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Mesmo com cheia, muitos moradores de cidades gaúchas atingidas permanecem em casa

Em São Leopoldo (RS), o Jornal Nacional conversou com o barqueiro João, que percorre as ruas que viraram rio salvando amigos, vizinhos e desconhecidos. Mesmo com cheia, muitos moradores de cidades gaúchas atingidas permanecem em casa
Mesmo com a cheia, muitos moradores de cidades atingidas se recusam a sair de casa.
Sabor gaúcho na panela, o arroz carreteiro está pronto. Hora de almoçar tranquilamente ao som do rádio. Quem vê essa cena comum, em uma casa como tantas outras, nem pode imaginar a paisagem que se vê da varanda.
O servente Lauro José da Silvaé uma das muitas pessoas que não quiseram ser resgatadas depois da inundação.
“Eu não, enquanto tiver água [não vou sair]. Só se tiver pegando nos meus pés, daí eu largo”, diz ele.
O tempo passa e a água baixa lentamente. E, assim, lá se vão seis dias com a vida confinada no andar de cima. A resistência é o ponto comum entre tantas histórias de pessoas que só vão sair de casa no dia em que puderem sair a pé.
Agora nós vamos entrar na casa do metalúrgico Josimar dos Reis.
“Eu estou vivendo aqui. Saio daqui só algumas vezes para pegar mantimento e voltar para cá novamente. O que eu estou comendo é pão e um pouco de água. Então, no caso, eu trago alimento e fico aqui e vou comendo isso mesmo. A minha cama são essas quatro cadeiras, que é o que eu tenho hoje para deitar e dormir”, relata Josimar.
Viver confinado, sem água e sem luz, recebendo comida de quem passa, muitas vezes não é escolha, é pura preocupação.
“Tem que ficar aqui para cuidar da casa. Infelizmente, as pessoas estão tentando assaltar as casas mesmo em meio a essa situação”, conta Josimar.
A maioria dos que ficam quer proteger a casa. Mas nas ruas alagadas de São Leopoldo encontramos um caso raro de alguém que ficou por outro motivo.
“Tenho bastante gatos. Não queria deixar eles aí, alguns ainda são filhotes. Os mais velhos, tem até alguns presos aí atrás, mas os filhotes não tem como se defender. Aí eu fiquei”, comenta o autônomo Leonardo Azevedo.
Quando se abrigou no andar de cima, Leonardo só tinha a própria vida e as outras nove para cuidar. Nem um litro d’água, nem um grão de arroz, nenhuma ração.
Todos os moradores da casa sobrevivem graças à generosidade de quem passa. O barqueiro João “Velho do Rio” conhece as águas do Rio dos Sinos há mais de 60 anos. E não é porque elas transbordaram que ele deixa de navegar. É o piloto do nosso barco e logo ficamos sabendo com quem estamos: “Maior herói dessas cheias esse rapaz”, relata um homem apontando para João.
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Desde as primeiras horas depois do temporal, João percorreu as ruas que viraram rio salvando amigos, vizinhos e desconhecidos. João é um símbolo do esforço de tantos outros. Desde o início da enchente, mais de 6 mil pessoas foram resgatadas só em São Leopoldo.
A equipe do Jornal Nacional estava passando por uma rua em São Leopoldo quando o João, nosso piloto que está salvando tanta gente, apontou para o lado e disse: “Essa é a minha casa”. Assim está a casa do João.
“Estou firma, fé em Deus, para recomeçar novamente. [Deixei] tudo para trás, mas Deus é bom, a gente busca de novo”, diz João.
Passar o dia vendo barcos em vez de carros, rios em vez de ruas provoca uma mistura de monotonia e ansiedade. E essa nem é a angústia maior. Quem vive no segundo andar consegue enxergar o passado. E esse sentimento é difícil demais.
“É o que eu vejo muitas das vezes os carros passando lá em cima, na parte mais alta da cidade, as luzinhas na parte da noite dos apartamentos acesas. Eu fico me lembrando daquela vida que a gente tinha aqui anteriormente”, comenta Josimar.
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