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“Gargalo de talentos” e reforma tributária: os desafios do ecossistema de inovação em SC

Prestes a deixar a presidência da ACATE, o empresário Iomani Engelmann faz balanço dos quatro anos liderando a entidade – em meio à pandemia e o “inverno das startups” – e sugere caminhos para o desenvolvimento do setor. / Foto: Divulgação (ACATE)


[FLORIANÓPOLIS, 08.05.2024]

Por Fabrício Umpierres, editor SC Inova – [email protected] 

Após um período de quatro anos, o empreendedor, investidor-anjo e cofundador da healthtech Pixeon, Iomani Engelmann, deixará no próximo dia 1º  de junho a presidência da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE). Nesta terça (07), a entidade elegeu a diretoria para a gestão 2024-2026, que terá à frente o atual Vice-Presidente de Relacionamento, Diego Brites Ramos (leia mais aqui). 

Prestes a passar o cargo, Iomani conversou com o SC Inova para fazer um balanço de sua gestão, que coincidiu com um dos períodos mais conturbados das últimas décadas, em função da pandemia e do “inverno das startups”, que reduziu brutalmente o volume de investimentos em inovação e tecnologia no mundo todo. 

Por outro lado, ele ressalta que o período foi muito positivo para a entidade, especialmente com o aumento de 70% no número de empresas associadas (eram 1000 em 2020 e são mais de 1.700 em 2024) e a consolidação das iniciativas de estadualização da entidade e de programas como a MIDITEC, que se tornou uma rede com 10 incubadoras credenciadas em várias regiões de Santa Catarina. 

Ainda que os avanços tenham sido significativos, os desafios permanecem para o mercado catarinense de tecnologia, especialmente em relação à visibilidade externa do ecossistema, atração de capital e formação de talentos, considerada a principal trava para o desenvolvimento das empresas de TI – ao lado das incertezas em função da reforma tributária, que pode “dizimar o setor no país a longo prazo”. Confira em detalhes na entrevista:

SC INOVA – Quando iniciou sua gestão, entre as prioridades estavam a consolidação da presença da entidade pelo estado e a formação de mão de obra para o setor. Como você avalia o trabalho da entidade nesse período da sua presidência?

IOMANI ENGELMANN – A estadualização da ACATE não é uma missão cumprida, mas evoluiu bastante – hoje temos 1700 associados e 42% deles são de fora da Grande Florianópolis, que foi historicamente a base da entidade. Isso se deve ao engajamento e à distribuição de programas pelo estado, como a criação da Rede MIDITEC, que integra 10 incubadoras, a criação de fundo de crédito estadualizado e de incentivos financeiros para os polos em função do grau de maturidade de projetos e a padronização da governança dos polos. 

Mas isso precisa ser continuado, pois o que preocupa é a sustentabilidade financeira dos polos, algo que já estava na agenda da gestão anterior. Outro desafio nesse sentido é a oxigenação das lideranças – entre as iniciativas que estou deixando para as próximas gestões é um plano de 100 dias, envolvendo ações para fazer logo no começo, um onboarding, e um plano de sucessão, envolvendo os pontos de atenção, os riscos e as “cascas de banana” etc. É muito importante para as lideranças saberem como entrar e sair de cena. 

Nos preocupa a sustentabilidade financeira dos polos e a oxigenação das lideranças

Em relação à formação de mão de obra, fizemos a “fase 1”, que é a conscienização dos stakeholders, em toda a cadeia. A tecnologia hoje é algo transversal, todos precisam de profissionais deste mercado. Os números são relevantes: 35 mil pessoas foram impactadas por programas da ACATE neste período. É uma escala: começamos atendendo 10 mil pessoas num primeiro ano, já ampliamos mas é preciso atingir mais de 100 mil pessoas para gerar um efeito de transformação social. 

A demanda por talentos pode ter diminuído no curto prazo, mas o “inverno das startups” é momentâneo, o setor de tecnologia passou por um hype muito grande, mas globalmente ainda são as empresas de TI que impulsionam a geração de empregos. Isso porque o uso de inteligência artificial para tecnologia será intenso, especialmente em setores como agricultura, construção civil e saúde. 

Para o Brasil é uma oportunidade. Pegue o exemplo da Índia, um case de investimentos na formação de alunos em matemática: o foco deles é outro, no outsourcing, mas para o Brasil pode ser um caminho.

“O mundo vive uma nova realidade, com a necessidade de formação de cadeias de suprimento mais seguras, então a internacionalização é uma necessidade para negócios B2B”. / Foto: Divulgação

SC INOVA – E quanto à perspectiva de internacionalização das empresas locais? Que caminho o estado precisa percorrer para ser visto de maneira mais relevante fora do país?

IOMANI ENGELMANN – Para sair da bolha, é preciso tem que ter um grande evento, que coloque holofotes em Santa Catarina. O Startup Summit, que começou em 2018 e hoje recebe mais de 10 mil pessoas, é o pilar da estratégia de projeção internacional, para credenciar o ecossistema de SC para quando estivermos competindo em outras geografias. 

O segundo aspecto é a atração de investimento. E para isso é preciso mudar o modelo mental do empreendedor de Santa Catarina. Se nossa vocação é o mercado B2B (corporativo), os problemas do B2B são globais e tem que pensar nesse mercado mais amplo. É preciso pensar na solução de um problema não apenas pro mercado brasileiro, fazer mais benchmarking internacional para atrair investimentos. Hoje quando se fala em Brasil, o caminho natural do dinheiro é São Paulo. Foi muito importante o evento em SP no qual o governo catarinense apresentou as oportunidades no estado – e o setor de tecnologia é altamente relevante neste cenário. Os fundos locais também precisam de continuidade de capital. 

Nosso ecossistema está bem posicionado em termos de maturidade de empreendedores, mão de obra competitiva, podemos liderar em algumas áreas como transição energética – com verticais de energia e agronegócios. O mundo vive uma nova realidade, com a necessidade de formação de cadeias de suprimento mais seguras, então a internacionalização é uma necessidade para negócios B2B.

“Para SC sair da bolha, é preciso um grande evento – e o Startup Summit é o centro dessa estratégia – e mudar o modelo mental do empreendedor para ser global”

SC INOVA – Com relação à relação com governos e a questão da reforma tributária: o mercado de tecnologia está sob risco com a nova legislação?

IOMANI ENGELMANN – Estamos muito satisfeitos por termos hoje uma Secretaria Estadual de Inovação, e Santa Catarina pode promover o protagonismo da tecnologia ao ponto de inspirar também o governo federal. Queremos levar o relacionamento com os entes, todos eles, a outro patamar. 

Tivemos um papel importante em Santa Catarina nos debates sobre a reforma tributária no ano passado. Mas ela traz um risco, se tiver o maior IVA do mundo (imposto de valor agregado, tarifa única proposta na nova lei), de acabar “convidando” empresas a ir para outros países. É preciso ter claro as políticas de capital humano, saber se o IVA vai gerar crédito ou não – tenho minhas dúvidas, e por questões técnicas – pois isso pode a longo prazo dizimar o setor no país.  

No mundo, a questão tributária pode fazer toda a diferença – é só ver por exemplo nos Estados Unidos, que cada estado tem sua legislação própria no tema, como o Texas e a Flórida estão atraindo capital por ter uma política mais favorável ao empreendedor. 

De maneira geral, vejo oportunidades para o Brasil, por essa questão de transição energética e segurança alimentar, o que pode trazer muitos recursos. Mas as grandes ameaças são o gargalo de mão de obra e a reforma tributária, sem dúvida.

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