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Mô quirido! Conheça a origem e o vocabulário manezinho para deixar de ser ‘boca móli’

Com maneira única de se expressar e comunicar, o verdadeiro nativo, o legítimo manezinho da Ilha, carrega consigo o ‘manezês’, o dialeto característico dos habitantes locais de Florianópolis. Nestes 351 anos de aniversário do município, que tem na Ilha de Santa Catarina mais de 97% de seu território, a homenagem e a comemoração são destinadas também aos nativos, parte intrínseca da cultura ilhéu, refletindo a identidade singular daqueles que chamam Florianópolis de lar.

Vocabulário do manezinho se tornou marca de Florianópolis – Foto: RICARDO MANHÃES/ND

Ixtepô, mô quiridu, tás tolo, tansu, arrombassi, dázumbanho, côza mash quirida. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos do vocabulário manezês, que está repleto de palavras únicas.

O modo peculiar de falar foi trazido e inspirado pelos colonizadores portugueses, em especial os açorianos, com influências africanas, porém adquiriu uma singularidade que apenas os nativos de Florianópolis foram capazes de enriquecer.

Há tantas expressões que até um dicionário manezinho foi desenvolvido para compilar o vocabulário usado pelos nativos da Ilha. Esta obra, contendo mais de 11.500 palavras, apresenta uma escrita peculiar, como a expressão “Tásh mintendendu”, e oferece explicações sobre termos como “saragaço”, além de fornecer informações sobre pessoas e lugares importantes na história da cidade.

Foi a partir desse vasto dialeto que Douglas Ferreira, nascido e criado na ilha, percebeu a importância de dar representatividade ao cotidiano do manezinho autêntico. Com suas próprias experiências e as histórias cativantes de familiares e amigos locais, ele notou que muitos ‘tansus’ não estavam completamente familiarizados com o manezês e criou o “Dezarranjo Ilhéu”.

“O Dezarranjo Ilhéu nasceu em 2014 como uma brincadeira na internet e, no mesmo ano, decidimos tornar um produto físico além do digital, começando com produção de canecas e quadros e expondo em feiras de artesanato na cidade”, relembra.

Douglas Ferreira, nascido e criado na ilha, percebeu a importância de dar representatividade ao cotidiano do manezinho autêntico – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

“Os vídeos começaram a ser produzidos em 2016 e eu acabei criando alguns áudios para colocar no YouTube e o pessoal começou a dar dicas de animações, que faço até hoje”, conta ele.

Atualmente, o canal já tem 82,5 mil inscritos e mais de 9 milhões de visualizações, permitindo que muitos manezinhos mundo afora ou mesmo quem visitou a cidade em algum momento se identifiquem com os vídeos e com as histórias contadas.

“Eu me inspirei nas histórias de antigamente e nas experiências vividas no meu convívio com os meus avós e amigos. Nasci em 1985, então minha infância, dos anos 1990 até 2000, foi uma época que me proporcionou grande material de inspiração para os vídeos do canal. A partir desse universo do manezinho, busquei uma abordagem mais leve, usando o humor, na tentativa de aliviar um pouco a tensão de quem assiste”, relata.

Afinal, de onde surgiu o termo manezinho?

O termo “manezinho”, ao contrário do que os desaviados possam pensar, é uma gíria usada pelos próprios habitantes de Florianópolis para se referirem a si mesmos, então não é nada ofensivo como a palavra mané usada em outros Estados que significa alguém desprovido de inteligência.

A teoria mais aceita sobre a origem da expressão é a que remete à época da construção da ponte Hercílio Luz, um dos cartões-postais da cidade. A obra interferiu na rotina da população e os trabalhadores vindos de outras partes do Brasil e de outros países eram chamados de “gringos” pelos locais.

E a população de Florianópolis, para se distinguir dos trabalhadores “gringos”, passou a se chamar de “mané”, em referência a Manuel, nome muito comum entre os nativos. Com o tempo, se transformou numa identidade local e orgulho da cidade.

O jeito único de falar se tornou uma forma de difusão da cultura

Para além do jeito manezês de falar, Douglas acredita que o sotaque vai muito além de uma forma de expressão, sendo fundamental para a identidade cultural da Ilha.

