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“Você escolhe ser comunidade em contramão a uma sociedade do indivíduo e do capital”, diz pesquisadora da Jurema

Numa época em que o acesso à educação e serviços de saúde era ainda mais restrito, foram as tradições dos povos originários, junto à cultura de outros tantos excluídos, que garantiram a segurança alimentar e saúde da população mais pobre do Brasil. É o que explica a sacerdotisa e especialista em cultura afro-ameríndia, Mãe Ritinha, entrevistada do Balbúrdia desta quarta (14).

A capitania do Rio Grande foi a última a ser ocupada, colonizada, o que permitiu a tradição dos povos indígenas fosse mantida no estado. A Jurema Sagrada é a primeira religião brasileira e originária. Ela está no Catimbó, na Pajelança, nos Encantados, nos povos tradicionais indígenas e nos demais povos da floresta”, explica Mãe Ritinha, que também é mestre em Ciências Sociais.

A pesquisadora, que é da comunidade tradicional do Lajedo de Soledade, que une as populações negra e indígena, revela que o tema ainda era pouco explorado pela universidade.

Não tinha a visão do que era o mundo acadêmico e digo que o que me salvou foram os movimentos sociais. Eu sou a 1ª pessoa a ter nível superior na minha família. Vim para Natal, fiz a seleção do mestrado e fiquei pela minha nota. Não havia um espaço de orientação… não tinha bolsa, fiz fazendo artesanato na praia. Não havia um debate amplo sobre as religiões tradicionais, a visão que a academia na época tinha, era a mesma do senso comum. Depois que conclui minha dissertação passei mais de um ano esperando que o professor marcasse a banca, porque ele achava que o tema não era importante. Que eu estava desperdiçando meu talento estudando populações negras e indígenas. E eu estou falando isso por que dediquei mais de 20 anos da minha vida para que as populações de matriz africana e indígena entendessem que tínhamos que ocupar esse espaço”, relata Mãe Ritinha.

Apesar das tentativas de apagamento cultural, essas tradições seguem vivas não apenas enquanto religião, mas nas práticas e costumes cotidianos que, muitas vezes, são renegados pelo preconceito.

No Rio Grande do Norte ela se manteve durante muito tempo, por mais de um século, como a única referência de tratamento de saúde, da questão da segurança alimentar e de diversos outros aspectos da vida das populações excluídas. A Jurema Sagrada cultua a nossa ancestralidade. No Rio Grande do Norte nós temos uma rede muito complexa de ritos em torno da Jurema Sagrada, que vai se manter como um dos elos de resistência dos demais povos excluídos, então, outros vão entrar nesse ritual indígena, como os povos ciganos, os mouros, as populações excluídas europeias”, acrescenta.

O RN não tem indígenas?

“O Rio Grande do Norte tem indígenas, sempre foi um estado de cablocos. Mas, o que acontece é que depois de 100 anos de extermínio as populações se reduziram, se acuaram, têm um sério problema de reconhecimento, ainda é muito fragilizada a política para os povos tradicionais aqui no RN e esses povos mantêm suas tradições. Aqui no RN a Jurema Sagrada é um ritual tipicamente do Sertão e que vem para as zonas urbanas. As pessoas podem se perguntar: mas o que é a Jurema Sagrada, eu conheço? Olha, todo mundo conhece os rezadores e rezadeiras, os curandeiros, os mangaieiros… tudo isso é Jurema Sagrada, nossas ervas, nossos chás, garrafadas, nossos ritos, a chegança, o pastoril, o zambê. Todas essas tradições vêm da Jurema Sagrada e de tosos esses outros povos que vão chegando, com as introduções dos africanos, mouros e outros mais”, defende a pesquisadora da cultura afro-ameríndia.

A culinária

Temos uma culinária riquíssima… é tão interessante a intolerância né, mas todo mundo todo mundo adora uma buchada, uma feijoada, o feijão farofado, a galinha caipira. Todos esses pratos vêm dos povos tradicionais e de suas formas de sobrevivência. A Jurema é uma filosofia sobre si e sobre o mundo. Você escolhe ser comunidade, ser aldeia, em contramão a uma sociedade do indivíduo e do capital. É a reconstrução da aldeia e todas as suas formas de vida, e sua relação com a natureza”, exalta Mãe Ritinha.

Veja a entrevista completa:

(77) Intolerância religiosa no RN: entrevista com Mãe Ritinha, mestra em Ciências Sociais – YouTube

 

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