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Planárias não são parasitas e exercem papel importante no controle populacional de invertebrados


São mais de 2 mil espécies descritas no mundo, mas cientistas acreditam que esse número seja muito maior. Área carece de estudos em muitas regiões. As planárias são animais de vida livre que ocorrem em todos os continentes
P. S. Sivaprasad/iNaturalist
De corpo simples e achatado, as planárias são platelmintos de vida livre e não parasitas, como muitos pensam. Ainda pouco estudados, esses animais estão espalhados ao redor do mundo e podem viver tanto em ambientes aquáticos quanto terrestres.
“Considerando todos os tipos de planárias, o número de espécies descritas deve ser de cerca de 2 mil, das quais metade são planárias terrestres e o restante aquáticas (marinhas ou de água doce), mas esse número está muito longe do real, já que muitas regiões do mundo nunca foram estudadas”, explica o biólogo do Museu de Zoologia da Usp Piter Kehoma Boll, que estuda o grupo.
De acordo com ele, no Brasil, são cerca de 300 espécies de planárias descritas no momento, quase todas da Mata Atlântica, entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Su. Do restante do país, não se conhece praticamente nada sobre esses seres ainda e a diversidade deve ser bem maior.
Piter explica ainda que não há risco em manipular os animais com as mãos, o potencial perigo aos humanos só ocorre se forem ingeridas.
A boca das planárias fica no ventre
Thirty Legs/iNaturalist
Um boca, nenhum ânus
Uma curiosidade é que, apesar de possuírem simetria bilateral, a boca das planárias não fica na cabeça como na maioria dos animais, mas sim no ventre, mais ou menos na metade do comprimento do corpo.
Piter esclarece que para se alimentar elas usam uma faringe tubular que sai pela boca como um tipo de tromba, e é usada para sugar o alimento. “Elas podem usar a faringe para triturar o alimento e sugá-lo em pedaços pequenos ou para despejar líquidos digestivos na superfície ou no interior da presa e depois sugar o alimento parcialmente digerido”.
O alimento então é distribuído pelo corpo todo através de um intestino bastante ramificado. Como não há sistema circulatório, o próprio intestino desempenha a função de levar os nutrientes até os tecidos.
Além disso, como planárias não possuem ânus, os restos não aproveitados dos alimentos são excretados de novo pela boca.
“É por isso que elas costumam se alimentar de novo apenas depois de terem eliminado os restos da refeição anterior. Elas não podem comer a cada poucas horas, como um animal que tenha boca e ânus separadamente”, diz o especialista que agora estuda mais especificamente as planárias amazônicas.
Há dois tipos de planárias: as que se reproduzem de forma sexuada e as que o fazem assexuadamente
GETTY
Dieta e reprodução
Mas o que elas comem? Segundo o pesquisador, a maioria das planárias são carnívoras, mas há também as carniceiras. Estas geralmente predam outros invertebrados como minhocas, lesmas, caracóis, crustáceos, aracnídeos e insetos.
“Elas são alguns dos principais predadores de invertebrados, então são importantes para manter a população desses animais sob controle”, ressalta o biólogo.
Em relação a reprodução há duas possibilidades: sexuada, que é mais comum, e a assexuada que ocorre geralmente através da divisão do próprio corpo.
Aquáticas e terrestres
A Europa possui a maior riqueza de linhagens diferentes de planárias aquáticas, com poucas espécies terrestres nativas. Enquanto isso, a América do Sul, a Austrália e a Ásia apresentam uma variedade de planárias terrestres, sendo as aquáticas menos comuns.
“A América do Norte é pobre em espécies no geral, tendo poucas aquáticas e pouquíssimas terrestres nativas”, diz. Ainda não se sabe o tamanho da diversidade de planárias na África, continente com menos estudos sobre o assunto até o momento.
Pequenas, geralmente não ultrapassando os 2 cm de comprimento, as planárias aquáticas vivem em meio a pedras ou em vegetações submersas em lagos, rios ou mar e não são coloridas, variando entre tons escuros de marrom, cinza e preto.
“Também existem muitas espécies adaptadas a ambientes aquáticos em cavernas, e nesses casos elas costumam ser totalmente brancas e muitas vezes sem olhos”, explica Piter.
As planárias podem viver tanto em ambientes aquáticos quanto terrestres
Greg Bellion/iNaturalist
Já as planárias terrestres ocorrem no solo de florestas ou em regiões mais úmidas, sobre as árvores. São muito sensíveis à mudanças bruscas de temperatura ou umidade, então a presença de uma grande diversidade de espécies num local costuma indicar que ele é bem preservado.
As terrestres variam de 1 cm até 1 m de comprimento. A diversidade de formas, cores e tamanhos é bem maior em planárias terrestres que aquáticas, já que muitas são bem coloridas. “Não se sabe ainda a razão de serem tão coloridas, mas uma hipótese é que seja um sinal de alerta para possíveis predadores, como aves, de que elas são tóxicas”, cita.
Espécies invasoras
Mesmo sendo inofensivas aos humanos, as planárias podem causar prejuízos quando introduzidas em diferentes locais e ameaçar espécies nativas que sirvam de alimento para elas.
A planária cabeça-de-martelo pode medir 60 centímetros
Pintsen JIN/iNaturalist
“Apesar de a Europa ter poucas espécies de planárias terrestres nativas, ela sofre muito com a invasão de planárias terrestres de outras partes do mundo. Essas espécies chegam lá geralmente através do comércio de plantas ornamentais”, explica Piter.
“Como as planárias terrestres vivem na superfície do solo, acabam sendo levadas junto com as plantas, escondidas nos vasos. Diversas espécies da Ásia, Austrália e Nova Zelândia foram introduzidas na Europa e muitas se tornaram ameaças sérias às populações de espécies nativas, especialmente minhocas”, acrescenta.
Além disso, segundo o pesquisador, nos últimos dez anos uma espécie nativa do sul do Brasil, Obama nungara, também se tornou invasora na Europa. Essa é a primeira espécie de planária sul-americana a se tornar invasora em outras partes do mundo. Ela se alimenta principalmente de minhocas.
‘Obama nungara’ é uma espécie de planária invasora que vem ameaçando minhocas nativas da Europa
José Soares Teixeira
No Brasil, a espécie invasora mais comum é Bipalium kewense, uma planária com cabeça em forma de martelo ou meia-lua que é nativa da Ásia.
“Frequentemente eu vejo notícias alarmistas sobre esses animais, que eles são perigosos e tóxicos e que devem ser exterminados. Apesar de serem realmente invasoras, não são uma ameaça tão grande aos ecossistemas quanto outras espécies, então não é necessário se alarmar ao encontrar uma no jardim. É só não comer uma que tudo vai ficar bem”, finaliza.
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