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Dia das Mães: quando as filhas se tornam mães de suas mães; ‘cuido dela como ela um dia cuidou de mim’


A psicóloga Macela Tenório destaca que manter os “papéis” em seus lugares evita maiores sofrimentos e que uma forma de fazer isso é manter as mamães, ainda que bastante idosas ou adoecidas, com o máximo de autonomia e direito de escolhas dentro desta relação de cuidado que se inverte. A inversão das funções de cuidado quando as mães envelhecem acaba sendo natural na maioria das famílias. Em geral, as filhas acabam assumindo a responsabilidade de se tornar “mães de suas mães” e esse cuidado, feito com profundo amor e doação, pode acontecer de forma mais leve com os papéis não se invertendo totalmente.
Sozinhas ou ao lado de outros familiares, essa função em geral é exercida por mulheres da família e pode ser exaustivo, tanto fisicamente quando psicologicamente.
A psicóloga Macela Tenório diz que a principal orientação é tentar manter os “papéis”, garantindo o máximo de autonomia às mamães que agora precisam mais de cuidados.
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Neste Dia das Mães, o g1 conta a história de Regina Marreiros e Maria Gorete Cardeal, filhas, mulheres e mães que assumiram, de certa forma, o papel de cuidadoras e “mães” de suas mães. Para elas, a função é de retribuição de amor e cuidado com paciência e sabedoria.
‘Não há obrigação, há amor’
Maria Gorete Cardeal, de 52 anos, filha de Conceição e Francisco Cardeal, é um exemplo de amor e dedicação familiar. Muito rapidamente, Maria Gorete assumiu o papel de cuidadora de seus pais, proporcionando todo o carinho e atenção necessários em meio a obstáculos emocionais e físicos.
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“Tudo aconteceu muito rápido, e de repente me vi ‘mãe’ dos meus pais”, compartilha Maria Gorete. A missão começou com seu pai, que, devido ao Alzheimer e uma pneumonia, rapidamente ficou comprometido física e cognitivamente, ficando totalmente dependente de cuidados. Três meses depois dos diagnósticos, ele faleceu.
Logo em seguida, foi a vez de sua mãe, atualmente com 90 anos e que apresenta um quadro de demência, Alzheimer e hidrocefalia, que prejudica sua locomoção e motricidade. Apesar dos desafios, Maria Gorete encara a responsabilidade com amor e dedicação.
“Cuido dela como ela um dia cuidou de mim, com zelo, carinho, proteção e muito amor”, afirma emocionada.
Para Maria Gorete, cuidar de seus pais não é uma obrigação, mas sim uma expressão genuína, acima de tudo, de amor gratidão.
“Não existem sacrifícios, existe amor. Não existem obrigações, existe amor”, ressalta. Apesar das limitações de comunicação de sua mãe, que atualmente já não fala, Maria Gorete encontra conforto na troca de olhares e nos gestos de carinho compartilhados entre elas.
Sua mãe continua sendo sua fonte de inspiração e motivação. “Ela é minha força, minha motivação, meu exemplo de coragem e de vida”, revela Maria Gorete, emocionada. A cada dia, ela agradece a Deus pela oportunidade de retribuir todo o amor e cuidado que recebeu ao longo de sua vida, dedicando-se inteiramente ao bem-estar de sua mãe.
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“Cuidar com sabedoria”
Regina Marreiros (de amarelo), aos 65 anos, divide as irmãs os cuidados de dona Benedita Almeida, hoje com 97 anos.
Arquivo pessoal
A palavra de ordem de Regina Marreiros é “sabedoria” nesta relativa inversão de papeis. Aos 65 anos, ela divide com outras cinco irmãs os cuidados de dona Benedita Almeida, hoje com 97 anos. Sua mãe é bastante ativa, mas já não mantém a autonomia da juventude, o que requer paciência.
Ela diz que a sabedoria é necessária para não tirar de sua mãe todo o poder de decisão, já que ela continua querendo e podendo fazer suas próprias escolhas no dia a dia.
