Erika Berenguer, pesquisadora das Universidades de Oxford e Lancaster e membro da Rede Amazônia Sustentável (RAS), explica que a demanda pelo filme partiu dos próprios brigadistas. Durante o segundo semestre de 2023, ela acompanhou os brigadistas e realizou medições de incêndios florestais, momento em que eles compartilharam com ela e com o pesquisador britânico Jos Barlow a falta de material específico sobre fogo na Amazônia, já que os vídeos disponíveis eram voltados para os biomas do Cerrado e Pantanal. “Produzir este filme é atender à demanda daqueles que combatem o fogo na Amazônia, levando em consideração as características únicas da floresta, diferentes de outros biomas”.Além da questão do treinamento, os equipamentos utilizados para combater o fogo na Amazônia são distintos. Enquanto no Cerrado e no Pantanal é comum o uso do abafador, na região amazônica é utilizado o soprador e esses detalhes fazem a diferença na hora do combate. “Um dos objetivos foi mostrar de forma precisa como é o combate ao fogo na Amazônia”, conclui Berenguer.A efetividade do trabalhoEm 2015, na região de Santarém, no Oeste do Pará, queimaram 10.000 quilômetros de floresta durante a seca extrema. Em 2023, foram 5.000 quilômetros, segundo levantamento próprio realizado pelos pesquisadores da RAS, analisando imagens de satélites VIIRS e SERVIR. “Atribuímos a redução a dois fatores: a incidência de chuvas, que em 2023 foi maior em comparação com 2015, mas também ao combate dos brigadistas, mostrando como o trabalho de prevenção e contenção do fogo pode evitar prejuízos maiores para a biodiversidade”.O cenário promovido pelo fogo é de destruição, e o documentário retrata alguns deles. Castanheiras centenárias e outras árvores e vegetação são consumidas pelas chamas, enquanto um tamanduá, com as patas queimadas, torna-se vítima do incêndio, e diversas pessoas de comunidades tradicionais relatam gripe, falta de ar e ausência de visibilidade devido à fumaça excessiva.
Joice Ferreira, cientista da Embrapa e fundadora da RAS, também lembra da emissão de CO2 para a atmosfera durante um incêndio. “Quando a floresta é queimada, ela perde 40% ou mais do carbono estocado na vegetação. A floresta muda sua estrutura, e a perda dessas espécies, sejam animais ou plantas, significa uma mudança e um impacto para as pessoas que dependem da floresta para garantir sua subsistência”.O documentário de curta-metragem “Heróis do fogo: a luta dos brigadistas na Amazônia” foi concebido por Jos Barlow, Erika Berenguer e Joice Ferreira; a realização é da RAS; financiamento da Lancaster University e UKRI, com apoio da Embrapa, University of Oxford, PELD, CNPq, ICMBio e BNP PARIBAS. A produção é da Banksia Films, com roteiro e direção de Carolina Fernandes e fotografia de Lúcio Silva e Marcos Antônio Rodrigues.