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Primeira travesti doutora em contabilidade do país sonha em ser professora universitária: ‘Persisto e não desisto’


Nesta quinta-feira (25) é comemorado o Dia do Profissional de Contabilidade, área ainda dominada por profissionais do sexo masculino. Juh Círico se formou na Universidade Federal de Uberlândia e quer ser referência para outras pessoas trans e travestis. Juh Círico e a orientadora Marli Auxiliadora
Arquivo pessoal / Divulgação
“Os preconceitos e violações são praticadas, principalmente, por homens – professores de contabilidade e empresários – que discriminam pessoas trans e travestis, expulsando elas dos ambientes”.
A declaração em tom de desabafo é de Juh Círico, a primeira travesti doutora em contabilidade no país. O título acadêmico, ostentado com orgulho, é endossado na sua tese “Vozes da resistência: vivências de pessoas transgêneras e travestis na contabilidade brasileira”.
A recém-doutora pela Universidade Federal de Uberlândia espera que a conquista abra portas para que mais pessoas trans e travestis ocupem as universidades, afinal hoje, menos de 0,2% da população trans tem acesso à faculdades, segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
Para a orientadora de Juh, a professora Marli Auxiliadora da Silva, o exemplo dela pode ser o começo para a quebra de barreiras.
“O fato de ela ter concluído o doutorado e ser a primeira travesti doutora em Ciências Contábeis mostra que é possível que outras identidades de gênero, pessoas invisibilizadas e excluídas também possam”.
Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, no mercado de contadores ainda prevalece o sexo masculino com 56% dos profissionais. A entidade ainda não regulamentou a autodeclaração de identidade de gênero e, por isso, não consegue ter um balanço sobre o número de pessoas trans na profissão.
A agora doutora em Ciências Contábeis Juh Círico
Arquivo pessoal / Divulgação
“Os preconceitos e violações são praticadas, principalmente, por homens – professores de contabilidade e empresários – que discriminam pessoas trans e travestis, expulsando elas dos ambientes”.
Sonho de viver a contabilidade começou aos 16 anos
Os planos de Juh Círico para atuar na área contábil começou bem cedo, aos 16 anos, quando começou a trabalhar em um escritório. “Foi naquele ambiente que eu me encontrei na contabilidade”, lembrou.
Depois de alguns anos, ela foi aprovada no vestibular e iniciou o sonho de cursar Ciências Contábeis, a jornada, porém, não foi fácil. Moradora de Laranjeiras do Sul (PR), ela percorria 113 km de ônibus diariamente para ir à faculdade, em Guarapuava. Por ser de uma família humilde e não conseguir se manter fora da casa dos pais, viajar era a única opção.
E nem de longe esse foi o único obstáculo no caminho em direção ao sonho. Juh sofreu preconceito por causa do sotaque do interior, além de ser hostilizada por outros estudantes da universidade, pois à época se identificava socialmente como um homem gay afeminado. A humilhação, muitas vezes, ia além das palavras.
“Sofri violências físicas dentro da universidade, sendo que certa vez, um professor puxou o meu cabelo, na época comprido, dizendo ‘corte essa porcaria, porque contador ‘de verdade’ não usa cabelo comprido’, além dos olhares de julgamento e da rejeição de trabalhos que deveriam ser feitos em grupo”, contou.
Em 2021 ela realizou a transição e passou a se identificar como travesti. Ou como prefere dizer: “trans-travesti”.
“Quando passei a me apresentar para a sociedade como Juh, uma mulher trans-travesti, as pessoas se afastaram de mim, como se tivessem nojo”.
Juh resistiu e terminou o curso, incluindo uma mobilidade internacional em gestão pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em Portugal. Ela também é mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação.
Doutora Juh Círico
Juh Círico na defesa da tese de doutorado
Arquivo pessoal / Divulgação
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Juh definiu a pesquisa do doutorado: “Vozes da resistência: vivências de pessoas transgêneras e travestis na contabilidade brasileira” com base nos desafios pessoais vividos até hoje. E, à medida que a pesquisa se aprofundava, ela descobria que o cenário era ainda pior do que o imaginado.
Para a doutora, a ausência de pessoas trans em escritórios e faculdades de contabilidade não se deve apenas à falta de representatividade, mas sim, à violência massiva que atua como barreira para a inclusão delas nesses ambientes.
Ainda resistindo, Juh tem planos e já trabalha em um projeto para aplicar no pós-doutorado na Universidade Federal de São Paulo (USP). Enquanto a seleção não ocorrer, ela compartilha ideias com os mais de 180 mil seguidores no TikTok.
“Aos meus colegas, não tenham medo de aceitar o ‘novo’, e se o aceitarem, estejam dispostos a se comprometer. Sei que ainda, infelizmente, enfrentarei desafios para ingresso na docência universitária, por ser ainda a primeira trans nesse espaço em Ciências Contábeis que não visualiza uma Trans-Travesti Doutora em Contabilidade atuando como professora. Mas eu insisto, persisto e não vou desistir”, finalizou Juh.
*Estagiário sob supervisão de Guilherme Gonçalves e Fabiano Rodrigues.
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