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Avenida com nome de Dorival Caymmi é a maior de Itapuã; bairro que encantou músico é marcado por resistência de quilombos


Cantor e compositor costumava veranear no bairro distante do centro de Salvador; processo de urbanização integrou Itapuã à cidade. Av. Dorival Caymmi
Google Maps
Com 3.642 metros de extensão, a avenida batizada como Dorival Caymmi é a maior do bairro de Itapuã, em Salvador. Está situada a apenas 3,9 km de distância da Av. Carybé, nomeada em homenagem ao pintor argentino radicado na Bahia e um dos melhores amigos do músico, e a 6 km do bairro de Stella Maris, em honraria à esposa do cancioneiro.
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Caymmi pôde conhecer o trecho em vida. Em 1985, o artista participou da inauguração da via que foi responsável por ampliar a ligação do bairro, no passado tido como local de veraneio, ao centro de Salvador.
Números solicitados pelo g1 à Secretaria Municipal da Fazenda (Sefaz) indicam o perfil da avenida: sua extensão é tomada por 2.049 estabelecimentos de diversos tipos. Tem agências bancárias, igrejas, bares, depósitos, salões, entre outros espaços comerciais.
Só em 2023, a prefeitura arrecadou R$ 511 mil em ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) com os CNPJs em funcionamento no endereço.
Nesta terça-feira (30), data em que Dorival Caymmi completaria 110 anos de vida, saiba mais sobre o bairro que encantou o músico baiano e tem seu nome batizado em avenida e praça.
Point de veraneio
Geograficamente, Itapuã está mais próxima a Lauro de Freitas, município da Região Metropolitana de Salvador, do que dos centros antigo e comercial da capital baiana.
Além disso, antes dos avanços de mobilidade e urbanização, era difícil chegar até o bairro. O professor Marielson Carvalho, doutor em Literatura, conta que Caymmi costumava ir até lá a pé, saindo da orla de Amaralina — uma distância de 17,5 km pelos parâmetros atuais —, ou de carroça para veranear por cerca de uma semana.
Monumento da Sereia de Itapuã, registro de 1985
Cedoc/TV Bahia
“Quando ele frequentava Itapuã, ele convivia com os pescadores, com as marisqueiras. Então, esse ambiente praieiro fez com que ele se inspirasse e gostasse tanto que começou a fazer canções”, analisa o professor.
Carvalho é autor de dois livros sobre o músico — “Acontece que eu sou baiano – identidade e memória cultural no cancioneiro de Dorival Caymmi” (2009) e “Caymmianos: personagens das canções de Dorival Caymmi” (2015), ambos publicados pela Editora da Universidade do Estado da Bahia (Eduneb).
Itapuã do passado
Caymmi cantou sobre a Itapuã do século XX, dos pescadores, das ganhadeiras e do povo negro batalhador de São Salvador. Esse retrato é fruto de uma terra onde habitou o Quilombo Buraco do Tatu, destruído em 1763, e onde indígenas, escravizados e seus descendentes viveram, como contextualiza a historiadora Naiara Natividade, também moradora do bairro.
“Do século XIX até as três primeiras décadas do século XX, o bairro era como uma vila de pescadores pouco movimentada, afastada do centro de Salvador e com características rurais, o que facilitou a migração dos escravizados recém-libertos, uma vez que o modo de vida que se dava em Itapuã era bem parecido ao conhecido por eles na África”, comenta em entrevista ao g1, citando seus estudos.
Dorival Caymmi na juventude
Cedoc/TV Bahia
Naiara acrescenta que o bairro começou a crescer na década de 1940 — Caymmi se mudou para o Rio de Janeiro em 1938 —, a partir da construção do aeroporto internacional e da base aérea do município.
O processo de modernização da capital também foi acelerado com a implantação de estruturas, como o Centro Administrativo da Bahia (CAB), e a construção de vias, como a Av. Luís Viana Filho (Paralela) e a própria Av. Dorival Caymmi.
Com o redesenho da cidade, parte de Itapuã foi desmembrada no que se conhece hoje como o bairro Stella Maris. O local foi batizado com o nome artístico de Adelaide Tostes, ex-cantora mineira que foi esposa e companheira de Caymmi até o fim da vida.
Itapuã do presente
Transformado pela urbanização e pelos problemas sociais que impactam o território soteropolitano, o bairro tanto espelha a cidade, a exemplo da preservação de manifestações religiosas como a Lavagem de Itapuã, quanto se destaca por características próprias.
“Andar pela praia é ver uma puxada de rede e ainda poder ganhar um pouco de pititinga pra levar pra casa”, ressalta Naiara. Para ela, ainda é possível reconhecer as descrições de Caymmi ao passar uma tarde em Itapuã.
“A puxada de rede (‘Suíte do pescador’) nos primeiros horários da manhã. Sua expertise [dos pescadores] ao conhecer bem o mar (‘O Mar’, ‘Noite de Temporal’, ‘Canção da Partida’). A contemplação da paisagem com as praias é uma fuga para qualquer morador de Salvador (‘Saudades de Itapuã’)”.
No local, partidas de dominó — uma atividade trivial em qualquer lugar — são coisa séria. Há uma associação de jogadores por lá.
O bairro onde funciona uma das unidades do “Acarajé de Cira”, marca criada por uma das principais quituteiras da Bahia, é também o maior dormitório de baianas do Brasil.
Rita Santos, coordenadora nacional da Abam (Associação das Baianas de Acarajé, Mingaus, Receptivos e Similares), explica que o endereço é apontado como residência pelo maior número de profissionais da categoria, ainda que seus postos de trabalho estejam espalhados até por municípios vizinhos.
Outro diferencial: “tem ainda um samba em cada rua”. Ao menos, é o que garante a historiadora e moradora Naiara Natividade que, assim como Caymmi, é apaixonada por Itapuã.
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