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Mãe tem intestino perfurado durante cesariana na ‘maternidade de lona’ e fica em estado grave na UTI, denuncia família


Iris Karla de Lima, de 22 anos, foi deu à luz no dia 11 de abril. Família acusa Secretaria de Saúde de omitir nomes dos profissionais envolvidos na cesariana. Secretaria diz que vai abrir investigação. Iris Karla de Lima Trajano, de 22 anos, está internada em estado grave na UTI após complicações em uma cirurgia cesariana na ‘maternidade de lona’
Arquivo Pessoal
A jovem Iris Karla de Lima, de 22 anos, teve o intestino perfurado durante uma cesariana na “maternidade de lona”, onde funciona a Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, segundo denúncia da família ao g1 nessa quinta-feira (2). Ela está internada em estado grave na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Geral de Roraima.
A cesariana foi feita na maternidade no dia 11 de abril. De acordo com a cunhada de Iris, a técnica em saúde bucal Rosângela Oliveira Lima, de 33 anos, que acompanha o caso, a equipe médica foi negligente com a situação da jovem e até hoje, 22 dias após a cirurgia, a família não sabe os nomes dos médicos e nem de toda equipe de saúde que atendeu Iris Karla na hora do parto.
O marido de Iris, o açougueiro Cláudio Cabral, de 36 anos, agora se desdobra entre cuidar do filho recém-nascido, trabalhar, buscar informações sobre a esposa no HGR e tentar conseguir o prontuário dela na maternidade. “Estou arrasado, com o coração despedaçado com tudo isso”, diz ele.
Denúncia: Mães denunciam xenofobia, mau atendimento e estrutura precária na maior maternidade de Roraima
Depois que teve o filho, Iris ainda ficou internada por sete dias na maternidade porque, segundo o marido, na hora do parto os médicos viram que ela tinha um cisto e retiraram, nisso, o ovário direito dela também saiu. Depois, ela recebeu alto e continuou passando mal em casa.
“[Desde a cesariana] ela nunca mais conseguiu se alimentar, vomitando o tempo todo. Depois que ela foi para casa foi só decaindo de mal a pior. Ela estava com sangramento e chegou sair fezes pela vagina. Foi quando retornou para a maternidade. Ela não foi internada na emergência, quando entrou para o leito, ninguém deu importância nenhuma para ela”, disse a cunhada, que acompanhou Iris na volta à maternidade, dia 25 de abril.
O corte no intestino, segundo Rosângela, só foi descoberto dia 28 de abril, três dias depois que ela retornou à maternidade. Inicialmente, fizeram uma ultrassonografia, mas nada foi detectado. Depois, a jovem foi submetida a um novo exame e o problema foi detectado.
“Ela fez a ultrasson [pela segunda vez] e foi detectado que ela tava com uma fissura na alça do intestino, um corte. Depois, levaram ela de volta para o leito e ela passou o dia inteiro no leito, ninguém foi lá”, contou a cunhada, acrescentando que à noite um médico de plantão foi até ela acionou um cirurgião HGR para avaliar a situação porque não havia especialista disponível na maternidade.
O relato da família de Iris ocorre reportagem do g1 sobre o atendimento que mulheres recebem ao da à luz na “maternidade de lona”, como é conhecido o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, unidade pública em Boa Vista , que atende mulheres de o estado. Mães relataram mau atendimento, falta de informação, estrutura precária e até xenofobia.
Sobre o caso de Iris, a Secretaria estadual de Saúde (Sesau), responsável pela administração da materenidade, disse que “vai abrir procedimento investigatório administrativo para apurar a conduta médica e adotar as medidas de responsabilização.”
Avaliação e transferência de urgência
Com a chegada o cirurgião do HGR, foi avaliado que Iris Karla precisava passar por uma cirurgia de urgência e ela foi transferida da maternidade. “Quando chegamos no HGR ela entrou direto para o centro cirúrgico. Tinha muito, muito, muito pus, eu vi. Ela passou mal durante a cirurgia e tiveram fechá-la às pressas, porque ela caiu a pressão e teve um choque séptico”, contou Rosângela.
Desde que foi transferida da maternidade para o HGR, Iris Karla está sedada e entubada.
“Ela se encontra na UTI, em caso grave. Para eles, era simples. Foi o que falaram, que o caso dela era simples, mas não [conseguiram] resolver. Minha esposa, hoje, se encontra entre a vida e a morte, só Deus sabe se ela vai voltar, tá na mão de Deus. O que eu quero é Justiça, que a as autoridades venham olhar para a saúde, olhar para as pessoas e que eles venham a responder pelos erros que eles cometeram”, desabafou o marido.
Marido só viu filho horas depois do nascimento
Cláudio contou que no dia do parto, no dia 11 de abril, a esposa deu entrada na maternidade por volta de 15h, mas ele foi impedido de acompanhá-la sob a justificativa de que a presença masculina não era permitida na área de parto. Ela teve o bebê às 17h, mas ele só soube à noite, às 21h40.
A unidade não informou ao marido que ela passaria por cesariana e ele só encontrou ela na unidade após ajuda de um maqueiro. “Hoje o bebê está com 21 dias de nascido e mama na mamadeira porque a mãe está internada. Tudo isso é um absurdo, falta de comunicação”, disse o marido de Iris.
A família agora pede que a Secretaria de Saúde entregue a eles o prontuário de Iris para saber, com detalhes, o que aconteceu com a jovem. A administração negou o documento alegando que prontuários só podem ser entregues para a própria paciente. Acontece que desde que chegou ao HGR, Iris está sedada.
“Eles falaram que não entregam, que só entregam para ela. Mas está difícil, porque ela está internada”, pontua a cunhada.
Iris, segundo a família, estava grávida de 9 meses, fez o pré-natal e o cisto encontrado pelos médios na hora da cesariana não havia sido detectado em nenhuma das ultrassonografia que ela fez. A jovem é mãe de outras duas crianças.
A Sesau, em nota, orientou ainda os familiares a formalizarem a reclamação na Ouvidoria da unidade hospitalar.
A secretaria, porém, não respondeu o motivo da direção da maternidade não informar para a família os nomes dos médicos e de toda a equipe de saúde que fizeram a cesariana na jovem, e como a Sesau pretende entregar o prontuário somente para a paciente se ela está internada em estado grave e sedada.
Emergência por onde entram grádivas na ‘maternidade de lona’ em Boa Vista
Caíque Rodrigues/g1 RR
Maternidade de lona
Única maternidade de alta complexidade de Roraima funciona em tendas de lonas
A única no estado com leito neonatal de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para atender casos de complicações de mulheres ou recém-nascidos. Atende pacientes que vivem na região, comunidades indígenas (como do Território Yanomami), da rede privada, e até mesmo de outros países, como dos vizinhos Venezuela e Guiana.
O prédio original está em reforma desde 2021 e acumula uma série de atrasos para a entrega das obras. Embora o contrato de aluguel da estrutura de lona seja até agosto, o novo prazo para entrega das obras está previsto para junho deste ano.
O hospital registrou 17 mortes a cada mil nascimentos em 2023 — alta de 70% em relação ao ano anterior, conforme o Ministério Público de Roraima (MPRR). Em números absolutos, a quantidade de mortes de bebês é a pior dos últimos dez anos no estado. A média nacional é de 12,9 mortes para cada mil nascimentos, e no estado chega a 18,7, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
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