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Carta “Controle e cobrança: ferramentas para o avanço da Organização Revolucionária”

Entre nós, muitas das vezes nos pegamos ouvindo ou falando, que tal militante é chato, insistente, que todos os dias manda mensagem perguntando a mesma coisa, cobrando o acerto do Jornal A Verdade, a cota de autossustentação, a passagem em sala que deveria acontecer, e por aí vai. Nisso, vem a pergunta, qual o papel da cobrança? É uma forma de controle ou uma chatice?

Rafael | União da Juventude Rebelião – UJR (MG)


Para dar mais precisão a essa discussão sobre Controle e Cobrança, recorremos à história do movimento comunista e do marxismo. Em 1978, a comunista espanhola, dirigente do Partido Comunista da Espanha (Marxista Leninistas), Elena Ódena, escreveu o texto “Direção Coletiva, Controle e Crítica: três armas para combater a estagnação”¹, em um dos parágrafos ela apresenta:

“Somente por meio da direção e do controle coletivo de baixo para cima e de cima para baixo é possível conhecer os companheiros e ter uma ideia concreta de suas características e de como eles agem em diferentes tarefas e situações. Não basta ter uma linha correta; é essencial pô-la em prática para destacar quadros idôneos, responsáveis e capazes para as diferentes tarefas e dispostos a defender essa linha e cumprir as tarefas que lhes são confiadas.”

Neste trecho, já se inicia uma ideia importante, a de que não basta ter uma linha correta, a melhor alternativa para o problema, se esta ideia não se materializa em ações. Ou seja, após debater os problemas coletivamente, tirar propostas para sua solução, é necessário agir para que se efetive tais ideias. Do contrário, serão apenas ideias num papel, sem nenhum valor. Seguindo nesta linha, Stalin escreve em 1934:

“Há quem pense que é suficiente estabelecer uma linha do Partido justa, proclamá-la altivamente, expô-la sob a forma de teses e resoluções gerais e aprová-la por unanimidade, para que a vitória venha por si própria; por assim dizer espontaneamente. Isto é falso, evidentemente.[…] Na realidade estes êxitos e vitórias não vieram espontaneamente, mas sim como resultado de uma luta acirrada pela aplicação da linha do Partido. A vitória nunca vem por si própria; normalmente tem de ser conquistada.”²

Para que se alcance os êxitos, é necessária uma luta, e esta luta se reveste de várias formas, uma delas é pela cobrança, mais precisamente, o controle. Controlar a atividade, o cumprimento das propostas, a divisão das tarefas, é uma necessidade fundamental. Vivemos inseridos em uma disputa ideológica, e ela também se expressa em nossa consciência, seja quando atrasamos, subestimamos as resoluções, nem tentamos colocá-las em prática ou desistimos na primeira dificuldade. 

Controlar e cobrar é uma tarefa imprescindível, sem ela caminhamos para o esquecimento das questões, fazemos discussões vazias, que ficam apenas no campo das ideias e do debate pelo debate, sem nenhuma consequência. Não podemos trabalhar com o acaso, com o espontâneo, de esperar idealmente que as coisas irão acontecer, pois caso fosse assim tão simples, tornar uma resolução em realidade, já estaríamos vivendo uma sociedade sem classes e sem exploração. Pelo contrário, controlar a atividade é uma luta, uma tarefa que exige atenção, disciplina, convencimento, humildade e camaradagem.

Vejamos um ótimo exemplo sobre o papel da cobrança: a Campanha de Legalização da Unidade Popular. Para alcançar as 1 milhão e 200 mil assinaturas, além de grande coesão, convencimento, decisão política e esforço coletivo, foi necessário um intenso trabalho de controle: todo dia era preciso saber quantas fichas coletadas, quantas pessoas participaram, quantas fichas foram encontradas no sistema, quantas foram validadas, quais pontos recolhiam mais assinaturas, quais cidades e estados iam bem, quantas horas de coleta estavam sendo realizadas, quantas fichas o cartório validou, e assim seguia com diversas outras questões. Sem um controle metódico, esse desafio não seria vencido.

No entanto, ainda persiste em nossas fileiras, a resistência ao controle. Existem várias razões para isso, a arrogância, a autossuficiência, o individualismo ou mesmo não querer se dispor para a luta política, não querer que vejam os reais motivos dos problemas. Devemos combater essas posturas, elas representam um atraso ao desenvolvimento do Partido e da Juventude. Entre uma e outra reunião o/a responsável de cada tarefa deve acompanhar se as propostas estão sendo executadas, os/as responsáveis pelo jornal devem fazer contato diário e controlar sobre a distribuição da cota individual; a marcação das brigadas; as participações na brigada; o número de jornal por pessoa; os acertos ao final da brigada. A cada resolução tomada, é necessário avaliar como anda a efetivação, quais problemas estão sendo encontrados, onde está avançando e onde não houve nenhuma tentativa.

É importante ressaltar que o controle e a cobrança devem ter forma e conteúdo. Forma no sentido de que ele deve ser feito de maneira camarada, humilde, e não de modo patronal, ríspida. Controlar é também colocar-se à disposição para ajudar, tirar dúvidas, propor soluções, seja individualmente ou coletivamente. Também deve estar atento ao conteúdo da cobrança, dos elementos que foram discutidos, da conexão com a política da organização. Ao mesmo tempo, o controle, tal como a crítica, nem sempre se apresentará “perfeito”, pode ter e apresentar problemas. Entretanto, a postura de quando isso acontece não pode ser a de se por contrário ao controle, e sim, prestar contas do que é cobrado e também apresentar as críticas para se aperfeiçoar a maneira como aquela cobrança está sendo feita. É dialético.

Sendo assim, devemos incentivar cada vez mais, no nosso cotidiano, o hábito de cobrar e ser cobrado, e não ter medo disto, apreciar o controle, tanto aquele que acontece dos organismos superiores, quanto dos inferiores e também, com destaque, ao controle e cobrança da massa. Caminharemos mais rápido para a Revolução se compreendermos que essa vigilância constante, o apreço pelo cumprimento das resoluções e a luta pela vitória, manifestada pelo controle das atividades é parte deste caminho.

Chatice deve ser o termo utilizado para os entraves que a sociedade capitalista cria ao povo, a quantidade de coisas sem sentido ou perdas de tempo que a classe trabalhadora é submetida diariamente. Na verdade, chatice é muito pouco para descrever, é insustentável a vida sob este modo de produção que mata sonhos e pessoas, que submete a fome, a violência, tudo para que uma minoria se enriqueça com a exploração do trabalho social. Portanto, tudo que desenvolve e acelera nossa luta, tudo que nos dá mais condição de organizar nosso povo para tomar o poder da burguesia deve ser utilizado. Entre estas coisas, o controle será uma destas peças. 


¹ https://www.marxists.org/portugues/odena/1978/07/28.htm

² Stálin, “Problemas de Direção em Matéria de Organização”, 1934.

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