Em 1953, quando Kinsey, um dos precursores na pesquisa e estudos da sexualidade humana, investigou e escreveu sobre o comportamento sexual na mulher, observou-se que aproximadamente 5% das mulheres entrevistadas relataram ter experimentado orgasmo durante o exercício físico.
Nos últimos anos, várias fontes, como revistas, blogs e rede sociais, inclusive citados em meus atendimentos e na plataforma Sexo sem Dúvida, têm descrito orgasmos induzidos por exercícios, muitas vezes chamados de “coreorgasmos”.
No entanto, devido à falta de evidências científicas sobre a relação desses orgasmos com a atividade muscular central, optarei por usar o termo “orgasmo induzido pelo exercício” nesta conversa, conforme utilizado na literatura científica.
Você já gozou academia? É sabido que algumas pessoas já durante o exercício físico, especialmente devido ao estímulo de certos músculos, como os abdominais, pélvicos e das coxas.
Não é tão incomum algumas mulheres relatarem ter orgasmos enquanto fazem exercícios abdominais, ioga, levantamento de peso ou corrida. A causa exata desse fenômeno não é totalmente compreendida, mas pode estar relacionada ao aumento do fluxo sanguíneo nos órgãos genitais durante o exercício.
Uma proporção considerável de mulheres que experimenta o orgasmo durante movimentos físicos que não estão cultural e funcionalmente relacionados ao sexo. Isso sugere que o orgasmo induzido pelo exercício pode nos ensinar algo sobre o corpo feminino, a resposta orgástica e a relação entre orgasmo, sexo, prazer e reprodução.
Por exemplo, esses orgasmos costumam ocorrer na ausência de fantasias ou pensamentos sexualmente excitantes e sem pressão ou fricção clitoriana relacionada à roupa. Portanto, há várias razões para investigar os orgasmos e prazeres induzidos pelo exercício.
O que é a região do core e a relação com o orgasmo?
O termo “Coreorgasmo” se originou da associação de certos grupos musculares pélvicos, que compõem o que é conhecido os chamados centrais.
Estes grupos musculares centrais, que incluem em torno do ânus e a vagina, formam um complexo neuromuscular único, muitas vezes ativado por exercícios como abdominais e flexões.
O ”core ” refere-se aos músculos do tronco e da pelve que são essenciais para a estabilidade e postura da parte superior do corpo.
Além disso, o exercício está associado a uma maior sensação de bem-estar e satisfação com a vida, assim como a uma maior consciência corporal.
A força muscular do assoalho pélvico, em particular, tem sido correlacionada com a qualidade e frequência. E, ainda, libera neurotransmissores, como a endorfina, que vão aumentando a sensação de prazer. Prestar atenção às respostas do corpo é um caminho de autoconhecimento importante para a vida sexual.
Os orgasmos que ocorrem fora de contextos explicitamente “sexuais” receberam, até então, menos atenção na pesquisa sobre sexualidade feminina.
Há relatos de mulheres experimentado a sensação durante exercícios abdominais, prática de ioga e ciclismo/spining e até mesmo durante o levantamento de peso.
Essas experiências mostram que mulheres podem alcançar o clímax independentemente da excitação sexual ou estimulação sexual. Isso desafia a ideia convencional de que gozar é uma experiência unicamente sexual.
Esses achados levantam a questão: será que o sexo é o único ambiente “natural” para o prazer das mulheres? Estamos preparadas para discutir esse aspecto da sexualidade feminina?
Todos os dias, mulheres experimentam o ápice – em sonhos, através de fantasias, durante masturbação, em relações sexuais com suas parcerias e, também, em exercícios físicos.
Como o estudo da sexualidade feminina, incluindo o orgasmo e o squirting (essa conversa virá depois), foi predominantemente conduzido por homens, e muitas vezes sob uma ótica misógina, e também pela medicina sexual patologizante que não valoriza o prazer feminino, este tema oferece às mulheres a oportunidade de reescreverem suas próprias narrativas.
Por fim, é importante lembrar que a pressão para alcançar o orgasmo é muitas vezes o maior obstáculo para atingi-lo. Saiba que a atividade física pode ser uma via para o prazer, mas não deve ser vista como uma obrigação ou uma meta a ser alcançada. Aproveite seu treino!