competição entre espécies nativas e estrangeiras e, também, à esfera econômica.
Sendo invasora, truta-arco-íris compete com outras espécies em águas continentais
Dirceu Martins
Impactos ambientais: alteração da estrutura das comunidades, descaracterização de habitats, redução e extinção da biodiversidade nativa, alterações abióticas (propriedades do solo e da água, regimes de fogo, ciclos biogeoquímicos)
Impactos na qualidade de vida humana: perda de serviços ecossistêmicos, surgimento de epidemias e pandemias, aumento nas internações hospitalares, prejuízos econômicos (agricultura, pecuária, aquicultura, pesca, turismo), modificação de paisagens naturais
De acordo com o estudo, mantendo o cenário socioeconômico atual, há uma tendência de aumento de 20 a 30% de invasões biológicas até o final deste século, em função da expansão do comércio e do transporte de mercadorias e trânsito de pessoas.
Coral-sol é um exemplo de espécie invasora de ecossistemas marinhos
hokoonwong / iNaturalist
Embora haja 33 registros de impactos positivos por introdução de EEIs, por outro lado, somente 239 espécies produziram mais de 1 mil registros de impactos negativos.
Além do mosquito-da-dengue, outro exemplo é o mexilhão-dourado, que impacta empreendimentos hidrelétricos, estações de tratamento de água e tanques-rede de fazendas aquícolas, acarretando sérios prejuízos econômicos.
Processo de invasão
Introdução para controle biológico, água de lastro de navios, importação de plantas infestadas, escapes de peixes, obras de grande impacto ambiental e outras ações humanas são vias por trás da presença de EEIs no Brasil.
Gralha-seminarista é uma ave invasora em áreas costeiras com atividade humana
David Torres / iNaturalist
“O crescimento da população humana é um vetor subjacente à maioria dos determinantes diretos e indiretos de introduções de espécies exóticas invasoras”, escrevem os autores do estudo.
Além disso, há evidências de efeitos múltiplos, aditivos ou de interações entre os vetores que podem facilitar os processos de invasões biológicas.
Veja abaixo as etapas de um processo de invasão:
Transporte: feito por seres humanos, ele permite a transposição da área de origem da espécie, possibilitando sua chegada em locais fora da área de distribuição natural
Introdução: pode ser intencional, para uso em sistemas produtivos e com fins recreativos e ornamentais, ou de forma não intencional por vias e vetores de comércio e viagens
Estabelecimento: depende do êxito na sua sobrevivência e na sua reprodução, possibilitando a manutenção de uma população autossustentável
Expansão: após o estabelecimento da população, novas populações podem se estabelecer a partir da dispersão de indivíduos, ampliando a área de ocorrência da espécie
Manejo de EEIs
Para gestão e o manejo das espécies exóticas invasoras, os cientistas explicam que é fundamental que o tema seja reconhecido como política pública transversal, ao contrário do atual manejo feito por meio de “iniciativas pulverizadas”.
Nesse sentido, se fazem necessárias medidas de prevenção, detecção e controle. No entanto, é importante priorizar as duas primeiras, uma vez que os custos de erradicação tendem a aumentar à medida que o processo de invasão pela espécie avança.
“Nessas regiões, onde tem menos espécies invasoras são justamente as que a gente deve trabalhar com medidas de prevenção contra a chegada de EEIs. Então, é super importante que a gente conheça, não só onde tem mais, mas também onde tem menos espécies”, afirma Michele.
Búfalo foi introduzido no Cerrado para consumo e venda da carne
Raquel Morais/G1
“Essas grandes forças que impactam a biodiversidade (desmatamento, mudanças climáticas, poluição de recursos e invasões biológicas), de maneira geral, há um efeito sinérgico entre essas coisas. Então, as consequências acabam sendo também intensificadas pela combinação desses fatores”, comenta.
Outro ponto abordado pela coordenadora do Laboratório de Ecologia de Invasões Biológicas, Manejo e Conservação da UFSC é a presença de políticas públicas contraditórias.
“Às vezes, o mesmo estado publica uma lista com uma espécie exótica invasora, dizendo que ela precisa ser controlada no estado e, ao mesmo tempo, tem política de incentivo pra produção daquela espécie”, exemplifica.
“É cada pessoa que está pagando a conta disso. Então, a gente ter um benefício privado em detrimento de um ônus que a sociedade inteira paga, isso não me parece ser justo. É preciso reconhecer o problema, abrir um diálogo e tentar chegar a uma solução conjunta, que seja boa para todo mundo”, conclui a coordenadora.
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