“Esse cuidado vai depender das necessidades dela. Ela quem vai dizer que cuidado ela precisa, até porque ela se sente com muita autonomia ainda. Tem lucidez, tem uma certa independência. A gente ajuda no que ela quer, ela gosta de ser independente. Cuidar de um idoso é quase como cuidar de uma criança. Tem que ter paciência para compreender o que eles querem e o que pode ser feito”, conta Regina.
Dona Benedita Almeida
Arquivo pessoal
“É um trabalho, tem que ter paciência, porque o idoso tem as manias dele, a maneira dele pensar, tem que ter sabedoria para ele não se sentir mal, não sentir que está dando trabalho. A minha mãe não gosta, porque ela sempre teve muita autonomia e às vezes deixa de pedir algo para não incomodar”, completa.
Duas das irmãs de Regina moram com a mãe, mas as demais filhas se organizam de forma que todos os dias alguma delas esteja exclusivamente dedicada ao cuidado da mãe. A rotina é assim há cerca de 10 anos, desde que Benedita teve que colocar um marca-passo.
A rotina inclui desde dar os remédios necessários, preparar as refeições e ajudar no banho até levar para passeios, o que ela gosta muito. Hoje, estão vivas as seis irmãs, mas dona Benedita cuidou de nove filhos enquanto trabalhava fora. Toda a rotina, para as filhas, é de amor e retribuição de carinho e dedicação.
Dona Benedita Almeida (ao centro) e quatro de duas filhas.
Arquivo pessoal
“Não é sacrifício, a gente faz com carinho e dedicação porque a gente sabe o quanto eles cuidaram da gente. É uma forma de demonstrar o amor, agradecimento. Principalmente minha mãe que teve nove filhos, sempre trabalhou, nada mais justo que a gente cuide dela”, avalia.
“Como mãe, a gente já tem o sentimento de cuidado e são valores que a gente repassa aos filhos do quanto é importante o cuidado com os idosos”, diz Regina.
“Mãe precisa continuar sendo mãe”
Macela Tenório é psicóloga e diz que é bastante comum encontrar pacientes em realidades como essa, em que as filhas viram mães de suas mães. Ela destaca ainda o protagonismo feminino nesse cuidado, realidade experimentada em todo o mundo.
Esta inversão de papéis absoluta, conforme Macela, pode ser fator gerador de sofrimento mental para ambos os lados, mas é possível amenizar os impactos com atenção a alguns aspectos nessa relação de cuidado.
Macela Tenório é psicóloga e diz que é bastante comum encontrar pacientes em realidades como essa, em que as filhas viram mães de suas mães.
Arquivo pessoal
“As filhas acabam por fazer uma inversão de papéis consciente ou não. Assim passam a se comportar como mãe da sua mãe. O cuidador por vezes passa a negligenciar a si próprio – vida pessoal, convívio social, autoestima e saúde – em detrimento desse cuidado”, diz a profissional.
“Já o ser cuidado, no caso a mãe, quando retirada desse papel, passa a sofrer não só com os acometimentos físicos (quando for o caso), mas também pela perda de autonomia. Sem se dar conta, às vezes os filhos cuidadores retiram desse idoso o direito de escolha até sobre uma peça de roupa, ou não os permitem participar das decisões sobre sua própria vida, por exemplo a escolha de uma atividade física”, explica.
Como minimizar os efeitos dessa troca de funções? Ela diz que é importante que o filho se mantenha filho e a mãe, por mais que agora precise de cuidados, ainda é a mãe e é fundamental que se sinta assim.
“Quanto maior autonomia for possível fornecer a esse idoso, menos dependente ele se tornará, menores serão os impactos cognitivos que por si só já são comuns na velhice. Os cuidadores também precisam se lembrar de que mesmo idosa a mãe segue sendo mãe, e que pedir colo, compartilhar angústias e dividir momentos, segue sendo possível na maioria dos casos”, diz.
Ela fala ainda de como é importante se preparar para esse momento de envelhecimento que, embora possa ser sofrido para muitas famílias, é natural.
“Precisamos nos lembrar que isso faz parte do ciclo da vida, aceitar com normalidade e retribuir o cuidado que um dia lhe foi ofertado faz toda diferença na qualidade da relação”, orienta.
*Estagiária sob supervisão
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