“Além dos outros elementos da nossa cultura, o boi de mamão, a pesca, a benzedura, a renda do bilro, o artesanato, terno de reis, as bruxas, que fazem parte da nossa tradição e do nosso folclore, o sotaque faz parte disso. É o que ajuda a caracterizar a figura do manezinho”, diz Ferreira.

O trabalho inicial de vender os produtos do “Dezarranjo Ilhéu” em feiras de artesanato evoluiu para um sucesso notável, resultando na abertura de três lojas próprias, incluindo uma localizada no aeroporto de Florianópolis.

“A gente percebe que muitos turistas falam ‘pô, custei para entender um senhor falando quando pedi informação’ e eles acabam estranhando o bucica, por exemplo, que são expressões que utilizamos muito, causando até uma certa estranheza. E é muito bom poder explicar a nossa cultura, o nosso jeito para eles”, conta.

Douglas ainda complementa dizendo que ser manezinho é muito mais do que ter sotaque.

“Ser manezinho é ajudar a resgatar, manter e divulgar a cultura da Ilha. Ainda mais nos tempos de hoje, com tantas pessoas de fora se mudando para cá, e o nativo aos poucos vai se tornando raridade. E se a gente que é daqui não lutar pra manter a nossa cultura acesa, não são os de fora que vão”, declara.

E já dizia o Dazaranha: “Da barra da lagoa eu sou o manezinho; Sou gente boa, sou filho do seu Agostinho; Mas sei rimar, sei falar, sei dizer; Que sem ser gente boa nada pode acontecer”.

Vocabulário manezinho

  • Arrombassi: Tem vários significados. Pode ser usada para expressar situações de espanto, um elogio de um feito grandioso, ou reprovação.
  • Amarrar a cara: zangar-se.
  • Boca Móli: Termo usado para dizer para quem não é esperto, uma pessoa atrapalhada
  • Bucica: Apelido para cadela, em sua maioria vira-latas ou a cadela caramelo
  • Cachorro papa-ovo: Vira-latas, que não tem raça.
  • Camaçada de pau: Surra. “Vou te dar uma camaçada de pau.”
  • Côza mash quirida: Expressão para dizer que algo ou alguém é legal, bonito.
  • Dázumbanho: Uma expressão para elogiar um feito de uma pessoa que foi muito bem-sucedido
  • Dijaôx ou Dijahoje: Utilizado para dizer que algo ocorreu há pouco tempo atrás. Seria o “ainda há pouco” ou o “agora há pouco”.
  • Estimado ou Ixtimadu: Tratamento carinhoso para alguém querido.
  • Ézum Mônxtru: É dito quando uma pessoa fez um feito além do normal, uma pessoa altamente capacitada naquilo que faz.
  • Ixtepô: Uma pessoa chata, mala, que incomoda e que é do contra. Também dito em tom de brincadeira.
  • Inticar: Utilizado para dizer para alguém não implicar consigo mesmo ou com outra pessoa
  • Ixtrová: O mesmo que estorvar ou atrapalhar, perturbar.
  • Madrião/Mandriona: Uma pessoa preguiçosa, que não gosta de trabalhar.
  • Manezinho: Os nativos da Ilha
  • Matassi a pau: Expressão para dizer que uma pessoa acertou em cheio
  • Medêsh: Meu Deus!
  • Mofas com a pomba na balaia: Expressão usada para dizer que a pessoa não vai alcançar o objetivo, que vai se cansar de esperar
  • Mô Quiridu: Termo carinhoso, que pode ser também debochado, para falar meu querido.
  • Não tem? ou Nôtem: Não tem. Vício de linguagem correspondente a “não é” ou “né”.
  • Ói-ói-ó ou Ó-lhó-lhó: Usado quando alguma coisa ou alguém causa  admiração, surpresa, indignação.
  • Raça/Rassa: Expressão para se referir a uma turma, galera.
  • Talicôza: Tal e coisa
  • Tás tolo?: Expressão que indica reprovação por alguma besteira cometida por outra pessoa.
  • Tansu/Tansa: Expressão para falar de uma pessoa parada, sem iniciativa, ingênua.
  • Tiarranca: Expressão para falar para uma pessoa desaparecer, sumir da frente
  • Tu diz ou Tu dix?: Expressão de espanto quanto a veracidade de um fato contado por alguém. “Estás falando sério?”
  • Segue reto toda vida: Seguir em frente e em linha reta, sem se desviar da rota.
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