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Epidemia de dengue mata 1.500 pessoas no Brasil

Até meados de abril, o Brasil já tinha ultrapassado três milhões de casos de dengue, o triplo em comparação ao total de casos do ano de 2023. Até o início de abril, 1.500 pessoas foram mortas pela doença. Alguns estados chegaram a decretar emergência em saúde pública, com números exorbitantes de casos e sobrecarga do sistema de saúde.

Priscila Voigt | Porto Alegre (RS)


BRASIL – A dengue é uma doença viral, transmitida pela picada do mosquito Aeds aegypti, quando infectados. Trata-se de um inseto doméstico, que vive dentro ou ao redor de domicílios. Normalmente, a primeira manifestação da dengue é a febre alta, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, além de prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos e, em alguns casos, manchas vermelhas na pele, podendo evoluir para uma queda brusca da pressão arterial ou hemorragia, levando a óbito.

Para ser considerada uma epidemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estipula que o coeficiente de incidência deva ser de 300 casos para cada 100 mil habitantes. O Brasil já tem 1.529 casos para cada 100 mil habitantes e concentra 70% de todos os casos da América Latina e do Caribe. Essa é a maior epidemia já registrada no país.

As causas do avanço da dengue 

A epidemia de dengue escancara a falência desse sistema moribundo que é o capitalismo, que, em nome do lucro, destrói o meio ambiente, causando crises climáticas; precariza e privatiza os serviços públicos, privando a classe trabalhadora dos direitos mais elementares, como o saneamento básico, o abastecimento regular de água e o acesso aos serviços de saúde. 

O aumento das temperaturas, chuvas e inundações, gerado pela crise climática, cria as condições propícias para a proliferação do mosquito Aeds Aegypt, acelerando o seu ciclo reprodutivo. Também, a situação de desigualdade social a que o nosso povo está submetido, vivendo em moradias precárias, sem saneamento básico e abastecimento regular de água, faz com que se amplie a transmissão da doença, uma vez que, sem água em quantidade e qualidade adequadas para o consumo diário, a população precisa acumular água nos mais diferentes tipos de reservatórios. 

Uma pesquisa do Instituto Trata Brasil, baseada nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada Anual, produzida entre 2013 e 2022, aponta dados alarmantes. Da totalidade de 74 milhões de moradias brasileiras, quase 9 milhões não possuem acesso à rede geral de água; quase 17 milhões contam com uma frequência insuficiente de recebimento; cerca de 11 milhões não possuem reservatório de água; cerca de 1 milhão não possuem banheiro; e 22 milhões não contam com coleta de esgoto. Uma a cada duas moradias brasileiras convive diariamente com algum tipo de privação no saneamento.

Existem recomendações de cuidados individuais para o combate à dengue, como uso de telas nas janelas e repelentes, remoção de recipientes nos domicílios que possam acumular água e se transformar em criadouros de mosquitos, vedação dos reservatórios e caixas de água, desobstrução de calhas, lajes e ralos. No entanto, com medidas individuais sem medidas efetivas de saúde pública e sem planejamento urbano e ambiental, que garantam o atendimento aos direitos básicos à água potável e ao esgotamento sanitário, só estaremos “enxugando gelo”, como diz o ditado popular.

Além da dengue, existem outras diversas doenças causadas por falta de saneamento básico: diarreia por Escherichia coli, disenteria bacteriana, febre tifoide, cólera, leptospirose, hepatite A, verminoses, giardíase, amebíase, arboviroses (além da dengue, a zika e a chikungunya). Todos os dias, mais de mil crianças com menos de cinco anos de idade morrem no mundo devido a doenças causadas por falta de água potável, saneamento e higiene. Essas mortes poderiam ser evitadas se houvesse políticas públicas eficientes. 

Dessa forma, água e tratamento de esgoto devem ser encarados como direito, e não como mercadoria. No entanto, o que vemos é a privatização das empresas de abastecimento de água e coleta de esgoto, o que tem gerado o aumento da tarifa, queda na qualidade da prestação do serviço e baixa cobertura, a exemplo dos Estados do Rio de Janeiro, Alagoas e Amazonas; sem falar do marco regulatório do saneamento, aprovado no Governo Bolsonaro, que estimula a privatização. Além disso, ao invés de investimento nas áreas sociais, o que acontece, na prática, é o congelamento desses recursos através da política do teto de gastos e do arcabouço fiscal, com a finalidade de garantir o pagamento da dívida pública, transferindo anualmente 46% do Orçamento Federal para os banqueiros. Enquanto isso, míseros 0,0034% do orçamento 2023 foi destinado para saneamento.

De baixo do sistema capitalista, tudo vira mercadoria, a exemplo de direitos básicos e, enquanto essa for a regra que rege nossa vida econômica e social, a dengue, a Covid-19 e outras doenças que seriam de fácil controle, seguirão nos matando. Nossa sobrevivência depende, literalmente, da mudança dessa estrutura e na construção de uma outra sociedade que não degrade a natureza nem explore os seres humanos.

Matéria publicada na edição nº 290 do Jornal A Verdade.

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