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Acidente de Chernobyl: Casal que abrigou crianças ucranianas para tratamento no Paraná lembra experiência: ‘Mudou a nossa vida’


Maior acidente nuclear da história completa 38 anos nesta sexta (26). Nos anos 1990, crianças vítimas da radiação liberada no desastre vieram para o Brasil receber atendimento médico. Paranaenses abrigaram crianças com câncer causado por radiação de Chernobyl
O desastre de Chernobyl, considerado o maior acidente nuclear da história, completa 38 anos nesta sexta-feira (26). Em 26 de abril de 1986, um reator explodiu durante um teste de segurança na usina nuclear e liberou 200 toneladas de material radioativo na atmosfera.
Na época, a região de Chernobyl era parte da então União Soviética e hoje é território da Ucrânia. O Paraná foi um dos estados brasileiros a receber ucranianos acometidos por doenças – principalmente câncer – provocadas pela exposição à radiação.
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No final dos anos 1990, uma parceria entre os governos brasileiro e ucraniano trouxe algumas crianças ao Brasil. Elas eram conhecidas como “Filhos de Chernobyl”.
A radiação adoeceu até mesmo pessoas que nasceram depois do desastre, registrado 41 anos após a bomba atômica, cujo pai é considerado o físico J. Robert Oppenheimer, destruir as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
O casal de paranaenses António Komarcheuski Sobrinho e Rosângela Aparecida Scussiatt acolheu duas crianças ucranianas. Dmytryi e Maxin passaram três meses no país para tratamento de leucemia.
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Os ucranianos Maxin (à esquerda) e Dmytryi
Acervo pessoal
Atualmente o casal de anfitriões mora em Prudentópolis, nos Campos Gerais do Paraná, e lembram dos desafios de receber as crianças. O tratamento ficou concentrado em Curitiba, onde António e Rosângela moravam na época.
“Vieram três levas de crianças, cada uma com cerca de 20 meninas e meninos. A primeira era só de meninas, que conseguiram lares temporários mais rapidamente, mas na segunda, que foi só de meninos, foi um pouco mais difícil. Eu era vice-presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira e abriguei dois meninos”, lembra António.
Na época, o casal já tinha três filhos, de 17, 16 e 12 anos – o mais velho já não morava mais em casa.
A família aumentou com a chegada de Dmytryi, de seis anos, e Maxin, de 12 anos. Os dois eram de cidades diferentes da Ucrânia: o primeiro de Jitomir, onde vive até hoje, e o segundo da capital Kiev.
“Foi bem complicado, porque eu não falo ucraniano. […] A maior dificuldade foi a alimentação, porque era totalmente diferente. Eles também faziam quimioterapia por conta da leucemia e isso deixava eles muito enjoados”, lembra Rosângela.
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As marcas da radiação
Tanto Dmytryi quanto Maxin tinham leucemia.
António lembra que o câncer era “mais fraco” em Dmytryi, que, aos seis anos de idade, chegou ao Brasil já tendo passado por cirurgia cerebral para retirada de um tumor e sem a visão de um dos olhos.
No caso de Maxin, o câncer no sangue era tão agressivo que alterava a coloração da pele do menino de 12 anos, deixando um aspecto acinzentado.
“As pessoas não ficavam com medo de se aproximar, mas ficavam impressionadas”, lembra António.
Dmytryi (à esquerda) e Maxin em clube de Curitiba
Acervo pessoal
Diferenças culturais eram os maiores obstáculos
Para o casal, as maiores dificuldades eram relacionadas às diferenças culturais, que se somavam à frágil saúde das crianças.
Um dos impasses era o idioma. Como até poucos anos antes de virem para o Brasil a Ucrânia era território da União Soviética, os meninos falavam russo.
“Só o Dmytryi falava um pouco de ucraniano, e eu até entendo, mas só do que aprendi com os meus bisavós, que vieram da Ucrânia”, lembra António.
Dmytryi (à direita) e Maxin brincando em clube de Curitiba
Acervo pessoal
Rosângela nunca teve contato com os idiomas e usava a mímica para se comunicar. Mesmo assim, para ela o maior desafio era outro: a alimentação.
“Uma vez eu levei eles no zoológico, estava calor e eles queriam sorvete. Eu dei, mas afetou a garganta, e como a imunidade deles era baixa, eles foram parar no hospital! Ficaram internados por conta de uma coisa que eu não sabia”, recorda.
Crianças retornaram à Ucrânia
Os tratamentos médicos duraram cerca de três meses e, após esse período, as crianças ucranianas voltaram às famílias na Europa.
Maxin faleceu anos depois e Dmytryi mora até hoje em Jitomir. O jovem mantém contato com os “pais” brasileiros, mas apenas esporadicamente, porque agora o desafio é outro: a guerra entre a Ucrânia e a Rússia.
“Ele procura se comunicar em português, quer aprender o idioma. É um garoto muito bacana, mas essa guerra está complicada, ele tem amigos que estão no combate, por conta da idade, e é uma situação difícil”, conta António.
Para o casal, apesar de curta, a experiência mudou a vida deles.
“Mudou o modo de ver e perceber a vida com tudo, porque mesmo tendo esses problemas tão sérios que eles tinham, como a leucemia, eles eram crianças normais, felizes, brincavam, tinham curiosidades sobre muitas coisas, porque era tudo diferente aqui no Brasil. Eles sentiam muita falta dos pais, das coisas deles, então o que queriam mesmo era estar lá. Acho que aqui era bom, mas na casa deles era melhor ainda”, avalia Rosângela.
‘Filhos de Chernobyl’: Brasil recebeu crianças ucranianas afetadas pela radiação
Acervo pessoal
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